Mineira de Itabirito, Dany Carvalho, CEO do Órbi Conecta, é, hoje, um dos nomes mais relevantes da inovação no Brasil. Fundada em 2017 em Belo Horizonte, a empresa se destaca no impulsionamento de startups, na promoção da educação digital e na gestão da inovação. Terceiro hub de inovação no país e único liderado exclusivamente por mulheres desde sua criação, o Órbi tem se destacado cada vez mais na promoção de discussões relevantes sobre inovação e tecnologia no Brasil e em Minas Gerais.
Em 2023, Dany coidealizou o Minas Summit, que reuniu mais de 2 mil pessoas no Minascentro, em Belo Horizonte. Também esteve à frente do Órbi Intensive for YPO, que conectou 30 CEOs de grandes empresas. Além disso, sua participação no capítulo Mulheres do Centro de Referência em Inovação (CRI Mulher) e Women Innovation Brasil, ligados à Fundação Dom Cabral, evidencia seu envolvimento na construção de uma inteligência coletiva sobre inovação. Criadora e apresentadora do podcast Café Comigo, sobre educação, tecnologia e empreendedorismo, Dany incentiva o mercado on-line nas universidades públicas de Minas Gerais, estado que sonha em transformar em um centro de inovação para promover liderança feminina no cenário digital.
Em entrevista a Encontro, Dany avalia como a Órbi Conecta está moldando o cenário das startups em Minas Gerais e as expectativas para o futuro do empreendedorismo digital no Brasil. O Órbi foi, pela primeira vez, finalista do Startups Awards 2022, na categoria Hub de Inovação, um dos maiores prêmios do ecossistema no Brasil, promovido pela ABStartups. A empresária fala ainda sobre sua motivação para ingressar no mundo da inovação, destacando a urgência de mudanças significativas nesse mercado predominantemente masculino.
A relação entre capacitação digital e oportunidades econômicas para mulheres é uma das frentes de atuação mais fortes de Dany, que enfatiza a importância de iniciativas como "Inovação, substantivo feminino" para alcançar a igualdade de gênero. Mais especificamente, a empreendedora aborda os desafios enfrentados por mulheres negras no mercado da inovação, se colocando como ponte entre empreendedoras e empresas. Sobre o cenário brasileiro de inovação, Dany reconhece avanços, mas também desafios, especialmente na falta de uma cultura de inovação em grandes corporações. Ela destaca a conjuntura favorável de Minas para o empreendedorismo e dá dicas para melhorar o networking e planejar conexões e interações estratégicas nas redes sociais.
- Quem é: Dany Carvalho, 40 anos
- Origem: Itabirito (MG)
- Carreira: Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (2005), tem pós-graduação em Gestão Avançada de Recursos Humanos pela PUC Minas (2007) e em Estratégia de Marketing Digital pela ESPM (2013), além de MBA em Gestão de Projetos com Práticas PMI (2016) e curso de Liderança Criativa (2017), ambos pela FIAP (2016). Dany Carvalho apoiou centenas de empreendedores digitais via iniciativas como Instituto Inovação, Aceleradora Startup Farm, Programa Start-up Brasil, Programa Microsoft BizSpark, ABstartups e Cubo Itaú. Foi gerente da Iniciativa Bridge Ecosystem - um joint lab entre a USP, 100 Open startups e Isa Cteep. Atualmente, atua como consultora da FRST Falconi, é podcaster e CEO do Órbi Conecta – principal hub de inovação de Minas Gerais.
REVISTA ENCONTRO - Você poderia explicar o que é o Órbi Conecta?
Dany Carvalho - É o principal hub de inovação e empreendedorismo digital de Minas Gerais. Surgiu de uma maneira singular, fundado em Belo Horizonte pela comunidade de startups San Pedro Valley com grandes empresas, Inter, MRV e Localiza, e é hoje o terceiro hub de inovação do país. O Órbi é uma comunidade que desde 2017 conecta startups, grandes empresas, academia, venture builders, empreendedores e diversas iniciativas para construir grandes cases de inovação para o mercado e impulsionar a transformação digital.
E quais são as suas principais áreas de trabalho?
