O período de isolamento social total em BH, ou seja, desde o fechamento de escolas e serviços não essenciais até o início da reabertura gradativa na cidade, em 25 de maio, durou pouco mais de nove semanas. Durante esse tempo de home office, ensino remoto e confinamento - sem precedentes na comunidade escolar - a dinâmica foi de tentativas, experimentações, dificuldades, sucessos, surpresas e coração aberto para o novo, tanto de instituições e professores como de alunos.
Afinal, até as escolas mais à frente no quesito tecnologia tiveram pouco tempo para se organizar e planejar a forma como todos os estudantes teriam algum suporte e, eventualmente, aulas regulares, durante a pandemia. Várias semanas depois do baque inicial, muitos colégios já estão estabelecidos em termos de formato desse serviço, o que é positivo, considerando que ainda não se sabe como serão os próximos meses - pode ser que aulas à distância ainda perdurem, mesmo que misturadas com o ensino presencial, por algum tempo. Encontro conversou com cinco escolas da cidade para saber quais lições foram tiradas do período e o que se manterá (ou, pelo menos, deveria se manter) na educação do futuro. Confira:
Presença física e olho no olho continuam essenciais
Rommel Domingos, diretor de ensino do Bernoulli: "O que ficou bem claro para nós é que realmente podemos avançar nesse mundo à distância usando as plataformas digitais" - Foto: Samuel Gê/EncontroA escola física não vai acabar. Se alguém pensou que isso seria uma possibilidade após a experiência totalmente virtual, essa não é a visão dos educadores. É consenso entre eles que o espaço físico e a presença física dos alunos e profissionais têm papel essencial no processo, e que as aulas 100% remotas no ensino básico ficarão para trás assim que a pandemia permitir. "A escola é lugar de comunidade, a educação é fundida com a necessidade social de troca de ideias, de aprender com o outro, e vai continuar sendo”, afirma a diretora da Escola Americana, Catarina Song Chen. A diretora pedagógica do Coleguium, Alessandra Dias, reforça o papel do ambiente físico. "O convívio em sala de aula é essencial e consideramos que a questão da aprendizagem da criança e do adolescente não se constrói apenas por roteiros e atividades, mas por todo o espaço escolar, bem como pela interação física com colegas e educadores da escola”, explica.
Presença física e olho no olho continuam essenciais
A tendência será, mais do que nunca, o ensino híbrido
As instituições relataram diversas experiências positivas e um sem-fim de possibilidades que o digital oferece. No caso do Coleguium, por exemplo, eles reformularam um projeto focado no Enem por meio do YouTube, o que possibilitou que o conteúdo chegasse a todas as unidades da escola, mas não apenas, pois quaisquer alunos, inclusive de escolas públicas, também podem ter acesso. O Bernoulli está estudando formatos de listas de exercícios aleatórias (em que cada aluno recebe um material diferente do colega), tem tido bom resultado e pensa em manter as monitorias no modo online, bem como a plataforma em que se dá a entrega e correção das redações - o que permitirá, no futuro, um acompanhamento de todo o trajeto escolar e evolução do aluno na atividade. A variedade de formas de avaliação e de produção por parte dos alunos - podcasts, vídeos, projetos com fotos - também deu um salto na pandemia.
Equilíbrio é o segredo
Equilíbrio é o segredo
Rommel Domingos, do Bernoulli, ressalta que as instituições poderão mesclar bem a melhor utilidade de cada meio. "À escola cabe saber equacionar isso. Para álgebra, por exemplo, talvez seja melhor o ensino presencial: é algo abstrato, tem-se que pensar junto, e estar junto com o professor pode ajudar no raciocínio. No caso da geometria, pode ser que seja melhor ter mais presença do digital, para mostrar o corte de um prisma, um cone”, explica.
Professores: facilitadores remotos
Aleluia Heringer, diretora do Santo Agostinho Contagem: "A escola está sofrendo uma mutação. Algumas velhas roupagens não mais servirão, em termos de práticas, métodos, referência" - Foto: Plan B Comunicação/DivulgaçãoO meio por onde o ensino acontece mudou, e muitas das estratégias que funcionavam na sala de aula física não fazem sentido na educação remota. Por isso, os professores têm tido trabalho a mais para replanejar as aulas de forma a que funcionem no universo online e digital. Atrair a atenção dos estudantes pode ser mais desafiador, assim como compartilhar os conteúdos, ter o retorno em exercícios, motivação etc. Sem a experiência da pandemia, talvez esses desafios não ficassem tão evidentes. Agora, puderam ser encarados pela equipe de professores, que têm bolado maneiras criativas e inventivas de fazer seu trabalho no contexto da crise. O ensino híbrido do pós-pandemia ganha com isso.
Maria Luiza Borges, coordenadora pedagógica do ensino fundamental 2 e do ensino médio do Santa Marcelina, ressalta que a presença física e o olho no olho fazem muita falta na prática docente. "Às vezes o professor nota justamente algo que está no plano do não dito pelo aluno”, diz. Por isso, os desafios também têm passado por evitar que o remoto seja sinônimo de distante, frio. "Tem sido trabalho árduo nesse sentido de não perder aspectos que são da relação, da humanidade, da acolhida.” Para Alessandra Dias, do Coleguium, educadores têm se esforçado para se adaptar. "O momento pediu uma ação rápida e o professor não se intimidou”, afirma.
Professores: facilitadores remotos
Maria Luiza Borges, coordenadora pedagógica do ensino fundamental 2 e do ensino médio do Santa Marcelina, ressalta que a presença física e o olho no olho fazem muita falta na prática docente. "Às vezes o professor nota justamente algo que está no plano do não dito pelo aluno”, diz. Por isso, os desafios também têm passado por evitar que o remoto seja sinônimo de distante, frio. "Tem sido trabalho árduo nesse sentido de não perder aspectos que são da relação, da humanidade, da acolhida.” Para Alessandra Dias, do Coleguium, educadores têm se esforçado para se adaptar. "O momento pediu uma ação rápida e o professor não se intimidou”, afirma.
Novos aprendizados para os alunos
Para os pequenos, educação ainda é sinônimo de aulas presenciais
De maneira geral, a experiência das instituições indica que o ensino infantil é o mais difícil - muitos dizem até impossível - de ser transposto para o digital. Por isso, algumas escolas até têm proposto brincadeiras, rodas virtuais e atividades, mas sem a regularidade ou objetivo do ensino que existe para os mais velhos. A ideia é tentar manter o vínculo e orientar os pais com sugestões do que fazer em casa à luz do que o colégio propunha no ambiente físico, mas sem intenção de cumprir currículo. O ensino fundamental, especialmente anos iniciais, também tem sido apontado como uma etapa difícil de abordar, de forma sistemática, pela via remota. "Quanto menor o estudante, menos a aula a distância se mostra eficaz. Somos seres sociais. Gostamos e precisamos do outro para nos constituirmos como sujeitos”, diz Aleluia Heringer.