Estado de Minas SAÚDE

Santa Casa alcança nível A em doações e transplantes de órgãos e medula

Hospital é o único de Minas Gerais a conseguir o feito no QualiDot, programa de qualidade do Ministério da Saúde


postado em 24/04/2023 07:01

A Santa Casa de BH: primeiro transplante realizado no prédio da Santa Efigênia, de córnea, ocorreu em 1973(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
A Santa Casa de BH: primeiro transplante realizado no prédio da Santa Efigênia, de córnea, ocorreu em 1973 (foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
"Quando eu saí do hospital e reencontrei minha filha, falei 'sabe aquele dodói da mamãe? Ele sarou', e ela respondeu 'ebaaa!'. Foi muito gostoso. Foi um recomeço na minha vida", lembra a bancária Janaína Coelho, de 40 anos. O reencontro com a filha Marcela, na época com 1 ano e 10 meses, aconteceu em julho do ano passado, sete dias após a internação para a realização de um transplante de fígado na Santa Casa de Belo Horizonte.

A instituição, que já era referência em transplantes em Minas Gerais, agora é a única do estado com Nível A no Programa de Qualidade no Processo de Doação e Transplantes (QualiDot), do Ministério da Saúde. Instituído em 2022, o QualiDot tem o objetivo de medir a qualidade do serviço em todo o país. Entre os critérios estão tempo médio de espera na lista de transplante, número de cirurgias realizadas, segurança dos procedimentos e acompanhamento dos pacientes. A conquista é motivo de orgulho. "A missão da Santa Casa é fazer uma saúde de ponta para todos, e o transplante representa isso", afirma o médico intensivista e diretor de Assistência à Saúde da Santa Casa BH, Cláudio Dornas. Todos os atendimentos realizados pelo hospital são feitos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), sem custo para os pacientes.

Após receber um transplante de fígado, Janaína Coelho voltou a carregar a pequena Marcela no colo:
Após receber um transplante de fígado, Janaína Coelho voltou a carregar a pequena Marcela no colo: "Antes, quando eu pegava minha filha, sentia uma compressão muito grande" (foto: Arquivo pessoal)
O caminho para chegar a esse resultado começou a ser traçado há meio século, em 1973, quando teve início o serviço de transplante de córnea na Santa Casa. Ao longo dos anos, o hospital foi crescendo e hoje também realiza transplantes de rim, fígado, coração e medula óssea. Cada cirurgia envolve o empenho de dezenas de profissionais, como explica o coordenador do Transplante de Fígado da Santa Casa BH, Agnaldo Lima. "A gente tem uma equipe grande para dar conta de tudo. Não é só a operação em si, tem todos os atendimentos e controles pós-operatórios:, afirma. "Tem ainda os anestesistas, que se qualificam especificamente para isso, além da enfermagem, da psicologia e da fisioterapia."

O tratamento começa assim que o paciente é encaminhado para o centro de transplantes. Após uma série de consultas e exames, ele é incluído na lista de espera: além da ordem de inscrição, a fila leva em conta a urgência do caso e a compatibilidade entre o paciente e o doador. A organização das listas de espera são estaduais e o Sistema Nacional de Transplante regulamenta e monitora todo o processo. Quando um doador aparece, o órgão passa por uma avaliação e o paciente é acionado. No dia 20 de julho de 2022, foi a vez de Janaína. "Atendi o telefone e falaram para eu estar no hospital no dia seguinte, às sete horas da manhã."

O médico intensivista e diretor de Assistência à Saúde da Santa Casa BH, Cláudio Dornas:
O médico intensivista e diretor de Assistência à Saúde da Santa Casa BH, Cláudio Dornas: "Nossa missão é fazer uma saúde de ponta para todos, e o transplante representa isso" (foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Janaína conta que tudo começou em novembro de 2021, quando percebeu um volume na barriga. "Até fiz dieta, mas continuei com a barriga volumosa. Marquei um clínico porque aquilo me incomodava esteticamente." O clínico a encaminhou para uma consulta com Agnaldo, que constatou uma síndrome compartimental no fígado: o órgão funcionava normalmente, mas estava coberto de cistos. Para não gerar uma compressão, ela precisaria de um transplante. "Perdi o chão. Saí vagando sozinha pelas ruas da Santa Casa, pensando 'meu Deus, o que eu vou fazer?'. Quando você escuta pela primeira vez a palavra transplante, acha que está condenada", diz. Devido a urgência do caso, Janaína ficou pouco menos de um mês na fila até receber a ligação. Após 12 horas de cirurgia, o antigo fígado – que já pesava 9 quilos – foi inteiramente retirado. "O que parecia o fim, na verdade foi o começo. Hoje eu tenho uma vida normal", afirma Janaína, que tem planos de voltar a correr e sonha em um dia disputar a São Silvestre.

Além de todo o cuidado durante a cirurgia, os pacientes transplantados são acompanhados no pós-operatório. "No início esse controle é semanal. Depois que a pessoa fica estável, ela volta de três em três meses e, depois, de seis em seis", explica Agnaldo. "Eu me sinto orgulhoso em fazer parte disso. A gente trabalha no dia a dia para fazer bem o nosso serviço, e não para ganhar prêmio, mas receber essa certificação é um incentivo, mostra que a gente está no caminho certo".

O coordenador do Transplante de Fígado da Santa Casa BH, Agnaldo Lima:
O coordenador do Transplante de Fígado da Santa Casa BH, Agnaldo Lima: "Receber essa certificação é um incentivo, mostra que a gente está no caminho certo" (foto: Divulgação)
No ano passado foram realizados 218 transplantes na Santa Casa, o que faz do hospital um dos maiores transplantadores de órgãos, tecidos e células de todo o país. Ao alcançar o nível A do QualiDot, a instituição vai receber 65% a mais do valor de cada transplante de órgão e tem autonomia para decidir de que forma o dinheiro será aplicado. Cláudio Dornas afirma que a instituição tem investido recursos próprios na manutenção e ampliação do transplante de medula óssea e pretende aumentar esse serviço. "Temos uma capacidade instalada para fazer o dobro de transplantes de medula", assegura. Outro objetivo é ter sustentabilidade financeira para seguir atendendo as pessoas com qualidade, uma vez que elas são acompanhadas pelo hospital pelo resto de suas vidas.

A qualidade no atendimento, aliás, é um dos pontos mais reforçados por Janaína. "Nesse processo até a cirurgia eu fiz uma segunda família. Todo mundo vibrava comigo, torcia, me passava força. Não era só a excelência no serviço, era muito além, era humanidade." A alegria de Janaína e de tantos outros depende também da doação de órgãos. Agnaldo reforça a importância de as pessoas conversarem com amigos e familiares sobre o assunto: "Sempre que a gente fala dessas histórias emocionantes, a gente tem que lembrar que uma família que estava sofrendo pela perda de alguém fez esse gesto muito bonito que é doar órgãos."

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação