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Patrimar comemora 60 anos entre as 10 maiores construtoras do Brasil

Saiba como o grupo tornou-se a maior construtora de empreendimentos de alto luxo de Minas Gerais e do Rio de Janeiro


postado em 19/07/2023 14:00 / atualizado em 19/07/2023 16:53

Alex e Heloísa Veiga (sentados), com Patrícia, Renata e Lucas Couto: para o CEO, união familiar foi essencial para passar pelos momentos de crise e surfar a maré de boas notícias(foto: Uarlen Valério/Encontro)
Alex e Heloísa Veiga (sentados), com Patrícia, Renata e Lucas Couto: para o CEO, união familiar foi essencial para passar pelos momentos de crise e surfar a maré de boas notícias (foto: Uarlen Valério/Encontro)
Apesar do vento frio, a manhã ensolarada do último dia 25 de junho estava convidativa para um passeio na Praça do Papa, no Mangabeiras. Ainda mais por estar programada ali uma apresentação da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, considerada - com justiça - uma das melhores do país. O concerto foi um dos eventos patrocinados pelo Grupo Patrimar em comemoração aos 60 anos da empresa e o CEO Alex Veiga acompanhou compenetrado composições de Tchaikovsky, Bizet, Lorenzo Fernandes, César Guerra-Peixe e Chiquinha Gonzaga, além de uma versão especial de Milagres dos Peixes, de Milton Nascimento e Fernando Brant. Mais de 6 mil pessoas assistiram à performance dos músicos comandados pelo regente associado José Soares. Um sucesso. A escolha pela apresentação da Filarmônica para os festejos de aniversário foi cheia de significados. Além do gosto de Alex Veiga por música clássica, o bom funcionamento de uma orquestra se assemelha em muito a uma empresa. Assim como os músicos, os profissionais precisam estar, claro, afinados, cada um tocando seu instrumento - ou desempenhando sua função - com precisão. E ambos dependem da condução de um grande maestro, que tire de cada um os melhores acordes.

O regente da Patrimar comemora os 60 anos do grupo - que atua em Minas, no Rio de Janeiro e no interior de São Paulo - e também os excelentes números dos últimos anos. Com 3 mil funcionários e presença nos segmentos de alta renda, com a marca Patrimar Engenharia, e econômico e de média renda, com a Novolar, o grupo viu o faturamento saltar de pouco mais de 465 milhões de reais em 2020, para uma previsão de 1,3 bilhão de reais em 2023. Um crescimento de 180% em três anos. Os resultados do primeiro trimestre de 2023, divulgados em maio, mostram a maior receita líquida da história da companhia, com 230 milhões de reais. O lucro líquido foi de 17 milhões de reais, um crescimento de 68,4% quando comparado com o mesmo período de 2022. No ranking da construção imobiliária da revista O Empreiteiro, a Patrimar subiu oito posições de 2021 para 2022, ocupando o 10º lugar entre as 500 empresas analisadas.

O La Réserve, localizado em um dos pontos mais altos do Vila da Serra, na zona sul da região metropolitana de Belo Horizonte: empreendimento terá quatro torres com apartamentos de até 671 metros quadrados(foto: Divulgação)
O La Réserve, localizado em um dos pontos mais altos do Vila da Serra, na zona sul da região metropolitana de Belo Horizonte: empreendimento terá quatro torres com apartamentos de até 671 metros quadrados (foto: Divulgação)
Alex entrou na Patrimar antes mesmo de ela ganhar esse nome. Ele conheceu o fundador da M Martins Engenharia e Comércio, Murilo Martins, na década de 1970, aos 16 anos, quando começou a namorar sua filha Heloísa. Naquela época, a empresa criada em 1963 dedicava-se a obras de engenharia civil, tanto nas áreas rodoferroviária quanto na construção de estruturas de concreto armado. Apesar de estudar engenharia nas Faculdades Kennedy, Alex ganhava a vida como professor de tênis. Conhecido por ser bom com a raquete, ele foi contratado pelo empresário Lúcio Costa, fundador da Suggar Eletrodomésticos, morto em 2022, para dar aulas para sua mulher, Patrícia. "Em Belo Horizonte só havia um prédio com quadra de tênis, o edifício Parque das Mangabeiras, e eu comecei a dar aulas para diversos moradores", diz. Alex ia à faculdade de engenharia de manhã, fazia administração à noite e deixava as tardes livres para as aulas de tênis.  "Ganhava um bom dinheiro e passei a comprar telefone para alugar, consórcio de carro e motocicleta… Comecei a fazer uma série de ‘negocinhos’ e estava indo bem." Mas o sogro o chamou e ofereceu uma oportunidade para mudar de vida: deixar todas essas atividades para fazer um estágio na empresa. "Eu fui ganhar mais ou menos um décimo do que ganhava antes. Lembro que com minhas aulas e os negócios que fazia, ganhava mais do que os engenheiros recém-formados da M Martins."

