"Velho que não anda, desanda". O ditado popular está cada dia mais realista, mas o que não se imaginava é que as gerações mais jovens compartilhariam de problemas que se acreditavam ser inerentes somente ao avanço da idade. Segundo a Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED), estima-se que mais de 60 milhões de pessoas convivam com a dor crônica no Brasil, aquela que persiste por mais de três meses consecutivos. O problema atinge desde pessoas sedentárias a atletas de alto desempenho e não faz distinção de faixa etária, sendo muito comum em adolescentes. A dor musculoesquelética é a mais prevalente na população mundial e afeta os ossos, articulações, músculos, tendões e ligamentos. O impacto gerado pela dor crônica na vida dos indivíduos reflete-se diretamente em sua qualidade de vida, prejudicando a saúde física e mental e interferindo em suas relações interpessoais. Em casos mais graves, pode levar até mesmo à incapacidade funcional e resultar na dependência de outras pessoas.
Por isso é bom ficar atento. Os principais sinais de que o corpo está pedindo socorro são as dores musculares e articulares, acompanhadas pela fadiga, insônia, queimação, pontada, ansiedade, irritabilidade e depressão. Diante dos malefícios que o excesso de medicamentos traz ao organismo e, muitas vezes, da sua ineficiência na redução da dor, a fisioterapia surge sob a ótica de uma abordagem multidisciplinar e complementar na saúde, conferindo bem-estar, liberdade e qualidade de vida aos pacientes. "A ciência da fisioterapia tem sido cada vez mais resolutiva no processo da cura da dor e liberação dos movimentos por meio de tratamentos precisos e uso de tecnologia de ponta", diz o fisioterapeuta e professor Arno Nunes Ribeiro, especialista em osteopatia estrutural, anatomia e clínica de dor. Em 2021, a Organização Mundial da Saúde alertou que a dor lombar, também conhecida como lombalgia, é a segunda maior causa de ida dos pacientes aos consultórios médicos, perdendo apenas para a dor de cabeça. A explicação é simples: algumas das mudanças de hábitos e costumes advindos da contemporaneidade fazem muito mal à saúde. Passar horas na frente de aparelhos como celulares, tablets e computadores, por exemplo, estimula a má postura e o sedentarismo, resultando em dores nos ombros, na região lombar e dorsal, quadril, pescoço, joelhos e até no chamado distúrbio temporomandibular (DTM). Outro agravante é o estresse característico da vida contemporânea.
No Brasil, a regulamentação da fisioterapia como profissão de nível superior ocorreu em 1969 com o Decreto-Lei 938, no auge da ditadura militar. A partir da década de 1980 houve ampla expansão da especialidade, que atualmente possui um arsenal de recursos terapêuticos. "A avaliação criteriosa do paciente é uma etapa muito importante para achar a causa da dor, realizada por meio de exame biomecânico e cinesiológico, além de exames de imagem e bioquímicos e o uso de aparelhos específicos", diz Arno. Seguindo a teoria de Hipócrates, em 400 a.C, que diz que "em qualquer parte do corpo, se houver excesso de calor ou de frio, a doença existe e é para ser descoberta", criou-se o exame de termografia infravermelha, instrumento capaz de analisar funções fisiológicas relacionadas ao controle da temperatura da pele e de mostrar mudanças fisiológicas como síndromes e lesões.
Entre as áreas de atuação da especialidade estão a fisioterapia ortopédica, neurológica, cardiovascular, respiratória, pediátrica, geriátrica, desportiva e uroginecológica, além da quiropraxia e osteopatia. As terapias são indicadas de acordo com o diagnóstico de cada paciente, fazendo uso de técnicas modernas como a crioterapia, fototermoterapia, ondas de choque extracorpórea, laserterapia, ozonioterapia, eletroterapia, dry needling (agulhamento a seco) e acupuntura. "Alguns tratamentos são feitos com injetáveis como anti-inflamatórios, aplicados diretamente em articulações e músculos para tratamento de pontos gatilhos, especialmente em casos de fibromialgia", explica o fisioterapeuta e professor Wesley Edgard da Silva, especialista em quiropraxia, ergonomia e fisioterapia cardiorrespiratória. A infiltração de ácido hialurônico em joelhos, diz ele, auxilia nos casos de artroses e até mesmo de forma preventiva. A toxina botulínica é utilizada tanto para tratar patologias como derrames e paralisia cerebral, quanto para auxiliar em questões estéticas.
O MC e DJ Rogério Modesto da Silva Júnior, de 29 anos, recorre à quiropraxia para ter um melhor desempenho em suas atividades. "Além de não sentir mais dores musculares, durmo bem melhor", diz ele. O modelo e empresário Bernardo Freitas Santos, de 26 anos, compartilha da opinião do amigo: "Eu me sentia travado e após o tratamento tenho mais mobilidade e disposição física". Além das dores musculoesqueléticas, um terço da população feminina também sofre com Disfunções do Assoalho Pélvico (DAP), com sintomas como perda de urina e dor na relação sexual. "É uma região que deveria ser tratada como qualquer outra parte do corpo, de forma natural", diz a fisioterapeuta e professora Fernanda Saltiel, especialista em saúde da mulher. Pesquisas apontam que as disfunções pélvicas mais frequentes são incontinência urinária (IU), incontinência fecal e prolapso genital. Estudo da Sociedade Internacional de Continência (ICS) mostra que a prevalência de incontinência urinária ocorre entre 25% e 49% da população feminina. A fisioterapia pélvica veio para ajudar a mulher a recuperar a qualidade de vida com técnicas de consciência corporal, respiração e relaxamento. "O treinamento muscular é tratamento de primeira linha para as DAP e também previne a ocorrência da IU na gestação e pós-parto, por exemplo", diz Fernanda. Sabendo disso, a fisioterapeuta Ana Paula Miranda Gazzola, de 34 anos, buscou a fisioterapia pélvica para prevenir problemas em sua gestação. "Comecei antes de engravidar para conhecer melhor o meu assoalho pélvico e prepará-lo para a sobrecarga da gestação e parto", afirma.
O fisioterapeuta e professor Ronner Bolognani é especialista em fisioterapia esportiva, reconhecido por acompanhar atletas de clubes de futebol nacionais e internacionais. Segundo ele, o excesso de atividades também acarreta dores, o que ocorre muito com atletas de alto desempenho e impacto. "Pesquisas já apontam que o ideal seria estarmos em um nível intermediário para evitar as dores crônicas", diz. Ele avalia que viver com dor não é normal e que, para cada problema, uma técnica pode ser indicada. "Na fisioterapia esportiva buscamos prevenir as lesões, tratá-las efetivamente quando ocorrem, além de otimizar o desempenho esportivo do atleta."