O arquiteto Junior Piacesi acredita que quem antes priorizava viagens e festas, por exemplo, passou a investir pesado em casa: "Belo Horizonte está em reforma. Com isso, a mão de obra qualificada está escassa e os preços dos produtos subiram significativamente" - Foto: Geraldo Goulart/EncontroDe um dia para o outro, a casa que antes era só casa, transformou-se em escritório, escola, restaurante, academia, entre outras tantas funções. Além, é claro, de precisar manter as características de um lar aprazível. Verdade seja dita, nesse conflito de atividades e interesses, muitos tiveram a vida virada pelo avesso. "O ambiente doméstico ganhou uma importância nunca vista anteriormente", diz a designer de interiores Laura Rabe. Com a mudança na rotina familiar imposta pela pandemia da Covid-19, novos hábitos foram adotados e os espaços precisaram ser reconfigurados, o que impulsionou o mercado de reformas. "Escritórios, salas de estudos, cozinhas, salas de estar e até mesmo o hall de entrada têm sido os mais modificados. Sempre com o objetivo de trazer conforto e contribuir para a boa convivência dos moradores."
As diretoras da A. De Arte, Natalia e Adriana Vasconcelos: "As pessoas começaram a sentir, de fato, a casa e a enxergar o que antes não tinham tempo para observar", diz Natalia - Foto: Bruna Cabral/EncontroA procura por profissionais da área de arquitetura, decoração e design de interiores cresceu tanto que o setor teve de se adaptar para dar conta do recado. De pontuais, as necessidades se ampliaram e os projetos passaram a buscar soluções conjuntas para crianças, jovens, casais, idosos e agregados.
A ressignificação do lar levou a uma corrida por reformas, aquecendo o comércio. Para o arquiteto Junior Piacesi, quem antes priorizava viagens e festas, por exemplo, passou a investir pesado em casa. "Belo Horizonte está em reforma", diz. "Com isso, a mão de obra qualificada está escassa e os preços dos produtos subiram significativamente."
Com a mudança na rotina familiar, novos hábitos foram adotados e os espaços precisaram ser reconfigurados, de acordo com a designer de interiores Laura Rabe: "Escritórios, salas de estudos, cozinhas, salas de estar e, até mesmo, o hall de entrada, têm sido os mais modificados%u2019%u2019 - Foto: Violeta Andrada/EncontroO jeito foi se desdobrar para atender a todas as demandas. Ao mesmo tempo em que lidam com as expectativas dos clientes, os profissionais da área precisam usar de muita diplomacia na arte da negociação de prazos com os fornecedores. E cada detalhe faz a diferença. Desde o tempo necessário para a conclusão da obra à compra de materiais mais adequados para cada proposta. E sempre é preciso aliar qualidade ao custo-benefício. Cada vez mais, demandam-se projetos enxutos e inteligentes. Para a arquiteta e design de interiores Ana Paula Paolinelli, a integração de ambientes é grande tendência e traz inúmeras possibilidades entre quatro paredes. "O design está em foco, mas além de beleza e conforto também precisa ser prático e funcional."
A designer de interiores Cícera Gontijo: "Além das preocupações que a Covid-19 trouxe, e que devem ficar por muito tempo, estamos sentindo uma necessidade de manter uma ligação forte com a natureza. Gosto de falar que estamos em busca de uma 'simplicidade sofisticada'" - Foto: Uarlen Valério/EncontroO antigo escritório ganha ares sofisticados e surge repaginado, para que, mesmo estando no seio familiar, seja possível participar de vídeoconferências e assistir a aulas online, entre outras atividades. A obrigatoriedade de ficar em casa ampliou a percepção de muita gente para a necessidade de se ter algumas comodidades ao alcance das mãos. A tecnologia chegou com tudo para tornar a rotina mais interessante - e menos estressante.
Um toque no tablet ou smartphone e, voilá!, as cortinas se abrem, as luzes se acendem e até o ar-condicionado pode ser acionado. Sem falar na qualidade do áudio e vídeo. "Já que é preciso ficar em casa, ter som e imagem de altíssima qualidade passou a ser ainda mais necessário", diz o empresário Natan Nogueira Rijhsinghani, da Smart Automação.
Para a arquiteta e designer de interiores Ana Paula Paolinelli, a integração de ambientes é uma grande tendência e traz inúmeras possibilidades entre quatro paredes: "O design está em foco, mas além de beleza e conforto também precisa ser prático e funcional" - Foto: Leca Novo/DivulgaçãoO quarto das crianças também está se transformando. A nova realidade exigiu mudanças para garantir aos pequenos espaço para brincar e estudar. Por isso, muitas famílias têm optado por se mudar para apartamentos maiores, dando prioridade para coberturas e áreas privativas, além de casas. "Uma preocupação recorrente é que as crianças tenham contato com a natureza", diz a arquiteta e designer de interiores Manuela Senna. Segundo ela, houve uma valorização do lar enquanto refúgio e local sagrado. E que tal uma brinquedoteca? O brincar em tempos de pandemia se tornou um forte aliado para garantir a qualidade de vida e bem-estar da meninada. O momento que envolve descoberta, liberdade, interação e desenvolvimento da imaginação, carece de estímulos. E a dica é ter um local específico com brinquedos, livros e jogos.
