Sem mesas nem garçons. Em um ou outro corredor, caixotes improvisados acomodam aqueles que precisam descansar os pés. Quem tem fome ou sede, compra ficha nos caixas e busca o pedido nos balcões. O som ambiente aposta em clássicos da Música Popular Brasileira. Entre um petisco e outro ou um gole de cerveja, a boa e velha prosa é colocada em dia bem do jeitinho mineiro, devagarzinho, na contramão do movimentado centro da capital. É lá que, nos idos 1960, foi inaugurado o Mercado Novo, mais especificamente na Avenida Olegário Maciel. E é lá que desde a revitalização do espaço, em 2016, a vida noturna de Belo Horizonte vem reverenciando os "velhos e bons tempos" da cultura de boteco.
A arquitetura rústica e a decoração retrô são a marca registrada dos estabelecimentos que funcionam no segundo andar do prédio. O piso é de cimento grosso, o reboco é a vista e os banheiros antigos não fazem distinção de sexo. "Gostamos do Mercado como ele é. Mostramos a nossa verdade mantendo a sua originalidade", diz Antônio Gabriel, superintendente do local. Há 40 anos à frente do empreendimento, ele conhece bem cada particularidade da construção. Participou da ocupação de todos os andares, desde o térreo onde ficam os hortifruts, ao primeiro pavimento conhecido pelas gráficas especializadas em tipografias artesanais, luthierias que realizam a manutenção de instrumentos musicais, lojas de alimentos, entre outros.
O conceito de sustentabilidade aliado à valorização dos produtos mineiros é o grande diferencial do Mercado Novo. Lá não há venda de animais, como visto no primo Mercado Central. Em breve, aliás será aberto um espaço para feiras de adoção. E 2020 chega trazendo outras novidades. A inauguração do terceiro andar está prevista para o próximo mês de fevereiro. "Lá teremos arquitetos, artistas plásticos, designers de interiores e antiquários. Além de oficinas de pintura, cursos de harmonização de cervejas, entre outras atrações", diz o empresário.
Os bares do segundo andar andam bastante movimentados, principalmente a partir de quinta-feira à noite. O empresário Rafael Quick, um dos sócios do bar Juramento 202 - Cervejaria Viela, no bairro Pompeia, foi o primeiro a apostar no movimento noturno do local. Em 2018 inaugurou a Distribuidora Goitacazes com a proposta de incentivar o mercado criativo e oferecer cervejas artesanais a preços mais populares. Alcançou o objetivo. De um, os estabelecimentos se multiplicaram para dezesseis. O chef Henrique Gilberto, do Rullus Buffet, foi outro que acreditou na proposta e baixou no Mercado Novo para inaugurar a cozinha Tupis. Além de uma comida de boteco sofisticada, trouxe descontração ao ambiente anunciando, pelo megafone, que o pedido está pronto. Próximo dali, dobrando a esquina de outro corredor, a charcutaria Tapera enche os olhos com decoração inusitada e a boca com sanduíches, embutidos e defumados artesanais. "O segredo é a combinação dos ingredientes", diz o gerente Martin da Rosa. À sua frente, o Café Jetiboca traz a nostalgia dos antigos armazéns e os sabores do café mineiro moído na hora. Em outra ala, o Rei da Estufa mantém viva a tradição das comidas quentinhas guardadas nos botecos. Carne de Panela, tropeiro, torresmo, almôndegas, são apenas algumas das receitas. "Tem para todos os gostos. A estufa é bem versátil", garante o chef de cozinha Alexandre Louzeiro Alvares da Silva.
No Mercado Novo há espaço para diversas tribos. Bailarino do Grupo Corpo, há alguns meses Luan Batista, acompanhado da amiga Mariana Rodrigues, também bailarina, freqüentam o local. Gostaram tanto que queriam até ter nascido em outra época. "Quando estamos aqui é como se entrássemos em um portal do tempo", diz Luan. O produtor de moda Marcelo Gabrich, e o amigo Gabriel Barbosa, farmacêutico, criaram até um roteiro particular no Mercado. Pela manhã tomam café no Copa Cozinha. À tarde, drinque à base de cachaça no Lamparina. E aproveitam para adentrar a noite na cervejaria Viela. "É um lugar que abraça a todos. Nos sentimos em casa aqui", diz Marcelo.
Para quem gosta de animais, a boa notícia é que o espaço é pet friendly e os peludos são benquistos. A gerente comercial Fabíola Vilela e o empresário Aécio Neto aproveitam a oportunidade para levar a cadelinha Catu, da raça boiadeiro australiano, para passear. "Unimos o útil ao agradável. E sempre somos muito bem recebidos", diz ela.
Onde fica: Avenida Olegário Maciel, 742, Centro, BH
Horário de funcionamento: quinta e sexta de 18h às 0h; sábado de 12h à 0h; domingo de 12h às 18h