Estado de Minas EDUCAÇÃO

Escolas de Belo Horizonte apostam em aulas multidisciplinares

Ideia é ultrapassar os limites curriculares do ensino tradicional e contribuir para o desenvolvimento humano e integral dos alunos


postado em 09/10/2022 22:49 / atualizado em 09/10/2022 22:49

(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Não há como negar a importância do ensino tradicional para a formação intelectual e moral de crianças e adolescentes. No entanto, há muito que a construção de um conhecimento globalizado, voltado para a valorização de diferentes habilidades e para a capacitação integral do ser humano é ansiada, rompendo com os limites impostos pela metodologia convencional. Ainda não se pode dizer que a clássica sala de aula, repleta de alunos teoricamente atentos ao conteúdo dado pelo professor, seja coisa do passado. Mas, sem dúvidas, a busca por um ensino multidisciplinar que ultrapasse os limites curriculares e contribua efetivamente para o desenvolvimento de cidadãos conscientes é cada vez maior.

"Muitas vezes, o aluno enfrenta várias dificuldades no ensino tradicional e, mesmo assim, alcança êxito em sua vida profissional. Por isso é importante identificar e valorizar as aptidões de cada um", diz Mayra Araújo, diretora pedagógica do Sistema Logosófico de Educação. Na instituição, a formação humana e integral é pensada com base em uma tríplice configuração, tanto  na educação infantil quanto no ensino fundamental e médio, dentro de uma concepção do ser humano composto por uma realidade física, psicológica e espiritual. "O nosso propósito é que o jovem que sai do Logosófico contribua de forma efetiva para um mundo melhor. Por isso, procuramos oferecer amplo campo de experimentação na prática do bem", diz a diretora. E é criando oportunidades dentro da própria escola que os alunos aprendem a exercitar valores como a honestidade e a cooperação entre colegas. Por lá, atividades corriqueiras, como arrumar a própria cama, ajudar a lavar a louça e não desperdiçar água são de grande valor.

(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Atualmente, no Brasil, sete linhas pedagógicas principais são adotadas nas escolas: comportamentalista, construtivista, democrática, freiriana, montessoriana, tradicional e waldorf.  Cada uma delas possui conceitos e metodologias próprias que, de modo geral,  resultam em ações mais práticas no processo de ensino e aprendizagem. A escola tradicional originada na Europa no século XIX, juntamente com a criação dos sistemas nacionais de ensino, é o modelo mais conhecido, adotado em escolas públicas e privadas. E foi da expansão da educação na Revolução Industrial (1820-1840) que surgiu a configuração convencional de sala de aula, com carteiras enfileiradas. Com o passar dos anos, a necessidade de se investir em novas metodologias para tornar o aprendizado mais atraente e eficiente fez surgir novas vertentes de ensino, levando à multidisciplinaridade. No Brasil, o patrono da educação brasileira, o educador, pedagogo e filósofo pernambucano  Paulo Freire foi o brasileiro mais homenageado da história por títulos de Doutor Honoris Causa, concedido por universidades a pessoas eminentes. Entre outras coisas, ele acreditava na educação como ferramenta de transformação social e como forma de reconhecer e reivindicar direitos.

Independentemente da linha pedagógica adotada, tornou-se claro que aprender é um processo que envolve todos os sentidos. Para que eles se desenvolvam, no entanto, é necessário que sejam estimulados. O que tornou o formato rígido da escola tradicional ultrapassado. Na multidisciplinaridade é possível fazer um passeio no parque e aprender ao  mesmo tempo conceitos sobre zoologia, botânica e ecologia, obtendo resultados mais efetivos e longevos. O objetivo é que os alunos percebam a aplicação do que aprenderam de forma prática em seu dia a dia. Outro aspecto importante dessa linha de ensino é o respeito às diferenças e a valorização das aptidões de cada um. Para os especialistas, trazer diferentes experiências para o âmbito escolar e apostar na inovação é algo que deve fazer parte da programação de qualquer instituição de ensino.

(foto: Paulo Márcio/Encontro)
(foto: Paulo Márcio/Encontro)
Na Fundação Torino, escola internacional regularizada pelos governos brasileiro e italiano, a educação multicultural é pautada por valores humanistas. "Acreditamos no conhecimento como fruto de uma ampla gama de experiências intelectuais, emocionais, físicas e estéticas, capazes de desenvolver a sensibilidade do aluno e prepará-lo para a diversidade do mundo contemporâneo", diz Márcia Naves, diretora geral. Cada etapa da formação do aluno, da educação infantil ao ensino médio, diz ela, contribui para que o conhecimento adquirido ao longo dos anos seja relevante não apenas para a vida acadêmica, mas também para um desenvolvimento humano pleno e consistente de cada indivíduo. "A capacidade de trabalhar criticamente e o protagonismo na aprendizagem fazem parte de nossa filosofia educacional".

Aprender brincando é o lema da Escola Bilboquê Vila da Serra, que recebe crianças de 04 meses a 08 anos de idade. "Nossa proposta pedagógica sempre esteve relacionada às situações lúdicas, em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e com as metodologias ativas", diz a diretora Renata Lamounier. Para ela, a partir de novas formas de aprendizagens é possível contribuir para a formação de indivíduos criativos, descobridores, autônomos e preparados para enfrentar o mundo. Em 2022, a Cultura Maker foi adotada na unidade do Vila da Serra, como parte de um projeto-piloto que também será estendido para as unidades do Gutierrez e Buritis, no ano que vem. A mentalidade maker busca criar, construir, reconstruir, reparar e remendar, com a premissa de explorar os objetos cotidianos, ressignificando suas funções e minimizando o desperdício. "O espaço escolar não é algo estático e imutável. Ele está em constante movimento e transformação para acolher e desenvolver toda pluralidade de competências e aptidões", diz a diretora.

(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Na escola Chez L'Enfant, que recebe alunos do berçário aos 5 anos de idade, a diretora Maria Lúcia Rodrigues da Silva sabe bem da importância do ensino na primeira infância. "É o alicerce do ser humano", diz. Seguindo a filosofia montessoriana, defende o desenvolvimento da autonomia, mas com responsabilidade, estimulando a criança a cuidar de si mesma, do outro e do ambiente. No local, o contato dos alunos com a arte e com a música são primordiais. "Todo ano trabalhamos com um artista plástico e um músico, para estimular a sensibilidade. Fazemos visitas a galerias, museus, além de aulas de música clássica. São experiências para toda a vida." Enquanto as sementes plantadas em vasos e cultivadas pelos pequenos na escola germinam plantas, as sementinhas do conhecimento plantadas através do ensino humanizado geram futuros cidadãos de bem. Mais do que ensinar, os especialistas acreditam que é preciso educar e contribuir para a formação de seres realmente humanos, que valorizem a união, a empatia e o respeito a todas as formas de vida.

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