Estado de Minas EDUCAÇÃO

Estudantes de BH têm aulas sobre educação financeira e empreendedorismo

Incentivo ao empreendedorismo e educação financeira na infância formam alunos mais inspirados e adultos preparados para a vida


postado em 16/07/2024 00:34 / atualizado em 16/07/2024 00:47

A professora do ensino fundamental do Bernoulli Go, Marcelle Rangel:
A professora do ensino fundamental do Bernoulli Go, Marcelle Rangel: "Durante muito tempo houve uma confusão de achar que trabalhar a educação financeira era a mesma coisa de trabalhar sistema monetário" (foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Gestão de dinheiro, métodos de economia, orçamentos e investimentos são temas recorrentes no cotidiano de todas as pessoas. A habilidade de compreender tanto oportunidades quanto riscos financeiros não são somente competências necessárias para o êxito na vida adulta, como também tem se provado essencial para o bem-estar - viver com saúde financeira, finanças equilibradas e sem endividamentos é a aspiração de muita gente.

Não é à toa que, hoje em dia, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) prevê o estudo da educação financeira no ensino básico das escolas de todo o país, a fim de proporcionar uma base sólida de conhecimentos financeiros desde a infância. Para além de conceitos matemáticos, a disciplina auxilia estudantes a pensarem no projeto de vida e até na profissão que pretendem abraçar, já que experiências no ambiente escolar formam adultos mais preparados, capazes de conceber escolhas embasadas e sustentáveis para o futuro.

Evento para arrecadação de recursos do Coleguium: no fim do ano letivo, as classes do 5° ano ganham uma celebração em uma casa de festas, que é organizada pelas turmas e custeada com ações que realizaram ao longo do ano(foto: Coleguium/Divulgação)
Evento para arrecadação de recursos do Coleguium: no fim do ano letivo, as classes do 5° ano ganham uma celebração em uma casa de festas, que é organizada pelas turmas e custeada com ações que realizaram ao longo do ano (foto: Coleguium/Divulgação)
Professora do ensino fundamental do Bernoulli Go, Marcelle Rangel explica a importância de abordar o conteúdo a partir de diversas áreas e de maneira dinâmica. "Durante muito tempo houve uma confusão de achar que trabalhar a educação financeira era a mesma coisa de trabalhar sistema monetário. Embora os encontros aconteçam dentro da carga horária de Matemática, a gente trabalha de forma interdisciplinar", diz. "Por exemplo, quando falamos da origem do comércio, fazemos uma conexão com História, Geografia e atividades simulando o escambo." Uma das tarefas de maior sucesso promovidas anualmente na instituição é a Feira Literária. No evento, os estudantes levam livros usados e recebem um voucher - como um substituto para dinheiro físico - com o qual podem adquirir livros novos. A feira oportuniza aplicar na prática aprendizados vistos em sala de aula, à medida que fomenta a tomada de decisões responsáveis. "A educação financeira traz um novo olhar para os meninos. Com ela, a gente coloca o estudante como protagonista", afirma.

Toshanska Viana, coordenadora da educação infantil e ensino fundamental do Coleguium:
Toshanska Viana, coordenadora da educação infantil e ensino fundamental do Coleguium: "Muitos alunos saíram do nosso fundamental e começaram a empreender mesmo" (foto: Coleguium/Divulgação)
Aluno do Bernoulli da turma da professora Marcelle, Benedito Diniz, de 10 anos, relata que, graças aos estudos, tem aprendido a controlar o próprio dinheiro, comparar preços e ter noções de caro e barato. "Lembro de um livro que li que chama Konsumonstros. A gente aprendeu consumo consciente, a diferença entre consumismo e consumo, e lucro também, a ver o gasto para produzir e o tempo de produção." De acordo com a educadora, brincadeiras e simulação de cenários são ferramentas que despertam o interesse pela temática. Em determinada ocasião, como exemplo, ela instiga discussões em sala sobre a frequência de troca de celulares por modelos mais recentes. "Fazemos uma análise do benefício financeiro pessoal ao impacto em relação a gerar lixo eletrônico, trabalhamos a compra por impulso, aquilo que é duradouro e aquilo que é só de imediato… Eles já vão crescendo com essa visão de que é importante fazer análises", destaca Marcelle. Além dos aprendizados relacionados à finanças, Benedito Diniz também diz que as aulas os ajudam a pensar no planejamento do futuro e objetivos de vida, já que a própria professora usa dos encontros para falar sobre profissões e promover dinâmicas que os fazem refletir sobre seus sonhos e como alcançá-los. "Quando eu crescer acho que quero ser advogado tributário, porque quero ser rico", brinca o estudante.

