Luiz interessou-se pela prática no início de 2020, pouco antes de a pandemia de Covid-19 ser decretada, e começou a praticar os movimentos ao ar livre, em uma praça próxima da casa dele, sempre na companhia dos amigos. Ele conta que passou boa parte do período de restrição se exercitando até criar "amor pela atividade." "Eu não via as horas nem os dias passarem. Ficava cerca de quatro a cinco horas na rua treinando todos os dias, independentemente se estava fazendo sol ou chuva, frio ou calor", afirma, relembrando que, nesse período, também aproveitava para jogar conversa fora com os colegas. Com isso, em pouco tempo, ele viu seu corpo se transformar, e o acúmulo de gordura deu lugar aos músculos.
Assim como Luiz, muitas pessoas se interessaram pela calistenia durante o período pandêmico, principalmente pela não-exigência de equipamentos para a realização dos exercícios físicos, uma vez que as academias fecharam as portas. Na época, o método ganhou evidência e, desde então, tem recebido cada vez mais adeptos que buscam por exercícios que trabalham vários grupos musculares ao mesmo tempo. A calistenia pode até ter se popularizado recentemente, mas a modalidade chegou aqui bem antes disso, conforme explica a mestre em educação física e docente do UniBH Gisele Freire da Silva. "Essa prática chegou no Brasil na década de 1960, quando era muito utilizada no meio militar", diz.
Dentre os benefícios da prática, o educador físico Davi Pereira, da Tyr Cross Training, em Contagem, destaca uma melhoria na qualidade de vida, porque, na calistenia, são potencializadas a força, a flexibilidade e a mobilidade, além da perda de peso e do ganho muscular. "Um puxa o outro. Com a calistenia, a gordura vira massa magra. Dessa forma, o corpo começa a ficar definido, e automaticamente há perda de peso", afirma. De fato, um estudo da Universidade Federal de Sergipe revelou que o treinamento calistênico se mostrou efetivo para aumento de agilidade, força isométrica e resistência em jovens adultos.
Foi buscando benefícios como esses que o empresário Paulo Roberto Medeiros, de 49 anos, iniciou na calistenia, pouco antes da pandemia. "Eu já treinei várias modalidades, mas não conheci ainda uma que fosse tão completa quanto a calistenia. Ganhei força, minha musculatura ficou forte e definida, minha mobilidade e resistência melhoraram e aprendi a controlar a respiração", conta. Ele chegou a praticar a calistenia todos os dias da semana, mas reduziu para três vezes para alternar com corrida. "Perdi peso, reduzi meu percentual de gordura e ainda parei de tomar dois remédios, um para pressão alta e outro para colesterol", revela. Para alunos iniciantes, o ideal são treinos de duas a três vezes por semana, e esse número aumenta de quatro a cinco para praticantes intermediários ou avançados. O empresário conta ainda que não segue nenhuma dieta específica, mas se alimenta bem e faz uso de suplementos alimentares. Ao contrário do estudante Luiz Otávio, Paulo prefere treinar em uma academia. "Lá, nós usamos barras, colchonetes, pesos, corda, dentre outros", diz o empresário, que é aluno da Beagarra.
Segundo o profissional de educação física Luiz Fernando, qualquer pessoa, independentemente do sexo ou da idade, pode praticar calistenia. "Nós temos turmas para alunos de 5 a 10 anos, e eu tenho uma aluna de quase 80 anos. Na academia, temos um atleta paralímpico, uma pessoa com síndrome de down, pessoas obesas e muito magras… Para participar, é só ter vontade de aprender o básico", comenta. Mas Davi alerta para uma contraindicação. "Pessoas que têm lesões, como tendinite, por exemplo, devem se tratar primeiro para se fortalecerem antes de fazer a calistenia. É importante falar antes sobre as limitações com um profissional."
O primeiro passo para começar na calistenia é passar por um exame físico com um profissional da área. "Nessa avaliação, vamos entender os pontos fortes e aqueles que precisam ser melhorados, por meio de testes de força e de resistência. Daí, definimos o nível em que o aluno se encontra para propor os exercícios", diz Luiz Fernando. Com aproximadamente três meses de treino, o aluno já começa a ver os primeiros resultados, especialmente de força e resistência. À medida que avança nas técnicas, o praticante de calistenia pode evoluir para movimentos mais dinâmicos, como com uso de argolas ou de barra. A calistenia pode ser executada tanto em ambientes ao ar livre como em academias. A professora Gisele recomenda, no entanto, que a prática seja sempre acompanhada de um profissional especializado. "Se a pessoa não tiver orientação e fazer os exercícios aleatoriamente, há chances de ocorrerem lesões, como no ombro", destaca. Mas caso alguém queira começar a atividade em casa, ela aconselha fazer exercícios de baixa intensidade. "Dessa forma, o risco é menor. É aquela máxima: 'melhor uma atividade leve que nada'."
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