Uma brincadeira de adolescente acabou virando negócio de gente grande. Foi no antigo apartamento da família, no bairro Silveira, na zona Nordeste da capital mineira, que Enaldo Lopes de Oliveira Filho, o Enaldinho, hoje com 25 anos, fazia o que muitos jovens brasileiros gostam: participava de competições de jogos online junto com os amigos. Naquela época, em 2012, sua intenção não era ser um gamer profissional. Dois anos depois, ao participar de um desses campeonatos, realizado em São Paulo, a chave virou e sua história começou a mudar. "Eu me lembro que terminei em segundo lugar na competição e fiquei curioso ao ver uma sala reservada onde alguns jovens, da mesma idade que eu, estavam. Achei estranho ver que as pessoas pediam para tirar fotos com eles". Descobriu, então, que se tratavam de youtubers, algo que ele nem imaginava que também viria a ser. "Comecei a pesquisar e vi que a galera fazia a mesma coisa que eu e postava. A partir daí, comecei a olhar o meu canal com outra visão e com novos objetivos".

Filho dos médicos Maria Luiza Cavalieri e Enaldo Lopes de Oliveira, e com apenas um irmão mais novo, Guilherme Cavalieri, o youtuber cursou o ensino fundamental e o médio no Colégio Magnum, onde produziu alguns vídeos de pegadinhas que o ajudaram a alavancar a sua carreira, mas confessa que nunca foi um bom aluno. "Já reprovei, tomei várias suspensões. Fora isso, nunca me vi seguindo uma carreira tradicional e, naturalmente, havia uma pressão por parte dos meus pais para que eu cursasse uma faculdade". Além da preocupação da família com o seu futuro, Enaldinho também sofria com a timidez e a vergonha de aparecer nos vídeos. "A galera da escola tirava onda comigo. Mas como eu sabia o que queria, não me importava."


A partir daí, Enaldinho começou a ser assediado por empresas que buscavam parcerias e chegou a ser procurado pelo empresário de um youtuber famoso na época. "Só que ele queria conversar comigo exatamente no dia do Enem, e eu estava me preparando para fazer a prova." Enxergando o potencial do filho, a mãe o apoiou mais uma vez. "Ela me disse que não ia atrapalhar o meu sonho e me deu um ano para não fazer vestibular e me dedicar exclusivamente ao canal." Com o voto de confiança, em pouco tempo o youtuber chegou a 10 milhões de seguidores, profissionalizando o canal. "O Enaldo nunca foi uma criança padrão. Sempre foi muito tímido, me deu trabalho na escola e sofria com déficit de atenção. Por outro lado, sempre foi um menino amoroso, tranquilo e que desenvolveu, precocemente, suas habilidades artísticas e empreendedoras", diz Maria Luiza. "Hoje, sei que se eu o tivesse forçado a fazer uma faculdade e a ter uma profissão comum, ele seria muito infeliz. Ele continua sendo um bom filho, bom amigo, bom namorado e muito dedicado ao seu trabalho." Em 2017, Enaldinho fez o primeiro show de sua carreira, no Cine Theatro Brasil Vallourec, seguido por uma turnê pelo país. O tão sonhado reconhecimento tinha chegado, mas nem por isso as coisas seriam mais fáceis. Em alguns dos lugares por onde o youtuber se apresentou, quase ninguém compareceu ao evento. "Em Vila Velha, em uma casa para 4 mil pessoas, tinha apenas 30 pagantes". Seis anos depois, ao retornar ao mesmo local em sua terceira turnê, foram dois dias de apresentação com ingressos esgotados. "Por isso é importante acreditar em nossos sonhos e não desistir", afirma.

Com faturamento de cerca de 20 milhões de reais ao ano - com o canal do YouTube, shows, publicidades e vendas de produtos - o investimento no carro não parece ser tão estratosférico. Em seu patrimônio também estão um apartamento no bairro Belvedere, na zona sul da capital mineira, onde mantém um estúdio de gravação; uma casa em Nova Lima, construída para fazer gravações de pegadinhas e outros conteúdos, onde a mãe e o irmão moram; um terreno também em Nova Lima onde pretende construir uma nova casa; e uma propriedade em Orlando, nos Estados Unidos, seu principal destino de férias. O youtuber revela que nos bastidores seu canal funciona como uma empresa, com cerca de 50 pessoas empregadas direta e indiretamente. Brincadeira, só quando as câmeras são ligadas. Em busca de novas fontes de monetização, Enaldinho busca escalar seu negócio investindo em várias frentes. Entre as estratégias está diversificar os produtos com a sua marca e investir também em artigos que não levam a imagem do personagem e que possam permanecer no mercado de forma atemporal. Em seu portfólio já constam brinquedos, bonecos, mochilas, acessórios de computador, roupas, álbuns de figurinhas, calçados e biscoitos. "Trabalhamos com uns 50 produtos e estamos buscando novas parcerias para 2024, como redes de fast food, barbearias kids e lojas próprias de outros segmentos". A empresa também está aberta a investidores.

O segredo, diz ele, é não se acomodar e inovar sempre. Enaldinho foi um dos primeiros a ter podcast no Brasil e está sempre em busca de novas tendências. Apesar do sucesso conquistado, quer voar ainda mais alto. O processo de internacionalização da marca está a todo vapor, com previsão de levar conteúdo dublado para países sul-americanos e para a Índia. O público americano, diz ele, tem preconceito natural em consumir esse tipo de conteúdo, então não vale a pena investir. "O nosso canal em espanhol já está rodando." Ele avalia que os 10 milhões de seguidores de hoje são o 1 milhão de antigamente, já que o acesso à internet foi se tornando cada vez mais fácil. Atualmente, o Brasil possui mais de 160 canais que superam a marca. "Sabemos que 32 milhões de seguidores é um número muito considerável, mas ainda existe bastante a ser explorado." Curiosamente, ele destaca que 40% das visualizações do seu canal vem de smart TVs, um indício de que o seu conteúdo é assistido por famílias inteiras, e não só por crianças. "O nosso maior público é de pessoas com idade abaixo dos 15 anos. Um quarto do Brasil já assistiu aos meus vídeos e onde a língua portuguesa é falada, o consumo é igual." Enaldinho já se prepara, inclusive, para um show em Portugal.