No momento, temos três. O Órbi for Startups fomenta uma nova geração de startups e apoia fortemente a comunidade que nos criou. O Órbi Academy promove educação profissional em habilidades digitais e educação executiva em gestão da inovação. E o Órbi for Corporates oferece suporte às empresas em sua busca por inovação, utilizando métodos personalizados para conectar as melhores soluções de startups aos desafios reais enfrentados por grandes corporações. Além disso, promove ações que fortalecem a cultura aberta para a inovação. O Órbi Conecta também possui uma área de promoção de eventos, em que queremos atrair e realizar as principais discussões sobre inovação, tecnologia e trends do cenário digital e fomento ao empreendedorismo e meetup da comunidade San Pedro Valley.
O que a motivou a ingressar no mundo da inovação, com foco especial no empreendedorismo digital?
O desejo de contribuir com transformações significativas para um mundo que eu gostaria de viver. Senti uma inquietação de fazer acontecer e de não me contentar com um cenário que exigia mudanças tão urgentes.
Como líder do Órbi Conecta, qual é a relevância que você atribui à presença feminina no cenário de inovação e empreendedorismo digital brasileiro, um país ainda muito atrasado em questões raciais e de igualdade de gênero?"Ocupar espaços de liderança contribui para fortalecer outras mulheres e motivá-las a também ocupar esses espaços"
Dany Carvalho, CEO do Órbi Conecta
A inspiração move nossas ações. Desde crianças, precisamos de referências positivas para a nossa formação. Ocupar espaços de liderança contribui, com isso, para fortalecer outras mulheres e motivá-las a também ocupar esses espaços. O cenário de inovação se beneficia, por sua vez, pela diversidade de olhares, que potencializa a troca de ideias sob perspectivas plurais.
Quais iniciativas o Órbi Conecta tem implementado para promover a participação e liderança das mulheres no campo da tecnologia e inovação?
Conduzimos o projeto "Inovação, substantivo feminino", que, ao longo do ano, realiza eventos destinados a mulheres, como palestras, workshops e mentorias. Reunimos mulheres referência em negócios, carreira, finanças e tecnologia. A iniciativa é pautada na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), plano de ação que visa dar vida a um mundo mais justo até o fim desta década. Com o ‘Inovação, substantivo feminino’, atacamos o objetivo número 5: alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
Sendo a primeira de sua família a alcançar um título de graduação e uma mulher negra, quais desafios você percebe na promoção da representação de gênero e racial no mundo empreendedor e na inovação?
Já avançamos, por exemplo, na representatividade de mulheres negras ocupando espaços antes incomuns. Mas ainda estamos bem distantes de uma equidade racial e de gênero. Mudar esse cenário só será possível se seguirmos mantendo vivo esse debate, seja em nosso microuniverso ou nos fóruns mais amplos e diversos. Muito ainda precisa mudar. Do acesso à educação, sobretudo dos que vivem em vulnerabilidade social, à invisibilidade no mercado de trabalho, onde ainda persiste a desigualdade de gênero e também a disparidade salarial entre homens e mulheres.
Como a sua jornada impacta não apenas você, mas também aponta para mudanças no empreendedorismo digital?
Isso ocorre, pois nosso trabalho é conectar as pessoas para operar transformações importantes. Atuamos como uma ponte entre os empreendedores com alto potencial e performance e empresas interessadas em se manter em forma entregando soluções que o mundo exige.
Você mencionou a importância da educação e do acesso à informação para a mobilidade social, especialmente para as mulheres. Como esses princípios se refletem nas ações do Órbi Conecta, em particular no Órbi Academy Techboost?
Nesse momento o nosso foco está no Órbi de Portas Abertas, uma iniciativa gratuita que acontece todos os meses na sede do Órbi, na Lagoinha. Nesse dia, oferecemos uma agenda potente para quem quer fazer parte do ecossistema de inovação de Minas. Nós acreditamos na importância de trabalhar em comunidade e queremos expandir esse espírito para toda a nossa rede: empreendedores, startups, grandes empresas, universidades, investidores e parceiros.
Qual é a relação que você enxerga entre a capacitação digital e a criação de oportunidades econômicas, especialmente para as mulheres?