O estágio, no entanto, fez com que ele descobrisse sua verdadeira vocação - e que se transformou, anos depois, na nova vocação da empresa. Em um sábado pela manhã, Murilo levou Alex e Heloísa em um prédio que estava construindo na rua Ouro Fino, no bairro Cruzeiro. "Quando entrei no apartamento decorado me deu uma coisa e eu pensei: ‘É isso que eu quero fazer da vida’." Foi plantada aí a semente do incorporador. A M Martins construía prédios muito esporadicamente, para vender ou alugar apartamentos e garantir uma renda fixa. Alex já estava formado quando Murilo vendeu um desses prédios, na Savassi, na avenida do Contorno, e recebeu todo o valor antecipado. Murilo sugeriu então que eles usassem a bolada para abrir uma nova firma, a M Martins Empreendimentos Imobiliários, que ficaria sob responsabilidade de Alex. "Ele disse que se esse dinheiro entrasse na empreiteira, iam comprar trator, caminhão, betoneira, guindaste e iria sumir." Alguns anos mais tarde, em 1995, Murilo e seu irmão, Márcio, que eram sócios nas duas empresas, resolveram fazer uma cisão. Márcio saiu da Empreendimentos Imobiliários e Murilo reduziu sua participação na Engenharia e Comércio. Em meio a essa recomposição, Alex aumentou sua participação na M Martins Empreendimentos Imobiliários. Nesse mesmo ano, Murilo e Alex resolveram que precisavam trocar o nome da empresa. E como surgiu Patrimar? "Tínhamos de escolher um nome de uma hora para outra e o Murilo contou que já tinha uma empresa registrada chamada Patrimar", diz Alex. O nome era a junção de Patrimônio Martins. Em 2000, foi fundada a Novolar, para atuar nos segmentos de baixa e média renda, e o grupo chegou à região metropolitana do Rio de Janeiro. Quando foi lançado o Minha Casa, Minha Vida, em 2009, a Novolar chegou a ser a quinta maior operadora do programa no Brasil, na faixa destinada a famílias de menor renda. Hoje, a Novolar responde por cerca de 35% do faturamento anual do grupo.

O Oceana Golf, no Rio de Janeiro, com vista para o mar e para o campo de golfe olímpico: só no primeiro fim de semana de vendas foram comercializadas 80% das 123 unidades(foto: Divulgação)
O Oceana Golf, no Rio de Janeiro, com vista para o mar e para o campo de golfe olímpico: só no primeiro fim de semana de vendas foram comercializadas 80% das 123 unidades (foto: Divulgação)
Assim como aquele primeiro prédio pago à vista mudou os rumos da empresa, outra situação parecida ocorreu no início da década de 2010. Alguns anos antes, Murilo havia passado parte de suas ações para os filhos, Marcelo e Heloísa (sua terceira filha, Ângela, mora no exterior e não tinha interesse em voltar para o Brasil, então recebeu seu quinhão em dinheiro). Em 2012, o sogro procurou Alex com a sugestão de que ele comprasse a parte de Marcelo. O atual CEO da Patrimar propôs pagar em cinco anos, com um sinal e mais nove parcelas. Foi aí que a história se repetiu. Alex e Marcelo haviam construído um edifício na rua Gonçalves Dias, no Funcionários. Colocaram o prédio à venda e em trinta dias apareceu um comprador para levar todos os apartamentos, à vista. "Quando recebi o cheque, eu olhava para ele, ele olhava para mim e eu pensava nas coisas que podia fazer com o dinheiro, mas resolvi antecipar as parcelas da compra das ações", lembra Alex. "Antecipei umas cinco ou seis prestações, o que foi ótimo porque logo em seguida o mercado imobiliário passou por uma crise e eu teria sérias dificuldades para honrar o combinado." Assim que terminou de quitar as prestações do cunhado, o sogro propôs que Alex comprasse também sua parte. "Eu não queria, pois tinha planos de fazer algumas coisas que havia me privado, mas não pude recusar um pedido do Murilo." O fundador da Patrimar morreu algum tempo depois, há cinco anos, de câncer.

