Revista Encontro

EDUCAÇÃO

Saiba como algumas escolas de BH coibem o bullying e o cyberbullying

Em 2022, um programa internacional apontou que 11% dos alunos brasileiros entrevistados relataram sofrer bullying com frequência na escola

Patrícia Cassesse
- Foto: Freepik
Sancionada no início do ano, a Lei nº 14.811 instituiu medidas visando reforçar ainda mais a proteção à criança e ao adolescente contra a violência nos estabelecimentos educacionais ou similares, públicos ou privados. Entre vários tópicos, a nova legislação promoveu alterações significativas no que tange à punição a práticas de bullying e cyberbullying. Na verdade, a necessidade de atualizações constantes nas ações de enfrentamento a uma prática de efeitos tão danosos para a sociedade como o bullying só faz atestar o quanto, nos últimos anos, essa pauta foi adquirindo relevância e urgência.
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Mesmo com vários avanços na área, em 2022, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) apontou que 11% dos alunos brasileiros entrevistados relataram sofrer bullying com frequência na escola. Um percentual maior do que a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), na casa de 8%.
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Diretor de Ação Social e Pastoralidade da Rede Lius Agostinianos, à qual pertence o Colégio Santo Agostinho, Marco Henrique Silva conta que a instituição implantou uma abordagem sistematizada e preventiva contra o bullying e o cyberbullying, com foco na educação para a convivência ética e na construção de um ambiente de paz desde a primeira infância. Para isso, a instituição adotou o Programa de Convivência Ética (PCE), que integra o currículo desde a educação infantil até o ensino médio. O objetivo, ressalta, é fortalecer valores como respeito, diálogo e empatia.
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No Programa de Convivência Ética, instituído pela Rede Lius Agostinianos, alunos escolhem colegas com base no critério confiabilidade: estes estudantes passam a usar pulseiras verdes e são referência para a escuta atenta e auxílio à resolução de conflitos - Foto: Agencia i7/DivulgaçãoNo PCE, as atividades são adaptadas por faixa etária. "Por exemplo: para envolver as crianças e as famílias da educação infantil ao quinto ano nessa proposta de convivência ética, foram criados mascotes, personagens e outros mecanismos", diz. Um exemplo que ilustra a interação é o "passaporte". Trata-se de um caderno com o relato de situações-problema que as crianças do quarto ano levam para casa: "Elas elaboram essas situações em sala de aula e, em casa, conversam com suas famílias para, juntos, formularem uma resposta que ajude a resolver a questão", diz Marco Henrique. Para ele, trata-se de um momento importante para que as famílias compreendam como o PCE é aplicado na prática.
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Já os estudantes do sexto e sétimo anos trabalham com um diário de bordo, onde registram os aprendizados e as experiências com o componente curricular de Convivência. Por seu turno, os alunos do oitavo e nono anos, assim como os do ensino médio, desenvolvem suas atividades de forma transversal. Marco Henrique acrescenta que outro destaque do PCE são as Equipes de Ajuda, cuja formação fica a cargo dos próprios estudantes, que escolhem colegas com base no critério "confiabilidade". A partir daí, eles passam a usar uma pulseira verde. A ideia é que ofereçam uma escuta atenta aos que precisarem, bem como auxílio à resolução de conflitos mediante estratégias cooperativas, colaborativas e de entendimento. Além de fomentar o senso de empatia e responsabilidade, a prática permite que os próprios alunos aprendam a resolver conflitos e possam apoiar uns aos outros. O Santo Agostinho, frisa Marco Henrique, também promove aulas de escuta, assim como apoio de psicólogos e psicopedagogos, "uma postura ativa na identificação de questões de ansiedade e bullying" como afiança o diretor. Não bastasse, há assembleias de classe, nas quais os alunos compartilham perspectivas sobre o impacto do bullying, o que fortalece a compreensão dos danos emocionais e sociais dele advindas. "Ou seja, o PCE não atua apenas como um método de prevenção, mas ajuda a criar uma mentalidade mais consciente e responsável."
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Outra instituição de ensino afinada ao trabalho preventivo é o Colégio Santa Maria Minas, que trabalha para antecipar e evitar situações de conflito que possam gerar violências, como o bullying e o cyberbullying. Psicóloga da instituição, Ana Rita Siqueira explica: "Sabemos que essas formas de violência afetam diretamente o bem-estar e o desenvolvimento dos estudantes, e, por isso, a prevenção e o combate são uma prática diária".
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Alunos das escolas Bilboquê (à esquerda) e Visconde de Sabugosa (à direita): é na educação infantil, quando as janelas das inteligências estão a todo vapor, que se forma o alicerce de toda uma vida - Foto: DivulgaçãoO programa do Santa Maria está estruturado em quatro eixos: o Institucional, o Socioemocional, o Curricular e o Plano de Convivência. Juntos, eles atuam para garantir um ambiente seguro e favorável ao desenvolvimento integral do aluno. O Eixo Institucional assegura que os espaços de escuta e participação dos alunos sejam sistematizados e organizados de forma a promover uma convivência planejada e intencional. Já o Socioemocional, a desenvolver habilidades sociais e emocionais para que o aluno aprenda a lidar com conflitos de maneira construtiva e solidária. No Eixo Curricular, valores como pluralidade, solidariedade, dignidade e respeito às diferenças são integrados ao conteúdo pedagógico, tornando o combate ao bullying parte de uma formação mais ampla. Por fim, o Plano de Convivência estabelece estratégias coordenadas para promover a qualidade das relações interpessoais e minimizar episódios de violência, criando um ambiente onde todos se sintam valorizados e respeitados.
