Estado de Minas CULTURA

28ª edição da Mostra de Tiradentes abre calendário de festivais no Brasil

O evento deste ano homenageia a atriz Bruna Linzmeyer


postado em 07/01/2025 00:39 / atualizado em 07/01/2025 11:06

Público assiste a filme na praça durante Mostra de Tiradentes, em 2024: evento movimenta a economia da cidade e reuniu, na edição passada, um público de 35 mil pessoas(foto: Leo Lara/Divulgação)
Público assiste a filme na praça durante Mostra de Tiradentes, em 2024: evento movimenta a economia da cidade e reuniu, na edição passada, um público de 35 mil pessoas (foto: Leo Lara/Divulgação)
"Que cinema é esse?". A indagação é da 28ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, que, em 2025, tem a proposta de impulsionar uma inovação mais profunda do fazer cinematográfico. "Que reconfigure um olhar para o mundo e para o novo, para aquilo que ainda não tem nome", examina Raquel Hallak, diretora da Universo Produção e coordenadora-geral do evento anual, que abre o calendário de festivais dedicados à sétima arte no Brasil.

"Mapear o conjunto numeroso de filmes, práticas e ideias, conhecer e reconhecer obras diversas e diferentes entre si e que, na maior parte dos casos, não viria a público de outro modo que não fosse em um festival. Trazer ao público uma multiplicidade de títulos e de cineastas que desejam existir (e ter condições de existir) para além do evento que os revela: Que cinema é esse?", provoca ela, em entrevista a Encontro, quando trouxe detalhes exclusivos da próxima edição da mostra, que acontece entre 24 de janeiro a 1º de fevereiro de 2025.

Raquel Hallak, coordenadora-geral:
Raquel Hallak, coordenadora-geral: "A Mostra de Tiradentes se tornou uma importante plataforma de lançamento e visibilidade para novos realizadores e para o cinema independente." (foto: Leo Lara/Divulgação)
No total, serão nove dias de uma programação, classificada por Hallak como "intensa, abrangente e gratuita, com atrações para todas as idades", incluindo a exibição de mais de 100 filmes brasileiros em pré-estreias e mostras temáticas. O tradicional evento mineiro também recebe atividades formativas e de mercado, como  seminário, rodas de conversa, oficinas e o Brasil CineMundi, que reúne ações de mercado voltadas para o cinema nacional. Há, ainda, obviamente, as premiações, que consagram títulos, artistas e realizadores. Outras atrações incluem exposições, teatro de rua, lançamento de livros, shows, performances e o Cortejo da Arte, que abre a mostra levando um desfile de grupos tradicionais para as ruas da cidade histórica localizada nos Campos das Vertentes. Mais uma vez, a mostra estende seu programa por meio de plataformas online, que recebem uma janela de filmes selecionados.

A próxima edição do festival, aliás, já definiu a sua homenageada: a atriz Bruna Linzmeyer. "(Ela é) um dos principais nomes de uma geração de atores e atrizes que ascenderam no início da segunda década dos anos 2000, quando deixou a televisão aberta para fazer frente à diversificação dos produtos audiovisuais estrangeiros, experimentou uma renovação de temas e formas na sua teledramaturgia e o mercado de cinema vivia um aquecimento estimulado pelas políticas públicas e por uma razoável circulação internacional", elogia Raquel.

Bruna Linzmeyer, acima em cena do filme A Frente Fria que a Chuva Traz, será a homenageada desta edição e é elogiada por Raquel Hallak:
Bruna Linzmeyer, acima em cena do filme A Frente Fria que a Chuva Traz, será a homenageada desta edição e é elogiada por Raquel Hallak: "Soma carisma rebelde, uma fotogenia rara, um talento mutante." (foto: Divulgação)
Catarinense, Bruna Linzmeyer se mudou para São Paulo aos 16 anos para estudar teatro e trabalhar como modelo. Estreou na televisão em 2010 na série Afinal, O Que Querem as Mulheres?, de Luiz Fernando Carvalho, e, em seguida, engatou uma sequência de novelas. No cinema, estreou em 2013, na produção estrangeira Rio Eu Te Amo ao lado de Rodrigo Santoro. Desde então, realizou mais de 20 filmes. "Artista de coragem e escolhas assertivas, Bruna Linzmeyer soma carisma rebelde, uma fotogenia rara, um talento mutante, que se transforma a cada projeto, e se apresenta como uma mulher de seu tempo, pois se vincula às lutas e a um cinema do prazer, inventivo, poético e desconcertante", avalia a coordenadora-geral do evento, acrescentando que a atriz esteve muitas vezes nas telas da Mostra de Cinema de Tiradentes, mas nessa 28ª edição marcará sua presença como homenageada e receberá o Troféu Barroco no primeiro dia de atividades.

