Revista Encontro

ESPECIAL

Mineiros do Ano 2019 | Guilhermina Abreu

Para estimular o empreendedorismo em alunos da rede pública, a jovem reuniu, na maior sala de aula aberta do Brasil, 10 mil estudantes no Mineirão

Daniela Costa
Guilhermina Abreu, fundadora do Crie o Impossível, busca estimular alunos da rede pública: "O objetivo principal era que eles deixassem de ser vistos como o problema e começassem a se ver como a solução" - Foto: Violeta Andrada/Encontro
Ela é daquelas jovens antenadas e destemidas. Mas, acima de tudo, nunca assumiu o papel de vítima. Pelo contrário. Escolheu ser protagonista da própria história. Filha de pai e mãe surdos, a empreendedora social Guilhermina Abreu, de 26 anos, aprendeu dentro de casa que ser diferente é coisa normal. Suas primeiras palavras foram "tô com fome", ditas em Libras, a língua brasileira de sinais. Filha do meio (ao todo são três irmãos), cresceu ciente de que o acesso ao ensino de qualidade é transformador. "Meu pai só pisou na escola depois dos 10 anos de idade.
Antes disso, vivia na roça com o meu avô que acreditava que, por ser surdo, ele nunca poderia estudar", conta Guilhermina.

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Perfil:

Guilhermina Abreu, 26 anos
  • Nasceu em Belo Horizonte

  • Solteira

  • Fez curso técnico em Administração com ênfase em Gestão de Negócios no Sebrae. É formada em Direito pelo Ibmec

  • Fundadora da ONG Embaixadores da Educação
Tanto podia que, em pouco tempo, ele recuperou o atraso escolar. Aos 18 anos, conseguiu bolsa de estudos na Gallaudet University, em Washington (EUA), especializada na educação de pessoas surdas. Anos depois, Antônio Campos de Abreu fala oito línguas de sinais, é fundador da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis) e líder do grupo que sistematizou a Libras no Brasil. O exemplo, como se vê, vem de berço. Ainda menina, Guilhermina descobriu a ineficiência do ensino público. Aos 8 anos, migrou da escola particular para a gratuita. "Foi um choque!" Ao terminar o ensino médio, seu único pensamento era fugir da mesmice e fazer a diferença.

Em 2001, conseguiu bolsa de estudos para participar de um importante projeto social estadual: o PlugMinas. No espaço onde antes funcionava uma unidade da extinta Febem, nasceu um polo de arte, cultura e educação. E nos pavilhões onde antes só havia sofrimento, surgiram núcleos de formação para jovens de escolas públicas. Entre eles o de Empreendedorismo Juvenil do Sebrae. "Foi lá que eu encontrei a educação que procurava. Acabou sendo um divisor de águas." O método de ensino desafiador trouxe outra perspectiva à estudante.
"O Plug Minas tinha uma visão empreendedora, nos impulsionando a ir mais longe."

O projeto acabou, mas o aprendizado ficou e criou raízes. Os alunos descobriram que poderiam ser agentes transformadores na sociedade. Do desejo de onze jovens de compartilhar o conhecimento que tinham adquirido no curso técnico nasceu o Embaixadores da Educação. A ideia era levar uma jornada cheia de desafios a alunos de escolas públicas. "O objetivo principal era que eles deixassem de ser vistos como o problema e começassem a se ver como solução", diz Guilhermina. Em 2017 o coletivo se oficializou como ONG. Em 2018, na comemoração de cinco anos de vida, os cinco fundadores restantes decidiram fazer um evento diferente. A proposta era reunir palestrantes para contar histórias transformadoras, que motivassem os alunos a se tornar empreendedores.

Nascia o Crie o Impossível. No peito e na raça, o evento, realizado no Mineirão, reuniu 4 mil pessoas em sua primeira edição. "A expectativa inicial era fazer uma apresentação pequena, para no máximo 100 pessoas", diz a jovem.
Os alunos que participaram concorreram a 300 bolsas para a escola do Sebrae, além de vagas em faculdades e para intercâmbio no Canadá. "Criamos um grande portal de oportunidades", diz. A segunda edição foi realizada este ano, com público quase triplicado. Mais de 10 mil jovens participaram da maior sala de aula aberta do Brasil. Sem medo de arriscar, o Embaixadores da Educação quer ir além. Em 2020, se prepara para reunir 40 mil alunos da rede pública. Melhor não duvidar da força e energia desta jovem empreendedora social.
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