Uma das fontes instaladas na revitalização da Praça Diogo de Vasconcelos, conhecida como Praça da Savassi: obra foi concluída em 2012 - Foto: Paulo Márcio/EncontroNo início, tudo era Funcionários. Os bairros Savassi e Boa Viagem, que conhecemos hoje, faziam parte do mesmo território batizado em homenagem aos funcionários públicos, transferidos da antiga capital das Minas Gerais, Ouro Preto, para a então recém-criada Belo Horizonte.

Caminhar pelas ruas dos bairros Funcionários e Savassi é, portanto, se relacionar com a história da capital mineira. O lugar passou a existir, praticamente, junto com ela, lá pelos idos de 1897. E não é difícil de se deparar com relatos de que naquela época, a região, hoje cheia de prédios, estabelecimentos comerciais e vida própria, já teve um ar interiorano. "As crianças, criadas soltas, passavam o dia todo na rua, voltando para casa apenas quando as mães berravam o nome delas da janela ou a empregada ia buscá-las", escreve Maria do Carmo Brandão no livro Funcionários, da série BH - A Cidade de Cada Um, lançado em 2017.

Visitante ilustre: o "pirulito da Praça Sete" ficou hospedado no cruzamento das avenidas Getúlio Vargas com Cristóvão Colombo entre os anos de 1963 e 1980 - Foto: Estado de Minas/ArquivoO fato de a região ter sido a escolhida para receber os funcionários públicos do estado, devido à proximidade com a Praça da Liberdade, centro do poder mineiro, fez com que ela recebesse boa oferta de estrutura urbana, como água, iluminação e transporte. Todo esse privilégio se reflete até hoje. A região tem um dos melhores IDHM’s (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), registrando 0,954. É fácil de entender o que esse número significa: quanto mais próximo de 1 (um), maior a qualidade de vida registrada no lugar. Só para se ter uma ideia, o IDHM geral da cidade é bem mais baixo: 0,810.

Mas nem tudo se resumia a trabalho. A culpa era de uma padaria, a Savassi, na década de 1940, e, anos depois, de um cinema, o Pathé. O ponto do cafezinho e do pão fresco recebeu o nome de uma das famílias mais tradicionais da cidade. Mas não pense que a escolha foi de primeira hora. A padaria era para se chamar 13 de maio. Contudo, Danilo Savassi, falecido em 2019, revelou à Encontro, dois anos antes, que foi ele que sugeriu ao pai, Hugo Savassi, homenagear a família no empreendimento. A escolha não poderia ser mais acertada. A atual praça Diogo de Vasconcelos, que também foi chamada de 13 de maio, hoje, é mais conhecida como Praça da Savassi.

A padaria que deu nome ao bairro: desde a década de 1940, era frequentada por personalidades e escolhida por amantes do footing, a tradicional paquera que atiçava a juventude da época - Foto: Estado de Minas/ArquivoNessa conversa com a reportagem de Encontro, Danilo lembrou ainda de um percalço, e dos grandes, que a família viveu. Em 1942, por causa de um navio brasileiro afundado na Segunda Guerra Mundial, a padaria foi saqueada e destruída. Tudo por conta da origem italiana dos Savassi. "Não sobrou nem uma lata de sardinha", lembrou. A história que ficou da padaria, entretanto, foi de agito, e dos bons. Era frequentada por personalidades importantes como JK, e escolhida por amantes do footing, a tradicional paquera que atiçava a juventude da época.  A padaria, inclusive, era frequentada por uma turma famosa de outrora, a Turma da Savassi.

Uma passagem famosa é a de quando o obelisco da Praça Sete, apelidado carinhosamente de Pirulito, deu o ar das graças por lá. Ele teve de ficar provisoriamente no cruzamento das avenidas Getúlio Vargas com Cristovão Colombo, entre 1963 e 1980, pois a área central passava por reforma. Com o tempo, a Savassi começou a se desvencilhar do Funcionários. Em 1991, foi desmembrada e se tornou região. Na década seguinte, se transformaria em mais um bairro de Belo Horizonte. Entre reformas e revitalizações, a região segue com o seu valor histórico e, sobretudo, afetivo.

*Censo 2010 IBGE
** Índice de Qualidade de Vida Urbana de BH (IQVU) - Prefeitura de BH
*** Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil