Revista Encontro

DEZ PERGUNTAS

Entrevistamos a nova presidente da Belotur, Bárbara Menucci

Ela acredita que os movimentos criativos acontecem de "gente pra gente" e que o turismo da capital pode ser ampliado por meio de boas estratégias de comunicação

Daniela Costa
- Foto: Mateus Meireles/Acervo Belotur/Divulgação
Mineira de Belo Horizonte, Bárbara Menucci assume a presidência da Belotur convicta de que o afeto e a gentileza são um caminho de transformação. Para ela, os movimentos criativos acontecem de "gente pra gente". Apostando na força do diálogo entre pessoas diversas, no fomento do trabalho em rede e no "borogodó da criatividade", Bárbara pretende impactar positivamente o turismo da capital. Aos 30 anos, ela acredita que ter saído da iniciativa privada – onde atuou em algumas multinacionais – para a iniciativa pública, lhe traz novas responsabilidades e reforça o seu comprometimento com  a cidade onde mora.  No novo posto desde abril, ela assumiu o cargo no mesmo período em que a Belotur entrou para a Rede do Pacto Global, composta por instituições que assumem o compromisso com a  sustentabilidade. "Muitos projetos da empresa já acontecem nesse sentido, mas tenho colocado para os diretores e os times que a pauta ESG deve estar presente em todas as nossas iniciativas." Formada em administração de empresas com especialização em marketing e estratégia criativa, garante estar diretamente ligada ao que chama de "tecnologia de gente". "Tenho visão sobre como conectar pessoas que precisam se conhecer para promover alguma transformação. Falamos muito da tecnologia digital, computadorizada, mas precisamos pensar em gente, que é o nosso  ativo criativo". Nesta entrevista, Bárbara fala sobre como pretende fomentar o turismo de BH e despertar o interesse dos próprios moradores em experienciar a cidade.
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1) Como foi receber o convite para assumir a presidência da Belotur?

Fiquei muito feliz e lisonjeada. O convite ocorreu em um momento em que eu estava vivendo uma transição de carreira e casou muito bem. A experiência de sair  da iniciativa privada para a iniciativa pública, que tem um impacto na população de maneira geral, é muito pulsante. Afinal, eu nasci e fui criada aqui e as pessoas que eu amo e com as quais me preocupo também estão aqui. Para além delas, indiretamente, convivo com todos os outros belo-horizontinos. Sem dúvidas,  aceitar esse cargo me trouxe um maior senso de responsabilidade e comprometimento com a cidade onde moro.
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2) Suas experiências profissionais vêm da iniciativa privada. Como elas vão auxiliá-la na direção da Belotur?

Minhas experiências em multinacionais tangibilizam o meu conhecimento técnico em gestão, processos e na área administrativa. Nos últimos quatro anos, especialmente durante a minha passagem pela Ambev, toquei muitos projetos a nível de marketing, estratégia, gestão, edital e em todos eles sempre levei as  pautas ESG. Hoje, sou uma profissional expert em  administração, mas com especialização em marketing com ESG, agregando também a estratégia criativa como base de todo o meu trabalho.
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3) Você faz questão de enfatizar que o seu "borogodó" é a conexão. Por quê?

Eu venho de uma família de matriarcas e aprendi que o afeto e a gentileza são um caminho de transformação. Acredito muito na força do diálogo entre pessoas diversas, unidas para cocriar soluções. Acredito também que por meio do trabalho em rede podemos impulsionar e fomentar muitas iniciativas que já estão aí. Gosto de movimento de gente pra gente, penso que no Brasil temos o borogodó da criatividade. No meu caso, digo que tenho o borogodó da conexão porque tenho a visão sobre como conectar pessoas que precisam se conhecer para promover alguma transformação conjunta.
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4) O que você define como "tecnologia de gente"?

Se trata de reconhecer a essência de cada indivíduo, enxergar possibilidades de caminhos e buscar soluções de vida. Falamos muito da tecnologia digital, computadorizada, mas precisamos pensar em gente, que é o nosso ativo criativo, entendendo seus valores e conhecimentos. O que perpassa pela ancestralidade, pelas  gerações, e tem o seu valor cunhado também na oralidade e não apenas em âmbito científico e acadêmico.
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5) A pauta ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) está muito presente em suas falas. Como pretende trazê-las  para os projetos da Belotur?

