Com seu jeitão tranquilo, de quem raramente altera o tom de voz, o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, de 76 anos, gosta de contar episódios em que se encontra com moradores da cidade e troca ideias sobre como ações da administração municipal mudam a vida de quem vive na capital mineira. Em uma recente visita ao Centro de Reabilitação (Creab) do Barreiro, inaugurado em meados do ano passado, ele se emocionou ao se deparar com uma criança de cerca de 2 anos, com Síndrome de Down, que acabara de ser atendida. "Eu olhei os olhos da terapeuta, o sorriso da criança, a mãe emocionada e quase chorei", diz. Outro dia, ao entregar uma obra de proteção de encosta, ouviu de uma mãe a respeito da dificuldade de levar o filho cadeirante ao médico, sempre que chovia. Agora, com a intervenção, ela consegue que um carro pare na porta de sua casa, independentemente das condições climáticas. "O senhor sabe quantos anos demorou para eu conseguir isso?", perguntou ela. Fuad se comoveu mais uma vez. "Viver momentos assim é o melhor de ser prefeito", afirma. "É cada dia uma emoção."
Passar por experiências como essas é uma novidade na vida desse servidor público que ingressou como funcionário do Banco Central ainda jovem, na década de 1970. Depois, trabalhou no Tesouro Nacional, foi secretário-executivo da Casa Civil da Presidência da República, diretor do Banco do Brasil e presidente da BrasilPrev, além de consultor do Fundo Monetário Internacional para o governo de Cabo Verde. No governo de Minas, foi secretário da Fazenda, de Transporte e de Obras Públicas, além de presidente da Gasmig, entre outras funções. Foi chamado para ser candidato a vice-prefeito na campanha de reeleição de Alexandre Kalil e assumiu a administração de BH em março de 2022, quando o ex-presidente do Atlético renunciou para se aventurar na campanha para o governo do Estado daquele ano (ele foi derrotado no primeiro turno por Romeu Zema). Agora, Fuad enfrenta sua primeira campanha. E a tarefa para se reeleger não é nada fácil. Sem nunca ter participado de eleições para cargos majoritários no topo da chapa, ele ainda é pouco conhecido, mesmo entre os belo-horizontinos. "Belo Horizonte é a cidade mais difícil de se fazer qualquer prognóstico para as próximas eleições. Se existe uma cidade brasileira com muita competição, é BH", disse, em entrevista ao Encontro, o analista político Felipe Nunes, dono da empresa de pesquisa e consultoria Quaest.
Fuad aposta na exposição dos próximos meses para virar esse jogo. "Nesses dois anos, fiz mais obras que meus antecessores, que tiveram muito mais tempo. Mas muita coisa ainda precisa ser feita e quero ter a possibilidade de continuar esse trabalho", diz. Segundo ele, os políticos brasileiros têm o mau hábito de paralisar as obras começadas pelo antecessor, para lançar outras com sua marca. Entre as muitas coisas que o prefeito acredita que ainda precisam ser feitas estão alguns projetos que prometem mudar a cara da região Centro-Sul. O mais ambicioso é a parceria com a prefeitura de Nova Lima para realização de melhorias viárias no limite entre os dois municípios, na altura do bairro Belvedere. Em março, os prefeitos Fuad e João Marcelo Dieguez anunciaram o investimento de 200 milhões de reais para quatro intervenções principais: construção de um viaduto em formato de ferradura para ligar a MG-30 à BR-356, no sentido Rio de Janeiro; alargamento da alça que liga a BR-356 à MG-30, no sentido do centro da cidade; alargamento do viaduto sobre a BR-356, criando uma terceira faixa no sentido Belvedere-Santa Lúcia; e construção de um viaduto de acesso direto da BR-356 (sentido Rio de Janeiro) para a MG-30 (sentido Nova Lima), sem que os motoristas precisem passar pelo trevo da Avenida Raja Gabáglia. Todos os dias, cerca de 15 mil veículos passam por ali e os engarrafamentos nos horários de pico são rotineiros. Com as intervenções, estima-se que o fluxo diminua em até 20%.
Batizada de "Centro de Todo Mundo", uma série de intervenções prometem revitalizar a região central de BH, com obras como a inauguração do Espaço Multiuso do Parque Municipal, parado há 10 anos; requalificação das praças da Estação, Rio Branco, do Papa e da Independência; revitalização da Avenida Bernardo Monteiro; e requalificação da rua Sapucaí, entre as avenidas Assis Chateaubriand e Contorno. Só essas ações irão custar aproximadamente 100 milhões de reais. "Quando eu era criança, minha mãe me trazia para passear na cidade. Eu saía de bonde do Padre Eustáquio e vinha para o que chamamos de Belo Horizonte. Hoje, as pessoas se afastam do centro, porque ficou perigoso, não tem atrativos… Quero mudar isso", diz Fuad. "Vamos, por exemplo, demolir aquele monstrengo anexo ao Conjunto Sulacap-Sulamérica, que não estava no projeto original, e devolver a vista para o viaduto Santa Tereza; trazer moradores para prédios vazios; beneficiar quem fizer o retrofit de edifícios abandonados. As pessoas poderão voltar a morar aqui." Para aumentar a segurança e a sensação de segurança, foram instaladas 4 mil câmeras, com monitoramento 24 horas pela Guarda Municipal. Ainda dentro do projeto Centro de Todo Mundo, a prefeitura irá revitalizar a Avenida Afonso Pena, com implantação de faixa exclusiva para ônibus, ciclovia e mudança na sinalização, além de fresagem e recapeamento do asfalto.
O plano de obras lançado este ano prevê investimentos de 3 bilhões de reais em 120 empreendimentos. A maior parte do dinheiro é para obras de habitação e urbanização (843 milhões), seguida de mobilidade (554 milhões) e macrodrenagem (525 milhões). "Estamos trabalhando muito. As pessoas podem até não conhecer o prefeito, mas conhecem as obras. Nossa missão nessa pré-campanha, e depois na campanha, é mostrar quem está executando as melhorias da cidade", diz Fuad. Nos últimos meses, ele vem se expondo mais nas redes sociais e mostrando até uma certa desenvoltura frente às câmeras, como quando atacou de DJ em uma recente visita a praças recém-reformadas em Venda Nova. Seu estilo, com o indefectível suspensório, chama a atenção. "Eu sempre fui gordinho e gordo ou usa a calça embaixo da barriga, o que eu acho horrível, ou em cima da barriga, mas aí o cinto aperta. Por isso, eu digo que o suspensório é um acessório que garante conforto." Ele não sabe dizer quantos têm em seu guarda-roupa, mas está sempre comprando quando vê. "Também ganho muitos de presente."
Uma polêmica de seu governo foi o corte de árvores no entorno do Mineirão, para que a cidade possa receber pela primeira vez uma etapa do campeonato de stock car, entre os dias 15 e 18 de agosto. "Foi uma polêmica puramente eleitoral", defende-se Fuad, sem alterar o tom de voz. "Nós cortamos 63 árvores e plantamos a mesma quantidade, das mesmas espécies, do mesmo tamanho, no mesmo microclima, na mesma semana." Segundo o prefeito, a terceira cidade mais arborizada do Brasil." Estima-se que, com a vinda da stock car, serão injetados 200 milhões de reais por ano na cidade, até 2028. São esperados mais de 30 mil turistas e a prova principal será exibida para 153 países. Por ser uma cidade cuja vocação econômica é de serviços e comércio, a atração de eventos é comemorada. Este ano, o carnaval bateu recorde de recursos movimentados, com quase 1 bilhão de reais injetados na economia durante os dias de folia, segundo dados da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur). Em 2022, BH foi escolhida a melhor capital do sudeste para empreender, de acordo com o Índice de Concorrência dos Municípios (ICM), do Ministério da Economia.
Fuad também não teve vida fácil quando precisou da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Os vereadores chegaram a ensaiar a aprovação de pedidos de impeachment do prefeito, o que não prosperou. "Houve momentos em que a Câmara teve um comportamento agressivo e a prefeitura precisou reagir", diz Fuad. "Desde agosto do ano passado há um projeto para o empréstimo de 1 bilhão de reais para a cidade, que não ganha nem número." O dinheiro seria empregado na construção de moradias, intervenções de mobilidade, saneamento e no desassoreamento da Pampulha. "Uma ação como essa não é benéfica para BH e o próprio presidente da Câmara, que se diz pré-candidato à prefeito, precisará desse dinheiro caso ganhe as eleições, o que esperamos que não aconteça." No final do ano passado, Gabriel declarou que a Câmara "não é um banco, para que o prefeito fique enviando apenas pedidos de empréstimos bilionários que podem prejudicar ainda mais a cidade, que vai entrar no vermelho".
Apesar de ter apoiado a eleição de Lula à presidência em 2022, Fuad garante que não há nenhum compromisso para que o atual ocupante do Palácio do Planalto trabalhe por sua reeleição. "Meu apoio foi condicionado a trazer benefícios para BH. E isso tem acontecido." Segundo ele, Bolsonaro não ligava para a capital mineira e no mapa do Brasil da sala da presidência "tinha um buraco negro no lugar de Belo Horizonte". Agora, ele comemora que ao passar por Brasília é bem recebido pelos ministros. "Nós estamos sendo atendidos com cuidado e isso faz diferença, mas em momento algum nos comprometemos eleitoralmente. Estando no segundo turno – e eu tenho confiança de que estarei – quero todo mundo que tem o desejo de ajudar nossa capital do meu lado." O ex-prefeito Alexandre Kalil é outro político que tem seu apoio cobiçado, não apenas por Fuad, mas por outros pré-candidatos. Até o fechamento desta edição, no entanto, ele não havia declarado em que palanque estará.
Formado em ciências econômicas pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília (Ceub) e pós-graduado em programação econômica e execução orçamentária, Fuad é doutor honoris causa pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Mas não são apenas os números que o atraem. Ele é autor de três romances: O Amargo e o Doce (2017), Cobiça (2020) e Marcas do Passado (2022). Casado há 51 anos com Mônica Drummond, é pai de Paulo Henrique e Gustavo. Tem quatro netos. Em seu "Canto do Cisne", como costuma dizer, o prefeito recorre a uma lembrança de seu passado para reforçar o desejo de continuar a frequentar o prédio em estilo art déco projetado pelo arquiteto Luiz Signorelli, na Avenida Afonso Pena, em frente ao Parque Municipal. "Quando eu nasci, meu pai era garçom. Eu também fui garçom. Servir está no meu sangue." Resta saber se os eleitores mineiros vão pedir: "Mais uma rodada, Fuad".