Revista Encontro

PET

Como escolher a comida certa para o seu cão ou gato

Nem toda ração comercializada possui matérias primas de qualidade e nem todo animal tem as mesmas necessidades nutricionais

Daniela Costa
Desde os oito meses de idade o cãozinho Rusk, da raça shih tzu, hoje com quatro anos e cinco meses, começou a apresentar problemas de pele e infecção de ouvido, e o uso da ração adequada lhe trouxe mais qualidade de vida: "Os sintomas melhoraram significativamente. Foi um alívio para nós", diz a empresária Ana Flávia Resende Tobias Batista - Foto: Paulo Márcio/Encontro
Se para nós, humanos, já é difícil escolher um cardápio ideal que, além de saboroso, seja nutritivo e saudável, imagine a confusão na hora de decidir qual a melhor alimentação para os bichinhos de estimação. A máxima de que uma vida saudável começa pelo o que se come também se aplica aos pets, com a diferença de que a modernidade transformou presas e sobras de comida em ração industrializada. Desde meados do século XVII, quando acredita-se que tenha ocorrido a produção da primeira ração para cães, na França, vários conceitos nutricionais e formulações foram testados, dando início a um mercado bilionário.

Especula-se que a "ração" para cães, que chegou a ser vendida até como sopa de sebo, a princípio era produzida com uma mistura de migalhas de pão com pedaços de carne. Em 1860, o americano James Spratt, criou uma ração seca nos moldes atuais, composta por trigo, legumes e carne. A aceitação foi tanta que logo outros fabricantes seguiram os seus passos. Segundo levantamento do Instituto Pet Brasil, o setor de produtos e serviços para animais de estimação chegou a um faturamento de R$ 51,7 bilhões em 2021. Com uma receita de R$ 28 bilhões, a indústria de alimentos para animais de estimação é responsável por cerca de 55% do total.

Depois de passar por várias rações lights, o cachorrinho Blue Monday, da raça Cavalier King, de 7 anos, continuava fora do peso. A veterinária identificou quais proteínas e vitaminas estavam faltando e desenvolveu um cardápio nutricional que atendesse às necessidades de Blue, incluindo vitaminas que são misturadas diariamente na comida: "Tivemos de ser mais radicais e substituímos a ração por alimentação natural", diz a publicitária Hellen Mundim - Foto: Pádua de Carvalho/EncontroA má notícia é que com uma infinidade de marcas disponíveis no mercado, fica difícil saber quais, de fato, entregam  aquilo que prometem.  Os especialistas garantem que, do ponto de vista nutricional, nem toda ração comercializada é adequada para os pets, até mesmo porque nem todo animal tem as mesmas necessidades. No Brasil, é comum embalagens que denominam o produto como econômico, standard, premium, super premium, entre outras categorias, mesmo não havendo legislação que regulamente a prática.
Ou seja, o fabricante denomina seu produto como melhor entender. As categorias serviriam para apresentar  a quantidade de absorção dos nutrientes pelo animal. Por outro lado, a análise de níveis de garantia é obrigatória para quem quer comercializar produtos para alimentação animal, segundo a legislação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, devendo conter quantidades mínimas específicas de Proteína Bruta (PB), Extrato Etéreo (EE), Umidade (UM), Matéria Fibrosa (MF), Matéria Mineral (MM), Cálcio (Ca) e Fósforo (P). Assim como a quantidade diária de consumo recomendada pelo fabricante, convertida em gramas, de acordo com a energia metabólica do produto.

Fato é que toda ração deveria atender às necessidades nutricionais básicas dos pets, e boa parte cumpre o seu papel, mas não com a mesma qualidade. O consumidor pode ler no rótulo da embalagem  "sabor carne" ou "com carne" e não ter o ingrediente propriamente dito na formulação da ração mas, sim, apenas o aroma ou algum outro ingrediente de origem animal. Onívoros, para os cães uma ração de qualidade deve conter carne, frutas, grãos e vegetais, e a  diferença entre as marcas estará na qualidade das matérias primas utilizadas. Já os gatos são carnívoros natos e sua alimentação deve ser à base de proteínas, gordura, minerais e vitaminas. "O gato nasceu para comer presa e não planta. Por isso, não pensamos em carboidratos ou alimentos de origem vegetal para os felinos. Não adianta insistir em modificar a fisiologia digestiva natural dos bichos, pois isso gera doenças e pode levá-los até à morte", diz Leonardo Boscoli Lara, médico veterinário especializado em nutrição de animais de companhia e professor da Escola de Veterinária da UFMG. E quanto melhor a qualidade da matéria prima utilizada, melhor será a ração e mais facilmente será digerida pelo trato gastrointestinal do animal. Assim, o pet defecará menos, com menos cheiro e terá maior absorção dos nutrientes, o que resulta em pelo saudável, maior elasticidade da pele, hálito mais agradável e mais saúde e disposição para o animal.