Muitas famílias têm optado por se mudar para apartamentos maiores, dando prioridade para coberturas e áreas privativas, além de casas. "Houve uma valorização do lar enquanto refúgio e local sagrado", diz a arquiteta e design de interiores Manuela Senna - Foto: Uarlen Valério/EncontroOutra estrela em tempos de isolamento é a varanda, responsável pela conexão com o mundo exterior.
Multifuncional, comporta uma variedade de móveis e pequenos espaços gourmets. Ideal para aqueles que amam cozinhar e agora dispõem de tempo para praticar o hobby. Aproveitar o ambiente para ter um cantinho verde deixa o clima ainda mais agradável. "Temos observado que, por estarem impossibilitadas de sair, as pessoas começaram a sentir, de fato, a casa e a enxergar o que antes não tinham tempo para observar", diz Natália Vasconcelos, da empresa especializada em iluminação A. De Arte. Vem crescendo, diz ela, a busca por luminárias que tragam um toque especial ao lar, trazendo sensação de acolhimento. "No segundo semestre de 2020, tivemos um aumento de 30% no faturamento por quatro meses consecutivos, de agosto a novembro", diz Natália.
O empresário Natan Nogueira Rijhsinghani, da Smart Automação: "A experiência de ficar em casa, tendo som e imagem de altíssima qualidade, passou a ser ainda mais necessária" - Foto: Geraldo Goulart/EncontroE não são apenas as residências que estão sendo ressignificadas. O chamado mercado corporativo também está se reinventando. A designer de interiores Cícera Gontijo afirma que vem sendo chamada por escritórios, clínicas e consultórios médicos para repensar o espaço depois das mudanças impostas pela pandemia, como a necessidade de um maior distanciamento entre os profissionais e visitantes. "Em um primeiro momento, todos ficaram assustados com a possibilidade de uma paralisação geral, que não houve", lembra. "Depois do choque inicial, as empresas das mais diversas áreas de atuação começaram a se reestruturar." Cícera diz que os novos projetos já vêm todos com as exigências sanitárias dos tempos atuais. "Além das preocupações que a Covid-19 trouxe, e que devem ficar por muito tempo, estamos sentindo uma necessidade de manter uma ligação forte com a natureza. Gosto de falar que estamos em busca de uma 'simplicidade sofisticada'".
Uma boa dica é optar por técnicas rápidas e requintadas, diz a arquiteta Luany Vianna AndradeLage, da Decorart.it: "Por ter um ótimo custo-benefício, se comparada a pedras marmorizadas naturais, a demanda pela textura marmorato tem sido alta" - Foto: Sansclair Medeiros/DivulgaçãoSeja para casa ou para o escritório, a escolha certa de pisos e revestimentos agrega valor estético e funcionalidade. Se a ideia é reformar com o menor desgaste e tempo possíveis, a dica é optar por técnicas rápidas e requintadas. Aplicada em paredes e tetos, a textura marmorato está disponível em várias cores, e remete a pedras de mármore com brilho leve e aparência acetinada. "Por ter um ótimo custo-benefício se comparada a pedras marmorizadas naturais, a demanda tem sido alta, especialmente nesse período em que o número de reformas aumentou", diz a arquiteta Luany Vianna Andrade Lage, da Decorart.it. Ela conta que as vendas cresceram cerca de 20% no segundo semestre do ano passado, em relação ao mesmo período de 2019.
Se o ano passado foi animador, as perspectivas não ficam para trás. O faturamento da indústria de materiais de construção começou 2021 com alta de 12,8% em janeiro, em relação ao mesmo mês de 2020, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). Dezembro já havia sido um mês muito bom para a contabilidade das empresas: o faturamento da indústria subiu 15,7% na comparação com o mesmo período de 2019. Para este ano, a Abramat estima um crescimento 4% no faturamento em relação a 2020. "Um dos principais movimentos observados foi o ‘Dot It Yourself’ ou ‘Faça Você Mesmo’. Dentre as categorias mais procuradas, as de ferramentas, pintura e madeira tiveram maior crescimento durante o último ano", diz Junia Sarti, diretora da loja BH Sul da Leroy Merlin. Durante a pandemia, a rede passou a atuar 100% de forma omnicanal, ou seja, implementando a integração entre site e vendas mobile - por meio de canais como e-commerce, whatsapp e televendas - para proporcionar aos clientes novas experiências de compras. Na Santa Cruz Acabamentos, a procura por pisos e revestimentos se solidificou. Além da busca de produtos para espaços gourmet e relax, como cooktops, fornos, churrasqueiras e banheiras de hidromassagem. "Nesse momento desafiador do mundo, qualquer mudança que torne a existência mais acolhedora e confortável, com certeza, faz grande diferença", diz a sócia-gestora Letícia Souza. Uma diferença que o setor, claro, comemora.
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