Revista Encontro

PET

Saiba como evitar que o animal de estimação sofra com problemas na boca

Porta de entrada para vírus e bactérias, sua manutenção previne graves doenças. Saiba como evitar que seu bichinho tenha complicações

Daniela Costa
A cadelinha Phelpinha estava com um dente quebrado, como conta a psicóloga Débora Lopes junto à veterinária Fabiana Moura, da Clínica São Francisco de Assis: "Descobrimos durante a consulta de check-up anual. Assim evitamos que ela sofresse com dor" - Foto: Caio Leme/Encontro
A sabedoria popular não se engana. O ditado que diz que "a saúde começa pela boca", referindo-se à importância dos cuidados com a saúde bucal, já foi comprovado e não se aplica somente aos humanos. Porta de entrada para vírus e bactérias, a boca é parte importante do corpo e sua manutenção previne graves doenças periodontais. A mais comum, a gengivite, que provoca reações inflamatórias, causando desde dor e hemorragia à retração da gengiva com perda óssea e formação de bolsas que causam aquele terrível mau hálito. E os malefícios não param por aí. As bactérias acumuladas podem cair na circulação sanguínea, gerando doenças no coração, fígado e rins. Sem falar na importância de ter dentes saudáveis para realizar uma mastigação correta e obter maior absorção dos nutrientes dos alimentos durante a digestão.

A aposentada Andréa Simões Mendes levou Nina e Pietro para cuidar da saúde bucal: "Desde que eles foram resgatados da rua, ainda não tinham passado por esses cuidados. Fiquei muito satisfeita", diz, ao lado de Jéssica Dias (à esq), Leandro Carvalho e Jéssica Carvalho, da equipe veterinária da Clínica Padre Eustáquio - Foto: Caio Leme/Encontro"A fratura dos dentes é outra alteração comum em cães e gatos. Normalmente devido ao hábito de mastigar estruturas rígidas, ou quando sofrem algum tipo de trauma", diz o médico veterinário Leonardo Dutra Gomes de Faria, da Clínica Padre Eustáquio.
Outro problema comum, destaca o veterinário, é a persistência de dentes de leite (decíduos), causando dentição dupla e predispondo à formação da placa de tártaro. Tumores na boca tendem a ocorrer principalmente em animais com idade mais avançada. A cadelinha Phelpinha, de  10 anos, sem raça definida (SRD), estava com um dente quebrado, provavelmente por ter mordido algum brinquedo. "Descobrimos durante a consulta de check-up anual. Assim evitamos  que ela sofresse com dor", diz a psicóloga Débora Lopes.

A cadelinha Maraísa foi resgatada pela advogada Caroline Rodrigues Braga já com idade avançada: "Além dos cuidados gerais, a primeira orientação do veterinário foi fazer a limpeza para remover o tártaro. Ela passou a comer melhor e ficou mais disposta"s - Foto: Pádua de Carvalho/EncontroEspecialista em odontologia veterinária na clínica Zoodonto, Luiz Sofal desmistifica a crença de que é normal que os animais percam os dentes ao longo dos anos. "De modo algum. Isso ocorre por falta de cuidados com a higiene dentária. Cães e gatos que têm esses cuidados não sofrerão com perdas precoces", afirma. A Associação Brasileira de Odontologia Veterinária (ABOV) informa que infecções na gengiva são comuns nos pets, e aproximadamente oito a cada dez sofrem com o problema. Outras pesquisas revelam que cerca de 80% destes animais de estimação já precisam de tratamentos dentários após os quatro anos de idade. Pela primeira vez, a funcionária pública aposentada Andréa Simões Mendes levou seus cães para cuidar dos dentinhos. Nina, SRD de 5 anos, e Pietro, poodle da mesma idade, precisaram fazer a remoção de tártaro. "Desde que eles foram resgatados da rua, ainda não tinham passado por esses cuidados.
Fiquei muito satisfeita com os resultados", diz.

A produtora rural Isabela Veiga Quadros conta que a maltês Lila, de 8 anos, faz limpeza de tártaro desde 1 ano de idade: "Nós realizamos anualmente, coincidindo com os exames de check-up como hemograma, função renal e hepática" - Foto: Pádua de Carvalho/EncontroMas o que fazer para prevenir tantos problemas? Segundo os especialistas, o primeiro passo é condicionar os pets a aceitarem que suas bocas sejam manipuladas, de tal forma que seja possível realizar massagens periódicas em seus dentes e gengivas desde filhotes, para que na fase adulta aceitem a escovação, que deve ser feita pelo menos a cada 48 horas. O uso de antissépticos adequados às espécies também é indicado de duas a três vezes por dia, assim como produtos de mastigação que ajudem na remoção da sujeira acumulada nos dentes. E atenção: raças de menor porte são mais predispostas a sofrer com doenças periodontais, entre elas yorkshire, maltês, poodle e pinscher. Nesses casos, os cuidados devem ser redobrados e iniciados a partir de um ano e meio de idade. "Além de maior formação de tártaro nessas raças, o menor tamanho do osso alveolar leva à perda dentária mais precocemente", explica o veterinário Luiz Sofal.

Especialista em odontologia veterinária na clínica Zoodonto, Luiz Sofal desmistifica a crença de que é normal que os animais percam os dentes ao longo dos anos: "Isso ocorre por falta de cuidados com a higiene dentária", diz, com a bulldogue Morgana e sua tutora, a instrutora de pole dance, Bruna Lacerda - Foto: Paulo Márcio/EncontroA limpeza do tártaro, tecnicamente chamada de profilaxia oral, deve ser realizada exclusivamente por médico veterinário e necessita de sedação do paciente para que seja feita a remoção de todo o cálculo dentário, sem que o animal sofra durante o procedimento. Após a remoção é feito o polimento dos dentes para que a superfície fique mais lisa e dificulte a fixação de bactérias. O ideal é que o procedimento seja realizado pelo menos uma vez ao ano, apesar de alguns animais necessitarem de limpeza a cada trimestre ou semestre. "O tratamento periodontal é fundamental e consiste na avaliação completa da cavidade oral, na realização de raio x, além da raspagem do tártaro supra e subgengival e polimento dentário", diz a médica veterinária Fabiana Moura, especializada em odontologia e anestesiologia veterinária na Clínica São Francisco de Assis.

A cadelinha Maraísa, SRD, foi resgatada em 2021 pela advogada Caroline Rodrigues Braga. Com idade avançada, estima-se 7 anos, já apresentava problemas periodontais. "Além dos cuidados gerais, a primeira orientação do veterinário foi fazer a limpeza para remover o tártaro.
Depois disso, ela passou a comer melhor e ficou mais disposta", diz a tutora. O procedimento requer uso de anestesia e, portanto, só deve ser feito após a realização de exames que comprovem que o pet está em boas condições de saúde. A produtora rural Isabela Veiga Quadros conta que a maltês de 8 anos Lila faz limpeza desde 1 ano de idade. "Nós realizamos anualmente, coincidindo com os exames de check-up como hemograma, função renal e hepática", diz. Muito mais do que um sorriso bonito e uma lambida cheirosa, cuidar da saúde bucal dos animais de estimação é garantir que eles vivam mais e felizes.
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