Nome de bicho é coisa que não se explica. Sabe-se lá de onde vem tanta criatividade ou, por que cargas d’água, ela às vezes está em falta na hora de batizar um animal de estimação. Isso quando o gosto pelos nomes populares não predomina. Fenômeno tão curioso que, desde 2016, passou a ser apurado mais a fundo. Recentemente, o PetCenso 2020 fez o levantamento com mais de 1,8 milhão de animais para apontar nomes e raças preferidos dos brasileiros. Não deu outra. A falta de pedigree não ofuscou o brilho dos vira-latas. No topo do ranking, 32% dos cães e 95% dos gatos não têm raça definida. Já entre os nomes mais cobiçados, o resultado não chega a ser uma novidade. Os clássicos Mel, Nina e Thor saem em disparada.
Prestes a completar quatro anos de idade, a poodle Mel é a cicerone da casa. Quando não está dando as boas-vindas às visitas, está tentando comer o que vê pela frente. Até mesmo o que não deve. "Esses dias coloquei um quibe no prato, sobre a mesa. Quando dei conta, tinham sobrado apenas os farelos", conta a servidora pública Lenimara Ruella. Tentando solucionar a questão, Mel finge-se de estátua. Só perde a compostura quando o assunto é tomar remédio. "Aí vira uma onça." Ganhou o nome porque os donos se encantaram com a bendita filhote, cuja aparência mais se assemelhava a uma bolinha de pêlo caramelo.
Na maioria das vezes, é assim mesmo que acontece. O nome do pet surge de improviso. Basta uma gracinha, um latido, um rabinho mais saliente, ou bater o olho no bichinho, que as ideias logo surgem. E haja imaginação. Os dados do PetCenso 2020 vêm dos bichos cadastrados no aplicativo da DogHero, que disponibiliza serviços de passeio, atendimento veterinário a domicílio e hospedagem. A novidade é que nesse censo também foi utilizada a base de dados do petshop online Petlove. As empresas fundiram as atividades em outubro do ano passado.
No recorte por regiões, os nomes caninos seguem na mesmice. De norte a sul, Mel e Thor são os queridinhos. Entre os amantes dos felinos, Tom é a preferência nacional. Apenas no norte, ganha ares espanhóis e muda para o charmoso Leon. No sul e nordeste, o terceiro e quarto lugar para os nomes de gato, respectivamente, é "Gato" mesmo. E ai de quem falar que faltou imaginação. Por sorte, os nomes dados às gatinhas contam com mais variações, ficando entre Mia, Mel, Nina e Luana.
O "cão síndico", como é conhecido no prédio onde mora, preenche sua rotina acompanhando a mãe de seu dono nos cuidados com o condomínio. Apesar de popular, nem todos sabem sua identidade "quase" secreta. Thor, o deus do trovão na mitologia nórdica, sucesso nos quadrinhos e filmes da Marvel, na vida real é um shih tzu de oito anos que morre de medo de raios e adora ser paparicado. O nome veio da paixão dos donos pelos super-herois. "É o nosso filho peludo. Mesmo depois que tivemos a nossa primeira filha e agora que estou em minha segunda gestação, nunca o deixamos de lado", conta a bancária Iraniana Silveira Bolognani Carvalho.
Apesar da fama de conservadores, quando se trata de nomear os pets os mineiros não economizam no repertório. E tem nome que até Deus duvida. Na Clínica Veterinária São Francisco de Assis, no bairro de Lourdes, a recepcionista Carla Michele Rodrigues de Sousa, nem se surpreende mais. Volta e meia se depara com cães e gatos chamados Maisena, Bagulho, Jiló, Banguela, Prejuízo, Lagartixa e até Circunflexo. Tem aqueles que preferem explorar o universo da gastronomia. É quando surgem nomes como Bolacha, Calabresa, Cheesecake, Cookie, Espeto, Farofa. Outros se orientam pelas bebidas preferidas: Brahma, Sukita, Tequila, Chope. Isso quando algum WhatsApp ou Youtube não dão o ar da graça.
Na casa da servidora pública Daniela Martins Costa, o novo membro da família é bem peculiar. Adotado no início deste ano, e com apenas cinco meses de nascido, o cãozinho Do Contra já é diplomado na arte de contrariar. No primeiro encontro com a família, nem por reza braba queria entrar na caixa de papelão que lhe serviria, temporariamente, de transporte. Depois, não havia nada que o fizesse sair de lá. Apesar dos esforços para educá-lo, o pequeno não colabora. "Durante a noite chora, uiva e berra. Durante o dia deita e dorme. Ele faz tudo ao contrário, é um rebelde sem causa", brinca a dona. O nome, para lá de original, faz referência a um dos personagens da Turma da Mônica.
No reino felino, as excentricidades também acontecem. Pouca Sombra foi adotado quando tinha dois meses de vida. O porte franzino lhe rendeu a distinta nomenclatura e um lugarzinho cativo no colo da dona. "Ao todo temos seis gatos. Ele é um dos menores e muito dengoso. Chora e ‘conversa’ comigo o tempo todo", diz a empresária Luiza Fonseca. Em sua casa, "a curiosidade não matou os gatos". Por lá eles têm passe livre e exploram à vontade. Mixaria e Fominha, são irmãos de ninhada. A primeira era tão pequena que não passava de uma "mixaria de gente". E Fominha tem tanto apetite que faz jus ao nome. Haja criatividade!
Os 10 nomes de cachorro mais comuns no Brasil
Machos:
- Thor
- Luke
- Bob
- Fred
- Billy
- Marley
- Theo
- Nick
- Zeus
- Max
Fêmeas:
- Nina
- Luna
- Meg
- Amora
- Lola
- Belinha
- Maya
- Cacau
- Pandora
Os 10 nomes de gato mais comuns no Brasil
Machos:
- Tom
- Simba
- Mingau
- Chico
- Frajola
- Thor
- Nino
- Fred
- Romeu
- Frederico
Fêmeas:
- Nina
- Mel
- Luna
- Mia
- Amora
- Pandora
- Lua
- Marie
- Frida
- Mimi
As 10 raças de cachorro mais comuns no Brasil
- Sem raça definida
- Shih Tzu
- Yorkshire Terrier
- Poodle
- Lhasa Apso
- Buldogue Francês
- Pinscher
- Golden Retriever
- Spitz Alemão
- Maltês
As 10 raças de gatos mais comuns no Brasil
- Sem raça definida
- Siamês
- Angorá Turco
- Himalaio
- Azul Russo
- Persa
- Pelo curto brasileiro
- Pelo curto americano
- Snowshoe
- Exótico
Fonte: Pet Censo 2020/DogHero e Petlove