Na história, o café sempre teve um grande papel social. A primeira cafeteria que se tem registro surgiu em Constantinopla (atual Istambul), na Turquia, em 1475. Já na Europa, a primeira cafeteria foi a Botteghe del Caffè, no século XVII, que trouxe o hábito de moer e torrar o próprio café. No Brasil, muitos movimentos políticos e intelectuais nasceram dentro de cafeterias como a Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro. Inaugurada em 1894, funciona até hoje e foi frequentada por nomes de peso como Olavo Bilac, Rui Barbosa e Chiquinha Gonzaga.
. Em Belo Horizonte, capital da terra do café, o movimento começou mais lentamente. Dizem que nunca falta um cafezinho fresco na mesa do mineiro e isso é a mais pura verdade. No entanto, o hábito de sair em busca de um bom café, principalmente os especiais, é algo relativamente novo para os belo-horizontinos. Não tem nem mesmo duas décadas essa história de cafeterias que tem como principal mote apresentar cafés especiais e métodos distintos de extrair a bebida. "É impressionante como o mercado mudou de quando começamos até hoje", diz Adriene Cobra, cofundadora e sócia do OOP Café, aberto em 2016. Naquela época, lembra, existia o Café Kahlúa (fechado em 2020) e a Academia do Café, que abriu as portas em 2013. Era o início de um enredo que iria mudar a cara da cidade.
. O consumidor precisou aprender que café ia além do tradicional, que aparecia como um item qualquer nas gôndolas dos supermercados. Era preciso explicar a origem, a diferença dos grãos, a qualidade das espécies. Um universo novo. Ana Elisa Saldanha, dona do Elisa Café, inaugurado em 2021, sentiu vontade de investir na área quando morou em Paris para estudar gastronomia na escola Ferrandi. Ao fazer estágio na Brasserie Thomieux, sua atenção voltou-se para fornecedor de café que atendia a casa. "O café era selecionado assim como qualquer outro ingrediente para o preparo de uma bela refeição", lembra Ana Elisa, que também é formada em Engenharia de Alimentos. Um dia, enquanto participava de um brunch com uma amiga, foi surpreendida ao tomar um café coado. "Senti a doçura, acidez, um gosto de que remetia à fruta", diz. Mais surpresa ainda ficou quando descobriu que o grão não só era brasileiro, como vinha de Minas Gerais. "Aquilo me incomodou muito. Fui pesquisar e me dei conta de que o negócio poderia ser ainda muito explorado no Brasil."
. Embora ainda incipiente, o mercado de cafés especiais tem crescido de forma acelerada no país. Segundo pesquisa feita pela consultoria Euromonitor, o consumo anual de café premium representa pouco menos de 10% do consumo total no setor. Esse consumo cresce 15% ao ano, enquanto o café tradicional aumenta 3,5%. "Definitivamente, o mercado de cafeteria em Belo Horizonte está em expansão. A crescente apreciação pelo café de qualidade, junto com a diversificação dos gostos e preferências dos consumidores impulsionou o surgimento de novos empreendimentos e inovação no setor", diz Karla Rocha, presidente da Abrasel-MG. Apesar de não existir uma CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) específica para cafeterias, em BH se somarmos lanchonetes, casas e chá, de sucos e similares o total é de 6.450 estabelecimentos.
. As cafeterias se dividem em especializadas, não especializadas, premium, franquias, cafeteria brewery, cafeteria veganas e sustentáveis. Existem estabelecimentos que apostam no brunch, que virou um fenômeno na cidade há pouco mais de 2 anos. Outros, oferecem salas individuais ou coletivas para quem quer trabalhar, no melhor estilo coworking.
. Esta matéria é sobre isso. Fizemos uma lista de estabelecimentos que ofertam diferentes tipos de serviço - desde os que apostam em grãos especiais e fazem uma pesquisa profunda sobre a origem e seus produtores, até aquelas que vendem um bom café, mas estão focadas em trazer outros elementos para a mesa. Café expresso, coado, gelado, com leite, servido com pão de queijo ou croissant... Não existe certo ou errado, o importante é você se sentir em casa. Vai um cafezinho aí?
Mocca Caffee & Meals
O Mocca atende bem quem quer trabalhar tomando um café ou ainda quem quer almoçar um executivo no capricho. Satisfaz também o público que quer fazer um lanche no meio da tarde ou fechar a noite com um jantar ou um sanduíche. O cardápio é extenso. Na parte de brunch e lanches, o Benny do Mocca vem com pão brioche levemente tostado com ovos poché e molho hollandaise (R$ 44), por mais 11 reais, ainda é possível completar com salmão curado e limão siciliano. Entre os sanduíches, o Hermanos é um burguer de carne, queijo cheddar, bacon, cebola caramelizada, maionese chimichurri e vem acompanhado de batatas fritas (R$ 45). Daniel conta que o waffle de Nutella (R$ 37) e a panqueca de doce de leite (R$ 37) são os mais pedidos.
. Entre os principais, na categoria Pasta & Riso, tem o vegetariano fettuccine alla burrata (R$ 68). A pescada thai, pescada amarela ao molho cítrico de coco, abobrinha no missô e legumes ao gergelim (R$ 71), é uma boa opção para quem quer sair do óbvio. Para os carnívoros, medalhão na crosta de cogumelos e baroa ao creme de cachaça (R$ 99). O cardápio é assinado pela chef Giovanna Giannetti.
