

Publicado pela Autêntica Editora, o livro Sonhos Confinados não só compilou alguns dos relatos mais angustiantes ou pitorescos, como foi além, para identificar certos medos e desafios compartilhados. "Para participar, os colaboradores preencheram um formulário, relatando o que sonharam, o que lembravam e como entendiam aquilo que haviam presenciado", diz o professor, que divide a organização com Christian Dunker, Cláudia Perrone, Miriam Debieux Rosa e Rose Gurski. Cem destas pessoas tiveram sessões com psicanalistas voluntários, tanto para aprofundar a pesquisa quanto para buscar ajuda para a saúde mental. Um dos primeiros elementos que chamou a atenção foi a intensidade dos sonhos. Por meio dos relatos, os pesquisadores constataram que as experiências eram mais vívidas durante os primeiros meses da pandemia. Pela manhã, o que foi vivido durante o sono ainda estava muito presente. "Outro ponto importante foi a presença da mãe", afirma Gilson. "Seja viva, morta ou há tempos sem contato, as mães eram figuras centrais nos sonhos, principalmente das mulheres."

Todas as descobertas feitas pela equipe foram divididas e analisadas em sete capítulos divididos de acordo com o tema que abordam, indo desde política aos sonhos de jovens da periferia de São Paulo. A pesquisa, porém, não parou por aí. Novos relatos estão sendo colhidos pelos pesquisadores, e algumas das pessoas continuam sendo acompanhadas pelos psicanalistas. Agora, Anna já não tem mais sonhos tão intensos, como o do prédio com as escadas do lado de fora. As suas noites parecem mais com um breu. "No começo da pademia, os relatos tratavam de cenas mais angustiantes. Agora, a angústia da mente foi para o corpo." Outro grupo que passou a ser estudado são os profissionais da linha de frente do combate ao novo coronavírus, que há 14 meses vivem em contato direto com a pandemia, lidando com a morte e o medo da escassez de equipamentos. "Nós também vivemos uma epidemia da saúde mental. Com esse trabalho, prestamos ajuda para pessoas que estão precisando de serem ouvidas", diz. O novo material ainda está sendo ouvido e compilado pelo grupo, que pretende publicar uma nova edição com as descobertas. Quando perguntado pelo título, Gilson Iannini brinca: "Seria legal se o nome pudesse ser o mesmo do nosso grupo de WhatsApp: Sonhos Vacinados. Tomara que a situação esteja melhor até lá".
*Nome fictício