- Foto: Pádua de Carvalho/Encontro"Cavalo que ama o dono, até respira do mesmo jeito." A frase do médico e escritor mineiro Guimarães Rosa é uma inspiração e tanto para a empresária Cristiana Gutierrez. Quando dezembro chegar e terminar sua gestão à frente da Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador, ela terá deixado um legado especial, entre tantos que se seguem: o de primeira mulher a presidir uma associação com mais de sete décadas de história. "Desde que assumi a presidência da ABCCMM, estive ciente da enorme responsabilidade que consiste em presidir uma entidade de tamanha importância", diz. Seu orgulho por desempenhar tal papel não é maior do que sua dedicação à causa. Cristiana luta para que sua classe tenha essa atividade de negócios reconhecida e unida: "Sem sombra de dúvida, serão quatro anos de gestão dedicados à nossa grande paixão, o mangalarga marchador", diz.

Ela sabe que essa façanha vai mais além de sua sala na associação ou mesmo das terras onde cria seus belos animais, entre eles suas éguas de montaria "do coração" Hilda e Adélia, nomes que homenageiam duas escritoras brasileiras, Hilda Hilst e Adélia Prado respectivamente. Cristiana já está mudando um cenário dominado por homens e influenciando mais mulheres a atender o chamado ao agronegócio. "Hoje, vemos no cavalo muitas mulheres atuantes e interessadas no aprimoramento das informações, com amplo interesse de criar e montar, características de que tenho muito orgulho em inspirar", diz. Mãe de três filhos, Cristiana também se diz realizada ao ver o filho mais velho, Flávio, que herdou o nome do avô, acompanhar seus passos na criação da raça e nos empreendimentos da família.

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À frente da ABCCMM, a empresária levou para o cargo a experiência de mais de 35 anos criando cavalos no Haras Morada Nova, em Inhaúma (MG), que ela tornou realidade na fazenda que pertencia ao pai. Herdeira de uma família tradicional ligada a ramos de negócios diferentes, como a construção civil, Cristiana é médica cardiologista por formação e trabalhou mais de 20 anos na Santa Casa de Misericórdia, em Belo Horizonte. Podia simplesmente ser mais uma pessoa a dirigir uma associação ligada ao agronegócio. Mas não. Seu nome já entrou para a história da entidade, uma das maiores do gênero na América Latina. No fim do ano passado, ela escreveu em Instagram: "É preciso transformar aquilo que gostamos e construímos com amor e propósito em legado". Por isso, reuniu sua vivência de profissional da saúde, na lida diária por salvar vidas, e a paixão pelos cavalos, animais que servem para o trabalho e para o lazer, para fazer valer seu papel de revolucionária e sem transformar esse pioneirismo em luta de gênero, afinal ela é uma líder destinada a chegar onde chegou. "Quando se fala em legado, vejo o trabalho da nossa diretoria reconhecido, acima de tudo, pela valorização da excelência técnica e do conhecimento, e na busca do efetivo compromisso ético adotados na gestão", afirma. "Comemoramos o crescimento e fechamos o ano com 25.835 associados ativos na ABCCMM, plantel de 754.536 animais, 56 núcleos regionais e 360 eventos realizados", completa.

Cristiana se diz satisfeita pelas conquistas dos três primeiros anos na presidência da entidade e destaca as de 2024, na verdade planos concretizados com sucesso: investimentos na capacitação do quadro técnico, nos cursos para criadores, na formação de novos jurados e na geração de mão de obra especializada da raça por meio do curso de formação por competência em parceria com as federações de agricultura estaduais; criação de novas comissões para o aprimoramento de ações voltadas ao bem-estar animal. São alguns exemplos do trabalho feito ao longo de 12 meses, que também serviram para festejar os 75 anos da ABCCMM. "Celebramos a nossa história, cultivamos a nossa cultura e projetamos o nosso futuro. Em 2024, desde o início utilizamos a data em várias atividades e ações institucionais", conta.

Uma dessas comemorações faz parte do calendário anual da associação, a tradicional Exposição Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador, que acontece em BH desde 1982, no Parque da Gameleira. No ano passado, os números mostraram o sucesso do evento. Foram 1.546 animais inscritos, de 16 estados. Dos 478 expositores, 342, ou seja 72%, propriedades de associados que trouxeram menos de quatro animais, sendo 70 deles premiados na exposição. As provas esportivas envolveram 60 animais. "Em 2025, continuaremos com a certeza de que temos muito a fazer", diz Cristiana".

A programação deste ano começa com a Exposição Brasileira do Criador, primeira grande competição oficial de 2025. Na sequência, em julho, a 42ª Exposição Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador e, em setembro, o 3º Campeonato Brasileiro de Provas Esportivas e Sociais, sendo este fruto criado e implantado por nossa gestão." Tem mais, segundo a presidente da ABCCMM: "Ainda no calendário, teremos, em novembro, o Campeonato Brasileiro de Marcha (CBMs) e as Provas Esportivas e as Cavalgadas Temáticas, ambas com a expectativa de levar cada vez mais o criador a participar ativamente dos eventos".

Esse trabalho incansável também responde por uma conquista importante da associação comanda pela médica: a partir de 2025, o Parque de Exposições Bolivar de Andrade, mais conhecido como Parque da Gameleira, será comandado pela ABCCMM, vencedora do processo de consulta pública para a gestão do espaço. O anúncio foi feito em fins de 2024 pelo governo do estado de Minas Gerais e a expectativa agora é a finalização do processo da assinatura de documentação para colocar os planos em ação. É também na Gameleira onde está instalada a sede da associação, entidade civil sem fins lucrativos, credenciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o registro genealógico oficial de animais da raça. Nada mais justo que quem entende do assunto cuide do parque.