







Na segunda metade da década de 1990, com o negócio - e o país - mais estabilizado, Alexandre e Hallison puderam investir em qualidade. Em 1996, foram a sua primeira feira de varejo, em Chicago. Como uma irmã de Hallison morava em Nova York, aproveitaram para esticar a viagem. Ficaram impressionados com algumas operações de varejo, em especial empórios como Balducci’s e Dean & DeLuca. Voltaram com a ideia de um supermercado que não vendesse apenas "produtos a granel e latinhas", mas itens do mundo inteiro. Queriam inovar também no layout e levaram para a loja do São Pedro móveis de madeira de demolição que garimpavam em Tiradentes. "Os clientes elogiavam e diziam que havia ficado lindo. Mas perguntavam: ‘Quando vocês vão pintar as estantes?’", conta Hallison. Também surgiram nessa época os famosos arcos da loja 1. Os sócios queriam aumentar a área de vendas, mas para isso precisavam derrubar uma parede grossa, que servia de arrimo. Chamaram um engenheiro da Copasa, que deu a ideia de quebrar as pedras, mas deixar os arcos, "como na Roma antiga". Como a parede era grossa demais, foi necessário um maquinário específico. "Os vizinhos entraram em pânico, ligaram para a polícia e disseram que íamos derrubar o prédio", diz Alexandre. "Até explicarmos que havíamos feito um estudo de engenharia, foi um trabalhão."

Com a profissionalização do grupo, casos assim, de puro "feeling", ficaram raros. Hoje, cada passo é muito bem estudado e a equipe de executivos tem reuniões semanais com representantes da consultoria Falconi para avaliar o caminho adotado. "Posso dizer que o Verdemar não mudou apenas da água para o vinho, mas para o vinho mais caro que existe", afirma o controller Carlos Alcino Furiati, que entrou no grupo há 21 anos. Ele lembra que, no início da década de 2000, ainda se pagava empregados com dinheiro. "Funcionários retiravam dinheiro do caixa, envelopavam e entregavam para os colegas." Outra mudança significativa foi em relação ao faturamento. Em 2002, o Verdemar faturou 34 milhões de reais. Em 2022, mais de 30 vezes esse valor.
Com pouco mais de 50 anos, tanto Hallison quanto Alexandre dizem que ainda não se preocupam com processo de sucessão na empresa. Mas Enzo Chiari Poni, filho mais velho de Alexandre, já começa a acompanhar o pai pelos corredores do Verdemar. Aos 17 anos, o aluno do terceiro ano do curso técnico em administração do Sebrae ainda não decidiu que faculdade irá cursar, mas mostra-se empolgado em ver o "carinho" que o pai tem pelo trabalho. "Apesar de ser muito ligado à família, posso dizer que a vida dele é o Verdemar."
Os planos de Alexandre e Hallison para a rede são ambiciosos. Nos próximos três anos, eles pretendem abrir mais sete lojas: três em Nova Lima (no shopping Himalaya, no Vila da Serra; em Alphaville; e ao lado do condomínio Village Terrasse), uma no Belvedere, uma em Lagoa Santa e mais duas em outros dois bairros na Zona Sul de BH, ainda em sigilo. "Pode parecer muito, mas não estamos atrás de crescimento a qualquer custo. Temos o nosso pé no chão", diz Alexandre. "Ao mesmo tempo, achamos importante estarmos cada vez mais perto dos nossos clientes. É uma ideia até sustentável para que as pessoas precisem se deslocar cada vez menos." Essa expansão está ligada à maneira com que Alexandre e Hallison entendem o negócio que criaram. "Queremos que os clientes venham até nós, se encantem e se surpreendam", diz Hallison. "Acreditamos na frase ‘o que os olhos veem, o coração sente’." Por isso mesmo, o e-commerce representa uma fatia pequena do faturamento, algo em torno de 3%. Para corroborar a tese, Alexandre cita como exemplo a National Retail Faire (NRF), maior feira de varejo do mundo, realizada anualmente em Nova York. Segundo ele, em 2022 o tema mais discutido havia sido o metaverso e suas implicações nas vendas. "Este ano, ninguém queria saber de internet, só de loja física", afirma. "Até as grandes redes de comércio virtual estão se rendendo aos espaços físicos."
Apesar da abertura de novas lojas, da profissionalização da equipe e do faturamento bilionário, uma coisa ainda continua tão fresca na mente de Alexandre e Hallison quanto naqueles tempos em que ir a feiras internacionais era quase uma aventura e a "rede" se limitava à loja do São Pedro: a busca incessante pela qualidade e pelo atendimento impecável. O que faz o Verdemar ser conhecido como "a disneylândia da gastronomia". E não apenas dentro das divisas de Minas Gerais.
Três décadas de crescimento : expansão do grupo teve início nos anos 2000 e se intensificou a partir de 2010
- 1993 - Compra de uma pequena mercearia na rua Viçosa, no bairro São Pedro, já chamada Verdemar
- 2001 - Inauguração da segunda loja, no Sion, que depois de diversas reformas e ampliações conta hoje com 2,4 mil metros quadrados de área de venda. É onde funcionam também as áreas administrativa, financeira e industrial
- 2004 - Abertura da unidade do Buritis, quando o bairro ainda era uma aposta
- 2007 - Modernização da primeira loja, no bairro São Pedro, e inauguração da unidade complementar, na contra-esquina, focada em hortifrúti e peixaria
- 2009 - Chegada ao DiamondMall. Ainda hoje é a loja com maior venda por metro quadrado
- 2010 - Abertura da unidade Jardim Canadá e incorporação da Padaria Cataguases, que pertencia à família de Alexandre Poni desde 1992
- 2011 - Inauguração da unidade Raja Gabaglia
- 2016 - Criação da loja da Savassi, na rua Fernandes Tourinho
- 2017 - Abertura de quatro novas lojas: Pampulha, que conta com uma vista privilegiada da lagoa; Serra; Pátio Savassi; e Castelo
- 2018 - Inauguração da loja do bairro Luxemburgo
- 2019 - Abertura da loja Cidade Nova
- 2020 - Inauguração da Verdemar Romanina, que mantém o nome da conhecida padaria do Prado
Sacola de plástico, aqui, não!
Em 2012, o Verdemar lançou uma de suas estratégias de marketing mais conhecidas: as sacolas ecológicas, assinadas pelo estilista Ronaldo Fraga. Desde então, a rede não dá e não vende sacolas plásticas. Os clientes têm a opção de utilizar caixas de papelão ou adquirirem as sacolas retornáveis. “Somos o único grupo do Brasil a manter a prática”, diz Hallison. “E os nossos clientes aceitaram e aceitam muito bem.” Em comemoração ao 30º aniversário, o Verdemar lançou um concurso cultural para selecionar ilustrações de oito mineiros que irão estampar a nova coleção de sacolas retornáveis (veja algumas ao lado). Cada um dos selecionados ganhou um prêmio de 15 mil reais.