A capacitação digital é um recurso democrático que permite a oferta de formação de qualidade ao maior número de pessoas. Diversas iniciativas no Brasil têm mudado a realidade de pessoas que não podem frequentar presencialmente um curso, seja por limitações de mobilidade, por dificuldades econômicas de acesso às escolas e, até, mesmo, por incompatibilidade de horários. Nesse sentido, as mulheres, que vivenciam jornadas duplas ou triplas, acumulando papéis sociais de profissionais e mães, por exemplo, têm mais chances de complementar uma formação ou, até mesmo, realizar a transição de carreira.
Após 13 anos nessa jornada, como você percebe o cenário brasileiro de inovação hoje em relação à última década e quais áreas do setor se mostram mais promissoras, na sua opinião?
O cenário de inovação viveu uma revolução nesse período com o surgimento de vários ecossistemas de inovação e startups em todo país. Ao mesmo tempo, vivemos desafios importantes, como a carência de uma cultura de inovação no mercado de grandes corporações e a fuga de investimentos em um cenário de crise. De toda forma, temos setores mais promissores, sim, como o da área de tecnologia, por exemplo. A inteligência artificial faz surgir um campo fértil de soluções direcionadas à realidade brasileira, por exemplo.
Qual é o seu objetivo ao impulsionar Minas Gerais para ser um epicentro de inovação?"Networking é essencial, e como dizem, se seu negócio não está na internet, ele praticamente não existe"
Dany Carvalho, CEO do Órbi Conecta
O objetivo é, simplesmente, contribuir para amplificar e dar voz ao volume de iniciativas inovadoras que Minas Gerais tem. O estado já demonstrou seu potencial criativo. Em Belo Horizonte surgiu o San Pedro Valley, comunidade de startups que fez nascer o Órbi Conecta. Esse foi também o começo de empresas de sucesso e de soluções que se tornaram inspiração para o país. Portanto, contribuir para que Minas Gerais se torne epicentro de inovação é reforçar a sua vocação.
O que Minas Gerais tem de único para contribuir significativamente para o ecossistema de inovação no Brasil?
Minas tem uma conjuntura favorável ao empreendedorismo e inovação: academia, mão de obra qualificada, empresas consolidadas e mercado. O Departamento de Ciência da Computação da UFMG, por exemplo, é um dos mais respeitados no mundo e não à toa Belo Horizonte recebeu o primeiro escritório de engenharia fora dos Estados Unidos do Google. Também temos aqui, como outro exemplo, a Fundação Dom Cabral. Hoje, ter pessoas qualificadas no time dos negócios é um grande diferencial, uma vantagem competitiva decisiva. E não se limita à capital, temos nossas cidades pólos e, não podemos deixar de falar em Santa Rita do Sapucaí, considerado o Vale da Eletrônica no Brasil. Temos uma economia diversa e a tecnologia, para mim, é transversal. A inovação precisa estar presente em todas as áreas de um negócio, do produto ao departamento jurídico, passando por RH e experiência do cliente.
Qual o papel social das empresas no apoio a iniciativas que promovam a diversidade, especialmente no setor de tecnologia?
As empresas podem ajudar bastante a promover a equidade no mercado de trabalho ao priorizar, entre os candidatos a novas vagas, pessoas que atendam a requisitos de diversidade. Podem criar comitês e outras iniciativas dentro das empresas para que a diversidade passe a fazer parte da rotina de todos. É preciso dizer, bem na verdade, que diversidade extrapola e muito o ESG. Ela faz parte da estratégia do negócio, pois afeta diretamente nos produtos, serviços e processos da empresa. Afinal de contas, se uma empresa hoje quer atingir toda a sociedade, então toda a sociedade precisa estar representada dentro da empresa.
Olhando para o futuro, quais avanços específicos você antecipa no cenário do empreendedorismo digital e da inovação no Brasil? Quais são as transformações que você mais anseia testemunhar?
A gente tem que ser intencional no presente para construir o futuro que desejamos. É por isso que precisamos ampliar o acesso à educação tech para que o Brasil ganhe competitividade no cenário global. E como? Com startups brasileiras deixando de desenvolver soluções locais para ter foco em soluções globais. Com inovação sustentável aliada à diversidade em cargos tech, produto e inovação. Precisamos começar a pensar quem são as pessoas que estão produzindo os novos produtos e serviços que a população irá usar. É importante ter a representatividade da população em ambientes como esse para ter soluções que atendam a demandas de todos. A tecnologia deve ser vista como algo que simplifica a vida das pessoas, que otimiza tempo e dá acesso.