Quando chegou ao Sesc Palladium, onde concederia entrevista a Encontro, Rodrigo Toffolo, regente e diretor artístico da Orquestra de Ouro Preto, estava com um semblante sério e um pouco abatido. Participou da sessão de fotos para este perfil e, em seguida, "desabou" sobre uma das poltronas da sala de cinema do centro cultural. "Cara, não repara não, mas estou saindo de uma internação hospitalar", afirmou. "Acho que vou conversar com você de olhos fechados. Aí aproveito para descansar." Aos 42 anos, Rodrigo vem de uma rotina frenética. Em 2019, foram mais de 50 apresentações, em 18 cidades Brasil afora. A conversa com o maestro se deu dias depois de ele reger o concerto Valencianas II, lançado este ano, - com a participação de Alceu Valença - para mais de 50 mil pessoas no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Foi a maior plateia da história de quase duas décadas do conjunto ouropretano. "Imaginávamos, no início, lá em 2000, que tocaríamos apenas um dia por mês em Ouro Preto", diz.
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Perfil:
Rodrigo Toffolo, 42 anos
Rodrigo Toffolo, 42 anos
- Nascido em Ouro Preto (MG)
- Divorciado, uma filha
- Formado em engenharia geológica (UFOP). É regente e mestre em musicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorando em Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa
- Diretor artístico e regente titular da Orquestra de Ouro Preto
A ideia de criar a orquestra nasceu na casa de Rodrigo. "As lembranças que tenho é de estarmos sempre juntos: meus irmãos, meus pais e a música", diz ele, que estudou engenharia geológica, mas bem antes disso, aos 10 anos, começou a mergulhar na melodia do violino. Música era presença obrigatória na casa dos Toffolo. Quando criança, seu pai o colocava para dormir ouvindo discos do compositor Ernesto Nazareth interpretado pelo pianista Arthur Moreira Lima. A orquestra começou a surgir depois que o compositor Rufo Herrera, a pedido de Rodrigo, foi conversar com o seu pai, Ronaldo Toffolo, sobre a possibilidade de reunir instrumentistas de dois grupos de Ouro Preto. Assim, em 2000, a orquestra foi fundada. A Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) passou a ser a incubadora do projeto. Os irmãos de Rodrigo também toparam a empreitada. Hoje, Ronaldo é produtor do grupo, Rodolfo é violinista e spalla, além de Mara e Marina, que também seguem no violino. Além de diretor artístico da orquestra desde a fundação, Rodrigo se tornou regente em 2007.
Mas, a rotina que levou o músico ao hospital não diz respeito apenas aos compromissos de trabalho. Rodrigo é demasiadamente inquieto. Ele quer, junto com os seus regidos, quebrar paradigmas, fazer diferente. Para isso, dedica-se com afinco às partituras, criando e, sobretudo, atento à reação do público. "O conceito de orquestra tem de ser modernizado. Não estamos em um monólogo. Chamamos as pessoas para interagir", diz o ouropretano.
Não são poucos os desafios de comandar uma orquestra. Quando não está com a batuta nas mãos, ele tem de correr atrás de patrocínios e parcerias para viabilizar os trabalhos. Para se ter uma ideia, são necessários cerca de 3 milhões de reais por ano para a sobrevivência da orquestra "de maneira básica", sem músicos convidados ou muitas viagens. "Ao contrário da maioria das orquestras do país, não há recurso público aqui. Sempre partimos do zero. E não reclamo muito disso, pois nos dá maior liberdade. Não sofremos pressões políticas", afirma.
Pode-se dizer que Rodrigo sofre outros tipos de "pressões". Quando está em Ouro Preto, o maestro, que é divorciado, dedica grande parte do tempo à filha Beatriz, de 6 anos. Além das tarefas de pai, como buscar e levar à escola, ele gosta de acompanhar o gosto musical da menina. "Certa vez, ela me perguntou se eu prefiro músicas 'que não tenha gente cantando'. Eu confirmei. Aí ela disse: 'você não entende nada de música, pai'". A lembrança fez Rodrigo, mesmo convalescente, abrir um baita sorriso!