Estado de Minas ESPECIAL

Mineiros do Ano 2024 - Gabriel Araújo (Gabrielzinho)

Fez participação histórica nos Jogos de Paris, onde conquistou três medalhas de ouro


postado em 10/02/2025 01:17 / atualizado em 10/02/2025 01:26

(foto: CPB/Divulgação)
(foto: CPB/Divulgação)
Grande estrela do Brasil nos Jogos Paralímpicos de Paris, Gabriel Araújo foi o único atleta não francês citado pelo presidente do Comitê Organizador, Tony Estanguet, na cerimônia de encerramento. "Quando o brasileiro Gabrielzinho conquistou suas três medalhas, enviou uma mensagem poderosa para pessoas com deficiência: o esporte é para você também", declarou o dirigente durante discurso no Stade de France.

  • Gabriel Geraldo dos Santos Araújo, 22 anos

  • Nascido em Santa Luzia (MG)

  • Solteiro

  • Atleta paralímpico, conquistou três medalhas em Paris em 2024. Quebrou o recorde mundial nas eliminatórias dos 150m medley, também durante os Jogos na capital francesa. Eleito o melhor atleta, na categoria masculina, pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Encerrou 2024 como campeão da World Series da Natação, competição que reúne atletas de todas as classes paralímpicas nas mesmas baterias. Gabriel nadou os 50m borboleta, em Berlim, na Alemanha (onde quebrou o recorde mundial na sua classe), e os 100m livre, em Limoges, na França (recorde das Américas).

O nadador foi mesmo a grande sensação das Paralimpíadas. Carismático, caiu nas graças da torcida francesa. A principal emissora do país, a France2, o elegeu a estrela da competição. No programa Quels Jeux, de grande audiência no país, foi chamado de "Pelé das Piscinas Brasileiras". "Esse reconhecimento foi importante porque me deu a certeza de que meu trabalho tinha sido bem feito. Tudo isso deixou Paris mais especial para mim. Sempre tive o sonho de conhecer a cidade, mas nunca soube o porquê. E conheci da melhor forma possível: não só a cidade, a Torre Eiffel, mas o povo também", diz.

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A Arena La Défense ia à loucura quando o brasileiro comemorava suas vitórias dançando, brincando e botando a língua para fora. Já tinha feito assim em Tóquio e repetiu na Cidade Luz. "Não tem nada ensaiado ou preparado. É uma forma de mostrar para todo mundo que, além de atleta, sou uma pessoa feliz. Nasci e cresci sabendo que ia ter muitas dificuldades, mas a vida fica mais fácil com alegria. Ela tem que estar presente", afirma.

Com 1,21m de altura, Gabriel é um gigante da natação. Nos Jogos de Tóquio, em 2021, sua primeira paralimpíada, trouxe na bagagem três medalhas: duas de ouro e uma de prata. Chegou ao Japão como promessa e terminou como grande realidade do esporte paralímpico. Ano passado, em Paris, conseguiu se superar, conquistando três ouros (50m costas, 100m costas e 200m livre). "Acho que não estou nadando, estou voando, flutuando na água", declarou. Gabriel gosta de dizer que "não vence, mas amassa as provas". "Cada vez que subo no pódio, que ganho uma medalha, é um momento diferente. É marcante por isso. Nem sei explicar o que sinto. Passa um filme na minha cabeça, de tudo que enfrentei para chegar até ali", revela.

Gabriel nasceu com focomelia, doença congênita que impede a formação normal de braços e pernas. Ele tem parte dos ombros e pernas atrofiadas, mas consegue nadar com os dois pés. Concorre na classe S2, para pessoas com comprometimento físico-motor. Desenvolveu um estilo, a "golfinhada". Para nadar, ondula o corpo na água, como um golfinho, com movimentos pélvicos. "Esse estilo me permite usar todas as armas que tenho: as pernas, o quadril, o ombro, a cabeça, o pescoço", conta o medalhista. Não por acaso, os franceses o apelidaram carinhosamente de dauphin (o golfinho).

Nascido em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o atleta cresceu em Corinto, no nordeste do estado. Sua estreia profissional aconteceu em 2015. O professor de educação física da escola onde ele estudava, Aguilar Freitas, fez sua inscrição nos Jogos Escolares de Minas Gerais (Jemg) sem ele saber. "Acabou que me apaixonei pela natação. Foi amor à primeira vista. Depois daquele momento, nunca mais parei de nadar. Se não fosse esse olhar diferente do Aguilar para mim, eu não teria esses resultados, não teria chegado onde estou hoje. Ele foi primordial", lembra o mineiro, que naquela época tinha 13 anos.

A família abraçou esse "amor pela natação" de Gabriel e, para bancar as viagens que ele tinha que fazer, realizou bingos, rifas e fez até pedidos de doação. Dona Eneida, sua mãe, chegou a recolher latinhas para conseguir dinheiro e não deixar o sonho do filho morrer. As primeiras vitórias em um torneio internacional vieram nos Jogos Parapan-Americanos, em Lima, no Peru, em 2019. Ele, então com 17 anos, voltou com cinco medalhas na bagagem. A grande inspiração para essa trajetória de sucesso veio de dentro de casa. Ele lembra o quão importante foi o conselho que ouviu da mãe: "Ela me falou para eu não desistir nunca, que podia ser e alcançar o que quisesse, bastava acreditar e correr atrás", revela o nadador.

Atleta do Praia Clube, de Uberlândia, Gabriel vive atualmente em Juiz de Fora. Lá, no Clube Bom Pastor, treina de segunda a sábado, durante três horas. Passa duas horas na piscina e uma na academia ou na fisioterapia, sempre acompanhado pelo treinador Fábio Antunes. É também em Juiz de Fora que cursa jornalismo, na UniAcademia. Quando se aposentar das piscinas, quer trabalhar com jornalismo esportivo. "Sempre gostei de esportes, principalmente futebol, antes mesmo da natação. Usar essa paixão com o conhecimento que estou tendo agora é o link perfeito para o meu futuro", acredita o nadador, que no início do ano participa das seletivas para o Mundial de Esportes Aquáticos, que acontece de 11 de julho a 3 de agosto, em Singapura. "Vou me preparar para performar da melhor forma possível", diz, determinado.

Mesmo já integrando a lista dos atletas paralímpicos que mais subiram ao pódio, Gabriel diz que quer ser referência pela pessoa que é, não só pelos resultados. Para ele, melhor do que medalhas, é o carinho que recebe, principalmente das crianças. "Elas chegam perto, pedem tirar foto, me reconhecem mais do que os pais. Vejo que o que tenho feito mexe com elas."

O mineiro despertou também a atenção de uma cantora famosa. No livro "Outra Autobiografia" (2016), Rita Lee disse ter virado fã ao assistir às Paralimpíadas de Tóquio: "Acompanhei os jogos, torcendo para o Brasil aparecer bem na fita, o que acabou acontecendo pra valer na Paralimpíada. Fiquei fã do medalhista Gabriel, que sem braços e pernas nadava como golfinho; me emocionei muito com ele", escreveu a rainha do rock brasileiro.

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