- Gabriel, vamos fazer.
- Espera, vamos olhar com calma.
- Vamos fazer. Vamos fazer.
E fez mesmo. Logo após esse rápido bate papo, Ronaldo comprou o Cruzeiro.
O diálogo foi a quase 8 mil quilômetros de distância da Toca da Raposa, mais especificamente em Valladolid, terra do clube espanhol de mesmo nome que também tem o Fenômeno como dono. Na época, Gabriel era diretor de negócios da equipe. Mas a dobradinha entre ele e Ronaldo começou em 2016, ano em que o pentacampeão mundial comprou a Octagon, agência de marketing esportivo que tinha Gabriel como CEO. Dois anos depois, o ex-jogador decidiu investir em seu primeiro clube de futebol, o Real Valladolid, e levou Gabriel para assumir os negócios do clube.
Perfil:
- Gabriel Lima, 39 anos
- Casado, três filhos
- Administrador de empresas formado pela Universidade Federal Fluminense. Atual CEO da SAF Cruzeiro. Foi consultor financeiro na Accenture (2005 - 2010), presidente da agência de marketing esportivo Octagon (2016 - 2019) e diretor de negócios do Real Valladolid (2019 - 2022)
Quis o destino, no entanto, que a próxima morada de Gabriel fosse a capital mineira, ou melhor, a Toca da Raposa 2, literalmente. Durante cinco meses, o líder da transição da SAF morou no centro de treinamento, no bairro Céu Azul. Enquanto isso, a família, a mulher Flávia e os filhos Manoela, de 8 anos, Pedro, de 4 e Lucas, de 3, seguiram em terras espanholas. Além da distância da família, Gabriel teve de aguentar a pressão de estar à frente de toda a parte administrativa e financeira de um clube grande, com torcida apaixonada e que rezava pelo fim da turbulência. "O ritmo era muito intenso. Acordar e dormir (muito pouco) no trabalho facilitava (risos)".
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No fim de 2021, no dia 23 de dezembro, quando a intenção de compra do ex-atacante foi anunciada, a Raposa amargava o segundo ano na divisão de acesso do futebol brasileiro. E o futuro não era lá muito promissor. "Fiquei impressionado sobre o quão a torcida é apaixonada e como tudo é grande quando se trata de Cruzeiro", diz Gabriel, lembrando dos primeiros meses no clube e tendo que lidar com decisões difíceis, uma delas, a dispensa do goleiro Fábio. "A torcida, entretanto, entendeu que aquelas ações eram necessárias para um trabalho de longo prazo", diz.
O CEO estrelado entendeu que as coisas estavam na direção correta não quando a Raposa voava na Série B, vencendo quem estivesse à frente. Foi ainda na final do Campeonato Mineiro, na derrota para o seu principal rival (3 a 1), o Galo. "Vi a torcida cantando sem parar mesmo após a derrota. Isso eu vou levar para o resto da vida. Ali eu vi que os torcedores tinham abraçado o clube", diz.
E abraçaram mesmo. De cerca de 10 mil sócios-torcedores ativos, o clube passou a 70 mil. E a meta para este ano, na volta à elite do futebol brasileiro, é alcançar 100 mil. O clima mudou na Toca, mas Gabriel segue com os dois pés fincados no chão. "O indicativo é positivo, mas o Cruzeiro requer ainda muitos cuidados. Ele era um paciente na UTI, hoje está na semi-UTI. 2023 será um ano chave", diz, convocando a torcida a continuar apoiando a equipe. No que depender do "médico", logo, logo os cruzeirenses verão o clube receber alta.
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