Em relação aos títulos que serão exibidos, Raquel sinaliza que o processo de seleção está em andamento. "Mas vamos adiantar aqui a exibição de dois longas-metragens que integram a Mostra Homenagem a Bruna, que são A Frente Fria que a Chuva Traz, de Neville d’Almeida (2016), e a pré-estreia do filme Baby, de Marcelo Caetano, o público poderá conferir a atuação da nossa homenageada", revela.

Festivais continuam vivos e relevantes


Repercussão no Festival de Veneza contribuiu para impulsionar Ainda Estou Aqui, de Walter Salles; longa já tem indicações ao Globo de Ouro (melhor atriz e filme estrangeiro), cuja cerimônia que acontece em 5/1); ao Critics Choice Awards (filme estrangeiro), em festa em 12/1; e há expectativas de indicação ao Oscar, cujos nomeados serão anunciados em 17/1(foto: Sony Pictures/Divulgação)
Repercussão no Festival de Veneza contribuiu para impulsionar Ainda Estou Aqui, de Walter Salles; longa já tem indicações ao Globo de Ouro (melhor atriz e filme estrangeiro), cuja cerimônia que acontece em 5/1); ao Critics Choice Awards (filme estrangeiro), em festa em 12/1; e há expectativas de indicação ao Oscar, cujos nomeados serão anunciados em 17/1 (foto: Sony Pictures/Divulgação)
Entre os fatores que levaram o longa Ainda Estou Aqui (2024) a se tornar um fenômeno no Brasil - ultrapassou a marca dos 2,5 milhões de espectadores -  surpreendendo até mesmo seu diretor, Walter Salles, está a estreia no Festival de Veneza, onde foi aplaudido por dez minutos e premiado na categoria de Melhor Roteiro. Um reconhecimento que ressoou nacionalmente, como analisou Fernanda Torres, protagonista da trama: "A expectativa em torno do filme começou com a reação do público no Festival de Veneza. Aquilo viralizou. Depois vieram as críticas, todas muito positivas e isso acendeu a expectativa de que o longa pudesse ter um caminho parecido com Central do Brasil (BRA,1998)", disse, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo no fim de novembro.

Raquel Hallak concorda. E vai além. Para ela, o fenômeno Ainda Estou Aqui é um símbolo de como os festivais de cinema continuam vivos e relevantes, mesmo na era do streaming, que transformou as formas de consumir filmes ao oferecer acesso instantâneo a uma enorme variedade de conteúdos. Mesmo nesse cenário, prossegue ela, esses eventos continuam a ser vitais para a sétima arte por várias razões: "Eles são pontos de encontro para profissionais que integram o ecossistema audiovisual e público, permitindo a troca de ideias e o fortalecimento da indústria cinematográfica; são plataformas para o lançamento de filmes, mas também são catalisadores para o sucesso comercial e artístico de obras, mesmo em um cenário dominado pelas plataformas de streaming; além disso, podem destacar filmes que talvez não recebessem a mesma atenção nos meios tradicionais, apontando tendências e inovando a cena audiovisual", afirma.

"A estreia em um festival de cinema também pode gerar um burburinho de crítica e mídia, o que aumenta a visibilidade do filme e sua demanda em salas de cinema, antes mesmo de sua chegada ao streaming. Essa visibilidade no circuito de festivais pode, assim, impulsionar o sucesso de um filme, como demonstrado por Ainda Estou Aqui, que se beneficiou de sua estreia em um ambiente de prestígio", conclui a coordenadora-geral da Mostra Tiradentes, que marca o início do ciclo anual de celebração e reflexão sobre a produção cinematográfica nacional.

"Com foco em filmes brasileiros contemporâneos, especialmente aqueles com características autorais e inovadoras, a Mostra de Tiradentes se tornou uma importante plataforma de lançamento e visibilidade para novos realizadores e para o cinema independente. É reconhecida também por promover discussão sobre tendências e ser um espaço para a troca de ideias entre cineastas, críticos, profissionais do audiovisual, acadêmicos e público", assinala Hallak, acrescentando que o evento cumpre uma função essencial na construção de um panorama contemporâneo do cinema brasileiro, refletindo temas sociais, culturais e estéticos da atualidade.

28ª Mostra de Cinema de Tiradentes
  • De 24 de janeiro a 1º de fevereiro de 2025
  • Centro histórico de Tiradentes
  • Gratuito

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