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Além desses eixos, o Colégio Santa Maria Minas realiza projetos institucionais e iniciativas específicas. Um dos principais projetos, salienta Ana Rita, é o Paz na Escola, que propõe disseminar a cultura da paz em todos os espaços de aprendizagem. Além de alunos e professores, o projeto também abarca as famílias, fazendo uma reflexão contínua sobre valores como solidariedade e empatia. Aliás, neste ano, o tema foi Somos Construtores da Paz, "com uma ação especial voltada para os pais, abordando a criminalização do bullying e cyberbullying", como ela afirma.
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Outro projeto do CSM é o Casa de Palavras, que dedica parte do ano letivo ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais, com enfoque no combate ao bullying. Segundo Ana Rita, "essas iniciativas são complementadas por campanhas educativas e de conscientização, além de debates e atividades práticas que estimulam a amizade, a tolerância, o respeito às diferenças, a solidariedade e a cooperação."
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Diretora da Escola Visconde de Sabugosa, Lilian de Oliveira Costa lembra que é de pequeno que se aprende e que, por isso, a instituição parte da crença de que é na educação Infantil que formamos o alicerce de toda uma vida. "Estudiosos falam que, até os 7 anos, a criança forma 80% da personalidade, bem como é nessa fase que as janelas das inteligências estão a todo vapor." Segundo ela, parte significativa da proposta pedagógica da Visconde de Sabugosa é se valer de situações rotineiras para o crescimento do grupo: "Assim, rodas de conversa, para que a criança possa expressar, ouvir o outro, negociar, refletir; são constantes em nossa rotina". Os temas, aponta Lilian, envolvem desde conflitos a busca por soluções. "Nas rodas, as crianças são incentivadas a se colocar no lugar do outro. Claro, sabemos que ainda não têm maturidade para antecipar as consequências de uma ação, mas, mesmo estando em uma fase egocêntrica, acreditamos que vale a pena exercitar a empatia."
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Lilian informa ainda que na instituição o bullying não chega efetivamente a acontecer: "No entanto, quando notamos pequenas tentativas, o próprio grupo expõe suas opiniões e cobra posturas respeitosas de todos. Temos um discurso muito claro com as crianças: ‘Eu não faço/falo assim com você e não quero que fale/faça comigo’. Além de cobrar do outro, fortalecemos nossas crianças para se posicionarem". Outro recurso adotado no Visconde de Sabugosa, e tido pela diretora como muito eficaz, é o investimento na inteligência emocional. Nesse sentido, uma diretriz é, desde bem pequenos, ensinar os alunos a nomear os sentimentos.
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Diretor de Ação Social e Pastoralidade da Rede Lius Agostinianos, Marco Henrique Silva: "Criamos mascotes e outros personagens para envolver alunos da educação infantil" - Foto: DivulgaçãoNa eventualidade de situações inconvenientes, a Escola Infantil Visconde de Sabugosa entende que é preciso ouvir não apenas a versão da vítima, mas também do agressor e, ainda, de quem porventura assistiu. "Acabam sendo trocas ricas e eficientes", assegura. No decorrer do ano, se há reincidências, são firmados combinados, cujo cumprimento aponta o entendimento do comportamento melhor para todos.
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Diretora pedagógica da Bilboquê Gutierrez, Alessandra Saraiva relata que, para estabelecer bases sólidas de convivência e respeito desde os primeiros anos de vida, a escola optou por abordar o tema - bullying - de forma transversal, ou seja, em diferentes áreas do conhecimento. Concomitantemente, a instituição se empenha em oferecer um ambiente seguro e acolhedor, no qual as crianças possam se sentir amparadas e, do mesmo modo, aprendam a respeitar as diferenças. O que, lembra ela, "exige que os educadores ensinem habilidades socioemocionais, como empatia, comunicação não violenta e resolução de conflitos de maneira pacífica, por meio de atividades lúdicas e pedagogicamente adaptadas à faixa etária", diz.
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Alessandra ressalta que a Bilboquê conta com um setor de psicologia que realiza assessorias recorrentes com a equipe pedagógica para mediar o diálogo, incentivar a expressão dos sentimentos e ensinar estratégias para lidar com situações de conflito de forma construtiva. "Como instituição, é nosso papel envolver os pais e responsáveis, compartilhando informações sobre prevenção e intervenção, incentivando o diálogo em casa. Por isso, para atuar na formação de crianças tão pequenas, a escuta ativa e a parceria entre escola e família é fundamental."
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