Iniciativas que incentivam o espírito empreendedor alinhadas ao letramento financeiro também são apostas das instituições de ensino. As escolas contam com a ludicidade - resguardadas as particularidades de cada idade - e atividades que se aproximam da realidade das crianças para envolvê-las. Esse é o caso do Coleguium, que implantou um projeto especial de empreendedorismo para o ensino fundamental. Tendo como base estudos acerca da administração financeira, a escola concebeu uma ideia na qual as crianças participam de forma ativa em planejamento financeiro a longo prazo e são recompensadas com o resultado de seu trabalho. No fim do ano letivo, as classes do 5° ano ganham uma celebração em uma casa de festas, que é organizada pelas turmas e custeada com recursos de ações que realizaram ao longo do ano. Assim, o projeto não apenas habilita princípios de autonomia, mas também os faz entender o valor do dinheiro.

Luciano Santos, coordenador da Formação Geral Básica do Cotemig
Luciano Santos, coordenador da Formação Geral Básica do Cotemig "Todo projeto de vida envolve a dimensão econômica, considerando o ganho financeiro, as despesas e investimentos" (foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
"Os alunos organizam tudo, fazem rifas, vendem picolés, vendem doces na Festa Junina… Dividimos o que cada um precisa fazer, quanto é preciso ter por aluno, para que eles consigam executar todo o mapeamento e, ao final, irem para o dia de festa", explica Toshanska Viana, coordenadora da educação infantil e ensino fundamental do Coleguium, sobre como funciona a construção do evento. Toshanska conta que há vários relatos do impacto positivo que o contato desde cedo com noções de negócios tem na vida das pessoas - tanto de estudantes que colocam em prática o que aprenderam nos anos iniciais, quanto de pais e responsáveis que enxergam a importância da educação financeira no ambiente escolar. "Muitos alunos saíram do nosso fundamental e começaram a empreender mesmo", diz. A coordenadora ainda afirma que a inserção de ideias do tipo são essenciais no ensino básico, pois as crianças, em muitos momentos, possuem uma visão bastante estereotipada do dinheiro. "A proposta é que eles consigam entender as várias dimensões das finanças, que envolve até mesmo questões sócio-ambientais e, a partir disso, fazer escolhas assertivas. Com certeza, elas ajudarão nossos estudantes a serem pessoas mais protagonistas e que realmente pensem nas questões financeiras."

Já no colégio Cotemig, a educação financeira acontece nas três séries do Ensino Médio. Algumas atividades desenvolvidas são a Feira de Trocas, o Mesadinha e o uso do App Inventor para o desenvolvimento de um aplicativo para controle financeiro. Além disso, a formação conta com o Projeto de Vida, sendo parte do Novo Ensino Médio, que visa proporcionar autoconhecimento e orientação para que o aluno direcione seus estudos por áreas de conhecimento conforme o seu objetivo após o fim da trajetória escolar. Luciano Santos, coordenador da Formação Geral Básica do Cotemig, explica que a disciplina permite que os adolescentes - prestes a adentrar no ensino superior e no mercado de trabalho - entendam como considerar o fator financeiro é importante de acordo com o plano de carreira que cada um delinea. "Todo projeto de vida envolve a dimensão econômica, considerando o ganho financeiro, as despesas e investimentos", justifica. Nesse sentido, segundo o coordenador, a educação financeira, alinhada com o conteúdo do Projeto de Vida, é a chave para que os jovens compreendam o valor financeiro agregado à profissão escolhida. "A consciência financeira possibilita aos estudantes discernirem o critério econômico inerente à profissão, o investimento na formação profissional e seus benefícios econômicos pelo trabalho realizado futuramente", diz Luciano.

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