Desde os 7 meses de idade, o cãozinho Guess, da raça Maltês, apresentou sintomas de alergia alimentar. Após muitos medicamentos e exames, foi encontrada uma ração adequada ao pet: "Aprendi a avaliar cada ingrediente que a ração contém e como o animal reage a ela", diz a secretária executiva Myriam Lúcia Scarpelli de Lima Alvarenga - Foto: Pádua de Carvalho/EncontroSeja para gente ou bicho, um alimento funcional é aquele que, ao ser consumido, provoca efeitos positivos no metabolismo ou na fisiologia do corpo. Rações que contenham subprodutos de origem animal em sua composição, como órgãos, vísceras e outros são de qualidade inferior às produzidas a base de proteínas musculares.
A dica dos especialistas é estar atento aos rótulos e verificar com cuidado a lista de ingredientes usados na fabricação, buscando entender as fontes de carboidratos, proteínas e de gordura. Quanto menor a lista, melhor. Outro ponto importante é a forma de armazenamento do alimento. Não adianta pagar caro - e põe caro nisso - em uma ração super premium e deixá-la aberta, para ressecar e perder toda umidade.

Também é recomendado sempre misturar um pouco de ração úmida à ração seca para variar o sabor e torná-la mais apetitosa e palatável. "Há milhares de anos os animais foram acostumados a variar um pouco a alimentação. Se até o planeta muda as estações, imagina comer a mesma coisa todo dia", diz Leonardo. Ele recomenda dar até vinte por cento do que o pet come em carne, junto com a ração, em alguns dias da semana. No caso de patês, eles devem representar apenas 5% da alimentação diária. Se a indicação do fabricante, de acordo com o peso do animal, é para dar 200 gramas de ração ao dia, por exemplo, significa que serão 100 gramas de manhã e 100 no início da noite. Água sempre à vontade.

Lica Maria, shih tzu de 7 anos, sofre com a formação de cálculos na bexiga e dermatite atópica. Por isso, utiliza ração especial, com pouca proteína: "É um pouco complicado, pois ela deve evitar comer proteína e petiscos. Acrescentamos apenas legumes à ração, inclusive no intuito de agradá-la", diz a oficial de Justiça Eliane Cabral de Lacerda (na foto, com o marido, Nestor Lombida Hunt) - Foto: Pádua de Carvalho/EncontroQuanto se trata da alimentação dos pets, o assunto é bem extenso e complexo, baseado em diversas variáveis.
Entre elas, idade, sexo, porte e condição de saúde dos bichos. É preciso avaliar se o animal é castrado, gestante, idoso, se possui alergias, doenças crônicas, se tem tendência à obesidade, e por aí afora. "São várias as doenças ocasionadas por erros na formulação de rações. O excesso de determinado mineral, como o fósforo, por exemplo, pode ocasionar uma doença renal grave", diz Ana Letícia Bicalho, médica veterinária especializada em medicina interna da clínica São Francisco de Assis. Segundo ela, rações de prescrição para combater determinada doença podem ser muito eficazes quando utilizadas por um período, mas se forem mantidas por mais tempo que o indicado, podem prejudicar a absorção de nutrientes importantes, ocasionando uma desnutrição. O mesmo acontece quando rações formuladas para cães são utilizadas para gatos. "A quantidade de proteínas reduzida e a falta de determinados aminoácidos irão causar no gato uma grave deficiência e doenças como cegueira e insuficiência cardíaca." Na dúvida, busque sempre a orientação de um especialista experiente em nutrição animal. Afinal, quando se trata de uma vida, todo cuidado é pouco.

Dicas para não errar na hora de comprar a ração do seu pet:

  • Leia atentamente o rótulo da embalagem para verificar a lista de ingredientes usados na fabricação, buscando entender as fontes de carboidratos, proteínas e de gordura

  • Rações que contenham subprodutos de origem animal em sua composição, como órgãos, vísceras e outros são de qualidade inferior às produzidas a base de proteínas musculares

  • A ração mais adequada será definida de acordo com as necessidades nutricionais do pet, seguindo algumas características como raça, nível de atividade, porte e estágio da vida

  • Busque informações sobre o fabricante, referências, para ter confiança de que o produto entrega tudo aquilo que promete

  • Ração de qualidade é atrativa ao paladar, evita o excesso de fezes, leva a uma maior absorção dos nutrientes e resulta em pelo mais bonito e bicho saudável

  • Cães são onívoros e sua ração deve conter carne, frutas, grãos e vegetais. Já os gatos são carnívoros  e sua alimentação deve ser à base de proteínas, gordura, minerais e vitaminas
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