Hoje, 100% das ações estão com a família de Alex Veiga. Além da mulher, Heloísa, que é presidente do conselho de administração, as duas filhas do casal trabalham na empresa. Patrícia é gestora de Desenvolvimento Humano e Organizacional, além de assessora de novos negócios do grupo; e Renata é diretora de produto. Em 2020, o grupo se estruturou para abrir capital e realizar uma oferta inicial de ações (IPO), mas desistiu por não considerar o momento adequado. O grupo já tem o registro na categoria A pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e considera retomar o processo quando o mercado estiver mais propício. "Esse é um desejo da empresa e consideramos que, quando for oportuno, conseguimos viabilizar o IPO em até 45 dias", afirma Lucas Couto, diretor comercial e de marketing. Marido de Renata e pai dos quatro netos de Alex e Heloísa (Bernardo e Rafael, de 9 anos; e Luísa e Gustavo, de 4), Lucas Couto já foi anunciado como o próximo presidente do grupo. E aqui, a história se repete mais uma vez. Lucas entrou na Patrimar há 17 anos, como estagiário de engenharia. Formado, chegou a tocar algumas obras, até ser chamado ao escritório, para assumir a área comercial. Pós-graduado em administração de empresas, ele diz que a perspectiva de vir a assumir o controle da companhia "dá um frio na barriga", apesar de a condução estar sendo feita de maneira bastante tranquila, sem pressa. "É uma alegria saber que o Alex deposita essa confiança em mim", diz. "Ele é uma pessoa que inspira e está sempre te puxando para frente, cada vez mais."

Dois eventos em comemoração aos 60 anos da Patrimar: concerto da Filarmônica de Minas Gerais que reuniu mais de 6 mil pessoas na Praça do Papa e a Patrimar Run, realizada na Lagoa Seca do Belvedere, que contou com a presença de 1,5 mil atletas(foto: Divulgação)
Dois eventos em comemoração aos 60 anos da Patrimar: concerto da Filarmônica de Minas Gerais que reuniu mais de 6 mil pessoas na Praça do Papa e a Patrimar Run, realizada na Lagoa Seca do Belvedere, que contou com a presença de 1,5 mil atletas (foto: Divulgação)
Tanto Alex quanto Lucas creditam parte dos números animadores da empresa a um planejamento iniciado em 2017, quando a Fundação Dom Cabral foi chamada para ajudar na estruturação do modelo de gestão. "Entre 2014 e 2015, experimentamos um crescimento por uma circunstância de mercado, sem que a empresa estivesse realmente preparada para isso", diz Lucas. "Agora é diferente." A FDC - que é a escola brasileira mais bem colocada no ranking mundial de Educação Executiva do jornal inglês Financial Times, na sétima posição - levou para a sede do grupo, no Belvedere, programas tanto de desenvolvimento de acionistas quanto da diretoria e da alta gerência. "Quando você se prepara, reconhece os pontos fortes e traça estratégias para chegar no ponto almejado", diz Caroline Aguiar, gerente de projetos da Fundação Dom Cabral, que acompanha de perto o desenvolvimento da Patrimar. "Nosso propósito é que a empresa saiba não só o que fazer, mas principalmente o que não deve fazer para alcançar seus objetivos." Além de ajudar na estruturação do modelo de gestão, a fundação realiza um planejamento de médio prazo (de três a cinco anos) e faz revisões anuais, para adequar as metas às circunstâncias do mercado.

