Nas aparições em público seguintes, Demi Moore já se mostrava com as feições habituais. E, no filme citado, se faz digna de aplausos ao, estando nua em frente às câmeras, expor um corpo deslumbrante sim, mas que não esconde as marcas da passagem do tempo, sobretudo na textura da pele. A atriz, vale dizer, nunca falou publicamente sobre os eventuais procedimentos aos quais teria se submetido. No entanto, não têm sido poucas as celebridades que, nos dias atuais, insatisfeitas com resultados obtidos por meio de intervenções no rosto, compartilham, com os fãs, a retirada dos artifícios utilizados. Não por outro motivo, a expressão "desarmonização facial" acabou se tornando pauta na mídia.
. Para Juliana Fernandes, mestre em odontologia e doutoranda pela UFMG, a grande questão é que o boom da harmonização facial registrado nos últimos anos fez com que muitas pessoas passassem a buscar resultados imediatos. "E, nesse processo, acabava-se usando muito material, o que gerava um efeito exagerado". Ela cita, por exemplo, lábios mais volumosos, malares muito ressaltados e o ângulo da mandíbula muito definido. No entanto, Juliana lembra que, na maioria das vezes, os recursos eram utilizados a pedido do próprio paciente.
. Daí a guinada para a tendência atual. "Então, o que as pessoas querem, hoje, com a harmonização facial é estar belas, mas de uma forma mais natural, sutil. Por isso uma certa procura pela remoção de produtos utilizados nesses procedimentos de um tempo atrás, de forma exagerada". A especialista em harmonização orofacial e periodontista Priscila Costa ratifica a tendência: "Atualmente, as pessoas estão buscando procedimentos mais naturais, que proporcionam beleza e rejuvenescimento sem transmitir um aspecto artificial ou que mude a própria identidade", diz ela.
. Juliana Fernandes se vale de uma expressão conhecida para o fenômeno: "As pessoas ‘caíram na real’. Ou seja, entenderam que não é necessário todo aquele exagero de antes para se sentirem belas. Que o imediatismo nem sempre é o melhor resultado. O que vemos, hoje, é uma procura com relação ao gerenciamento do envelhecimento, que, quando feito, o resultado é mais natural". Priscila Costa concorda: "Para obter resultados mais duradouros, a harmonização orofacial precisa ser feita em etapas e cuidada como um jardim. Ou seja, adubar, regar", compara.
. "O envelhecimento é um processo natural a todo ser"
Mestre em psicanálise pela UFMG e psicólogo clínico, Danty Marchezane salienta, referindo-se ao boom da harmonização facial registrado de uns anos para cá no Brasil e em vários países, que, não raro, em uma sociedade marcada pelo consumo, é comum registrar essa que ele vê como uma aquisição apressada de mercadorias influenciada por marcadores sociais bem definidos. "Como padrões estéticos, de estilo de vida, de produtos que as pessoas utilizam como um marcador de identidade". E isso, claro, tem consequência. Assim, Marchezane entende que o primeiro passo é ser crítico a ofertas mercadológicas que impactam a vida - ou seja, não só no âmbito estético.
. Do mesmo modo, para Danty, um dos pontos que justificam a procura desmedida por procedimentos estéticos é o fato de esses comumente prometerem respostas rápidas para uma questão que, enfatiza, talvez seja mais profunda. No entanto, Marchezane, que é também conselheiro do Conselho Regional de Psicologia - MG, reconhece que é difícil dar conselhos sem cair em falas "no campo de uma pura motivação". "Então, eu diria que o cuidado é, sim, muito importante, mas é preciso frisar que os anos passam para todas e todos. E que é fundamental questionarmos o porquê dessa insatisfação, uma vez que o envelhecimento é um processo natural a todo ser".
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