. Já quando o assunto é café, ele pode ser preparado por cinco métodos diferentes. O que mais faz sucesso e o nitro cold, café gelado no qual é adicionado nitrogênio e a essência que o cliente escolher entre laranja, tangerina e limão siciliano (R$ 19).
. Café Magrí
As duas unidades têm perfis distintos. Enquanto o Mercado Novo é o lugar escolhido pelos mais descolados, com perfil mais jovem e noturno, o Palácio atrai quem não tem pressa e quer aproveitar a paisagem linda com a família e amigos. O cardápio se divide entre Almocim; Brunch; Cafés, chás & chocolates; Pra comer; e Pra beber. Com o uso de produtos sustentáveis e sem conservantes, o menu é sazonal. O prato mais pedido está na categoria brunch: combo Dalí, com ovos mexidos, servidos com fatias de pão de fermentação natural e fonduta de queijo artesanal d’Alagoa, tiras de bacon e uma bebida, que poder ser café coado ou suco de uva verde (R$ 45).
. Elisa Café
A casa trabalha com onze produtores de café e a maioria está com Elisa desde a inauguração. Eles estão nas regiões Chapada de Minas (Vale do Jequitinhonha), Cerrado de Minas, Sul de Minas e Matas de Minas, além de Chapada Diamantina, na Bahia, e Serra do Caparaó e Córrego do Sabiá, ambas no Espírito Santo. Durante o ano, a cafeteria ainda traz de cinco a oito cafés diferentes no menu.
. Belô Cafeteria
O cardápio tem desde refeições completas até sobremesa. Uma das opções para quem quer apenas comer algo mais leve é a salada de atum oriental, com atum selado, mix de folhas, molho oriental, castanhas e frutas secas (R$ 59). Numa pegada mais mineira, o arroz de galinha é um arroz melado de frango com quiabo e sobrecoxa grelhada (R$ 47). Na seção brunch, o combo Uai Sô é o mais pedido e é composto por pães de queijo, carne de panela desfiada, cebola caramelizada, requeijão com raspas, barbecue de goiabada, doce de leite e broa (R$ 59). Entre os cafés, que vêm de dois produtores do sul de Minas, são mais de 15 opções de preparo. Fazem sucesso também os Milk and Coffee, como o milkshake Belô preparado com sorvete de creme, doce de leite Viçosa e crocante de biscoito de paçoca (R$ 26).
. OOP Café
Hoje, são três unidades: a original, na Savassi; a que fica dentro do Inhotim, em Brumadinho, e a mais recente, inaugurada em fevereiro, localizada no 25º andar do edifício Dona Júlia Nunes Guerra, no Centro. O terraço tem vista para o horizonte e a Serra do Curral. "Além de acreditarmos na revitalização, estar no centro da capital do estado que mais produz café no mundo é um posicionamento de marca interessante", explica Adriene. "E torna o ingrediente ainda mais acessível e democrático. Um bom café pode estar em qualquer lugar", completa.
. Se lá no comecinho a ideia era apresentar diferentes grãos e métodos de extração, isso mudou. Para Adriene, o método é apenas uma ferramenta, o que determina realmente a validação do produto é o grão em si. Na carta, são duas opções de coados do dia (R$ 8). Há ainda V60 (R$ 16), expresso (R$ 7), além de outros clássicos como capuccino (R$ 15) e macchiato (R$ 12). Entre os gelados, que são dez opções, o fototônica é preparado com água tônica, xarope de gengibre e expresso (R$ 15).
. Com os anos de experiência, a equipe sabe muito bem como lidar com o público. Explicações longas sobre história e características só para quem pede. "A gente precisa entender que tipo de hospitalidade quer oferecer. Às vezes o cliente não quer ser nem acessado. Quer apenas um bom café", diz Adriene. A carta de cafés é dividida em três linhas: Produtores, que trabalha com cafés mais elaborados e sazonais; Lugares, que busca valorizar a origem do café; e Slow Down, que oferece cafés para todos os paladares, que podem ser 100% arábica ou um mix de canéfora e arábica.
. Borora
A identidade de marca é toda em cima da cultura brasileira, incluindo aí a culinária. "Acreditamos em uma comida limpa, o mais natural possível e que seja gostosa, mas nutritiva e focada em saúde", diz Eduarda. Como exemplo, a omelete Mata Atlântica é preparada com espinafre, pimentão e queijo da Canastra (R$ 29). Até as gostosuras seguem a mesma linha, o bolo de cenoura vem coberto com calda de chocolate ganache 70% (R$ 21). A parte de açaís também faz sucesso para quem não abre mão de uma alimentação mais balanceada. Vindo diretamente do Pará, o preparo não leva nenhum tipo de conservante, além de ser adoçado com melado de cana. Vem como acompanhamento banana, morango e fitas de coco (R$ 36). Ao todo são cinco pratos executivos, incluindo o Ancho Marabá, bife angus, mandioca assada, brócolis, cenouras, milho e cebola crispy caramelizada (R$ 49). Já o Salmão Noronha é preparado com salmão grelhado, arroz 7 grãos, tomate cereja confitado, vagem, brócolis e berinjela (R$ 62).
. Pão do Furtini