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Nos últimos cinco meses, muitos projetos saíram da gaveta e trabalhos que estavam em curso aceleraram o ritmo. Os proprietários, agora, têm pressa para organizar a nova rotina. "Sendo pequena ou grande, a casa precisou se reinventar", afirma Piacesi. Muitas vezes, mudanças sutis atingem bons resultados. Um exemplo é o layout dos móveis. A construção de bancadas que se encaixam trazem beleza e harmonia para o home office, tornando o trabalho mais leve. A iluminação é peça chave. Cria ambientes de criatividade para as longas jornadas de trabalho. Pequenos pontos de luz adaptados aos móveis trazem a sensação de aconchego. Luminárias fixas podem ser substituídas por pontos soltos que criam cantinhos poéticos. A busca é por uma casa sustentável, prática e muitas vezes com uma pegada minimalista, onde há espaço organizado - e sem excessos -, para trabalho, lazer e atividades físicas, em ambientes integrados que se complementam. E se lá fora está difícil ir e vir, ter liberdade dentro de casa não tem preço. Esse é o exemplo da médica anestesista Elisa Duarte. Ela calcula que antes da pandemia passava 70% do seu dia no trabalho e 30% em casa (incluídas aí as horas de sono). Agora, a proporção se inverteu. Elisa está testando os vários usos de seu apê de 70 metros quadrados, que ficou pronto pouco antes - que sorte! - do fechamento da cidade. Em plena Savassi, o imóvel tem 35 metros quadrados de área interna e 35 de área externa. Basta uma conversa rápida com Elisa para ver que ela confia ter acertado na construção de seu pequeno paraíso.
Disciplinada, Elisa estuda todos os dias. A mesa de atividades ganhou relevância no projeto, além do jardim e do deck. Na quarentena, a médica vem dando atenção extra às suas plantas, que ficaram vivas e mais bonitas com os cuidados da dona. "Enquanto rego o jardim, escuto podcasts. É um momento muito bom do meu dia." O deck é lugar para relaxar, observar o céu e praticar ioga nos fins de semana. Antes da pandemia, Elisa podia ser vista circulando de bicicleta em trilhas e pela cidade. Saindo menos, ela adaptou "um rolo de bike" para a magrela e assim, conectada por aplicativos, faz o seu treino tecnológico, pedalando por circuitos do mundo. "Na minha casa cabe tudo que preciso: as quatro bikes, meus livros e as plantas." A sala integrada com a cozinha faz a amplitude crescer. A ideia é ser sustentável. Todos os móveis projetados são de fato utilizados e eles podem também ser facilmente transportados. "Tenho uma casa portátil. Para onde eu me mudar posso levá-la", diz. "Não fosse o meu trabalho, acho que não sairia." A frase espontânea de Elisa reflete o pensamento de muitos sobre o presente. "Vivemos uma época propícia para tirar do papel desejos e suprir necessidades", afirma o arquiteto Manoel Messias, proprietário da empresa de móveis planejados Certa Design.
Ao repensar o desenho de casas e apartamentos, a designer de interiores Laura Rabe diz que algumas transformações impulsionadas pelo momento valem a pena, especialmente porque devem durar. "Acreditamos que muitos dos novos hábitos vão ficar." O costume oriental de tirar os sapatos antes de entrar em casa, o hábito de trocar as roupas ou o casaco, de usar o álcool em gel para higienizar as mãos são alguns exemplos. Cabideiros coloridos ou rústicos podem dar um charme à entrada da casa, repaginando o hall. Espaços pouco utilizados podem ser transformados em home office. Para criar um ambiente silencioso, ideal para gravação de vídeos, conferências e trabalho de concentração, vale investir nos materiais. Revestimentos, cortinas e tapetes peludos ajudam a manter a acústica. Para quem vive sozinho, varandas também podem ser transformadas em home offices, com algum verde, o que ajuda a aliviar a mente. Na reorganização da casa é bom pensar em uma regra básica: "tirar o excesso e deixar o essencial", como diz Laura Rabe. O que vale é o sentimento de liberdade.
Para o arquiteto paisagista Felipe Fontes, a sensação de se estar perto da natureza se tornou indispensável. Ter por perto um pouco de verde recarrega as energias. "A vegetação ajuda na saúde mental", diz Felipe. O descanso que a natureza nos proporciona pode ser em um sítio ou mesmo na residência da cidade, em uma cobertura, na varanda ou na sala mesmo. Folhagens mais exuberantes, pequenas hortas e até árvores frutíferas, como jabuticabeiras, integram os projetos, amenizando as longas horas em casa, em frente às telas. Esse movimento de decorar com muito verde é identificado como "urban jungle" e ganhou impulso na pandemia. Como explica Felipe, o estilo também tem conexão com o crescimento da biofilia, movimento que nos leva a conviver com plantas e bichos. É a necessidade de ter a natureza nos rondando em uma relação de equilíbrio. "Faz bem um cheirinho de terra molhada por perto", explica. Felipe viu a demanda por projetos crescer nos últimos meses e acredita que ficar mais tempo em casa provocou esse desejo nas pessoas. E engana-se quem pensa que cultivar plantas é muito trabalhoso. "Às vezes, cuidados semanais são suficientes. É possível organizar essa rotina com os filhos." Além de deixar a casa mais acolhedora o paisagismo também cria novos hábitos. "Ir à floricultura e voltar para casa com um vasinho novo é um programa muito bom para o fim de semana, um consumo saudável", afirma Felipe.
Além de sinônimo de abrigo - e agora lazer e trabalho -, a casa também representa saúde. A arquiteta Manuela Senna lembra que crises mundiais sempre acabam trazendo renovação para os projetos. "A peste bubônica, na Idade Média, transformou o ambiente", diz. Ao ser comprovado que o sol era um fator de bem-estar para as residências, estas deixaram as vielas escuras e passaram a ser construídas de modo a preservar a luminosidade. Agora, elementos naturais mostram cada vez mais seu valor, como tramas e tear, além de pedras esculpidas a mão, que remetem ao toque humano, promovendo sensação de descanso depois de longas horas de telas.
Entre trabalho e diversão, parar para organizar a mente é essencial. Ter um canto para colocar as ideias no lugar foi o que motivou a servidora pública aposentada Patrícia Constantino a transformar sua varanda com vista para a Serra do Curral e com as paredes cobertas por ervas aromáticas em local de contemplação, orações e meditação. O projeto que encheu de cor o espaço acabou estimulando os bons pensamentos e boas práticas. É como diz a música escrita na quarentena pela cantora Vicka, que viralizou nas redes sociais: Quem é que nunca disse que faltava tempo pra ficar em casa/ ficar sem fazer nada/ calma, a vida precisa de pausa. Nada melhor que usar essa pausa para reencontrar a própria casa.
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