Faço parte da rede da Unesco-Sost Transcriativa que é um hub de inovação que busca o desenvolvimento sustentável pelo mundo, o primeiro hub chancelado fora de um ambiente acadêmico. Também integro uma rede de profissionais que se chama ESG Pra Já. Esse movimento faz com que tanto no setor público quanto na iniciativa privada sejam adotadas medidas ligadas ao meio ambiente, ao social e à governança. Acredito que a área de marketing também precisa ter esse olhar, descomplicando essas pautas e gerando aproximação da sociedade. A Belotur acabou de entrar para a Rede do Pacto Global, composta por empresas que têm esse compromisso com a  sustentabilidade e fico muito feliz de estar na empresa nesse momento. Muitos projetos que já acontecem nesse sentido na empresa, mas tenho colocado para os diretores e os times que a pauta ESG deve estar presente em todas as nossas iniciativas. Estamos falando de impactar pessoas positivamente e de redução de impacto ambiental.
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6) Em sua visão, qual o potencial turístico da capital mineira?

BH tem hoje duas das categorias mais potentes para receber, que são o turismo criativo e o turismo de negócios. Atualmente, na Belotur, estamos vivendo o momento de renovação dos produtos turísticos que oferecemos na cidade. O Programa Belo Horizonte Receptiva veio para mapear esses principais produtos e experiências turísticas. O objetivo é atrair  e capacitar os profissionais da cadeia produtiva, apoiando na estruturação e qualificação dos serviços ofertados. O programa realizado em parceria com o Sebrae também é super importante para o entendimento das outras experiências turísticas que temos em BH, tornando-a ainda mais atrativa e competitiva entre os destinos turísticos do país. No turismo de negócios, por exemplo, temos equipamentos que são muito bons, bem estruturados e com custo de locação muito mais em conta se comparado a cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Estamos preparados e à disposição para receber esses eventos.
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7) Uma das dificuldades apontadas no turismo da capital é o desinteresse da própria população pelos atrativos da cidade. É possível reverter esse quadro?

Belo Horizonte recebeu o título de  cidade criativa pela Unesco, por sua gastronomia, mas grande parte de seus moradores ainda não sabe disso. Também somos reconhecidos pelo Ministério do Turismo como Destino Turístico Inteligente (DTI) em transformação que abrange localidades com oferta de melhores experiências e serviços mais acessíveis, seguros e comprometidos com a sustentabilidade. Então, é preciso comunicar e ampliar essas  informações para gerar um sentimento de pertencimento na população local. O grande desafio é como captar a audiência dessas pessoas. Um dos caminhos é nos comunicarmos em rede, através de parceiros que já estão cocriando com a Belotur, entre eles receptivos, redes de hotéis, guias de turismo, taxistas, entre outros. Outra estratégia será a reformulação da comunicação em nossas redes sociais, divulgando o que tem sido feito pela empresa e elencando iniciativas ESG, mostrando os movimentos de promoção turística que existem aqui internamente. Através dos city tours (em micro ônibus) e walking tours (roteiros a pé), os belo-horizontinos e visitantes também podem ter a experiência de conhecer a capital sob um novo olhar, vivenciando a sua história, cultura, arte urbana e arquitetura.
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8) Quais são os principais eventos da capital na atualidade e como tem sido feita a sua divulgação lá fora?

Em se tratando de grandes eventos, temos o Carnaval de BH, que em 2024 bateu recorde de foliões e turistas, e o Arraial de Belô, um dos maiores do país e o maior evento junino do sudeste, ambos com acesso democrático. Em agenda, temos a gastronomia, que conversa com a rede de Cidades Criativas da Unesco, que se compromete em compartilhar boas práticas. Investimos também nas agendas nacionais e internacionais para promoção da cidade e na participação de congressos de cunho turístico para divulgação dos nossos produtos. Em consequência disso, essa semana foi inaugurado um voo direto de BH para o Chile que partiu dessa agenda de promoção turística.
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9) Você fala muito sobre a cocriação de projetos com profissionais que já alimentam a  cadeia produtiva do turismo em BH. Como isso acontece?

Entendo que temos o poder de trazer projetos que realmente têm a intenção de olhar para o impacto que pode ser gerado e que pode deixar um legado para a cidade. Precisamos de um olhar ambiental e para outras tantas questões necessárias. Mas não se trata apenas da Belotur ficar criando novos projetos. É preciso nos conectar com projetos já existentes e que podem ajudar a reduzir os impactos negativos da atividade.

10) Em sua opinião, quais os principais entraves para tornar Belo Horizonte em um polo de turismo contínuo e efetivo?

BH é uma cidade relativamente nova, ligada a um turismo criativo e urbano e estamos caminhando para a valorização desse segmento. Precisamos trilhar esse caminho de reconhecimento. Não digo que existam entraves mas, sim, um processo a ser trabalhado e o papel da Belotur é fomentar esses atrativos turísticos.
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