Em 2018, a Patrimar lançou, em parceria com a construtora Somattos, um empreendimento que a reposicionou no segmento de altíssima renda: o La Réserve. Localizado em um dos pontos mais altos do Vila da Serra, na zona sul da região metropolitana, terá quatro torres com apartamentos de até 671 metros quadrados, fora coberturas e unidades dúplex. O empreendimento, com suas lajes livres de colunas que permitem customização total das unidades, pé-direito de 3,96 metros e estrutura de lazer de encher os olhos, venceu o Prêmio Master Imobiliário 2022, considerado o "Oscar do setor imobiliário". Essa expertise foi essencial para o grupo ingressar em um novo mercado: a alta renda do Rio de Janeiro, cidade onde é líder no segmento atualmente.

Alex conta que já costumava ir para o Rio uma ou duas vezes por mês, por causa dos lançamentos da Novolar. Numa dessas visitas, ligou para Rubem Vasconcelos, ex-dono da Patrimóvel, segunda maior imobiliária do Brasil, que em dez anos vendeu 100 mil imóveis, e atualmente proprietário de um escritório de consultoria para construtoras. Queria visitar o Ilha Pura, um megaempreendimento na Barra da Tijuca com sete condomínios compostos de um total de 31 torres e que hospedou atletas durante os Jogos Olímpicos de 2016. Rubem sugeriu que eles visitassem um outro empreendimento, também para os lados da Barra, o Riserva Golf Vista Mare Residenciale, da Cyrela, às margens do campo de golfe olímpico, com vista para o mar e para a Lagoa de Marapendi. "Quando entrei, me deparei com o que achei ser o melhor empreendimento do Brasil", diz Alex. "O Rubem me disse que a família dona do terreno estava descontente com a Cyrela e que tinha outras áreas próximas." Era uma oportunidade e tanto. Alex se aproximou dos proprietários e fechou acordo para a construção em dois terrenos. O primeiro lançamento foi o Oceana Golf, com seis torres e unidades cujos preços variam de 3 a 5 milhões de reais. Só no primeiro fim de semana de vendas foram comercializadas 80% das 123 unidades. Com ele, a Patrimar levou mais um "Oscar". O Oceana ganhou o Prêmio Master Imobiliário de 2022 na categoria "Profissional - Marketing". O segundo lançamento, no final do ano passado, foi o Atlântico Golf, localizado no terreno do lado, com apartamentos que variam de 1,8 a 5 milhões de reais. Os dois juntos têm 568 unidades e 400 já foram vendidas. O complexo é a maior obra em construção no Rio de Janeiro. "Em um ano e meio, foram 1,5 bilhão de reais em vendas", diz Rubem. "Montamos uma equipe de primeira linha, com, entre outros, o arquiteto Alexandre Feu, o paisagista Benedito Abbud e a designer de interiores Débora Aguiar. É como um vestido de alta costura, que poderia estar desfilando em qualquer passarela do mundo."

O Rio de Janeiro corresponde atualmente a 60% dos negócios da Patrimar. E esse percentual tem tudo para crescer. Alex fechou mais um terreno às margens do campo de golfe olímpico e prepara um lançamento que, a seu ver, irá marcar não só o mercado fluminense, mas nacional. "Vou realizar um sonho", afirma. Com apartamentos um pouco maiores que os do Oceana, o empreendimento terá a assinatura de uma marca de alto luxo, uma tendência que já é encontrada em outras cidades do mundo, como Miami e Dubai, e começa a chegar ao Brasil. "Ao acertarmos com esses lançamentos, passamos a ser procurados pelos grandes terreneiros cariocas." A próxima fronteira a ser desbravada pela Patrimar deve ser a capital paulista. "Com o IPO, é natural que nossos olhos mirem em São Paulo", afirma Alex. "Ali, o bolo é maior, mas tem mais gente para dividir esse bolo. Tenho certeza que, se fizermos lá o que fizemos aqui em Belo Horizonte, com o La Réserve, vamos arrebentar a boca do balão." Palavra de quem, ainda jovem, trocou as aulas de tênis e os "negocinhos" para ganhar 10% como estagiário em uma empresa de engenharia, está à frente de um dos maiores grupos de construção imobiliária do país e prepara mais um match point.

Crescimento impressionante: as vendas da Patrimar saltaram 180% de 2020 para 2023 (em reais)

  • 2020: 465 milhões
  • 2021: 882 milhões
  • 2022: 1 bilhão
  • 2023: 1,3 bilhão*

* previsão | Fontes: revista O Empreiteiro; Patrimar

Fontes: revista O Empreiteiro; Patrimar

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