Revista Encontro

ESPECIAL

Mineiros do Ano 2024 - Gustavo Pimenta

O economista superou adversários poderosos para se tornar presidente da Vale. Seu primeiro desafio foi a assinatura do Acordo de Mariana

Alessandro Duarte
- Foto: Ze Palma/Divulgação
A ofensiva do presidente Lula, que tentou emplacar o companheiro Guido Mantega - ex-ministro da Fazenda, ex-ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) –, na presidência da Vale, marcou o processo sucessório da terceira maior empresa brasileira, ao longo do ano passado. O mercado respirou aliviado quando o governo federal desistiu da ideia. E ainda mais quando foi anunciado que o então vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores, Gustavo Pimenta, havia sido o escolhido para suceder Eduardo Bartolomeu no comando da mineradora. Seu nome foi aprovado por unanimidade pelo Conselho de Administração e a posse, antecipada em três meses. Mineiro de Divinópolis, formado em Economia pela UFMG e mestre em Finanças e Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), ele assumiu em outubro com desafios do tamanho da companhia que lidera, dona de um faturamento de quase 28 bilhões de dólares nos primeiros nove meses de 2023.
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  • Gustavo Pimenta, 46 anos

  • Natural de Divinópolis (MG)

  • Casado, dois filhos

  • Formado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Finanças e Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV); Presidente da Vale

A primeira missão foi viabilizar a assinatura do Acordo de Mariana, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro do ano passado, para reparação dos danos causados pelo rompimento da Barragem do Fundão, em 2015, e que ficou marcada como a maior catástrofe ambiental da história do país. O acordo prevê o pagamento de 132 bilhões de reais para governos e moradores afetados, além de 38 bilhões de reais que já teriam sido pagos. "Esse foi um marco muito importante para nós, por sermos capazes de alcançar um acordo justo, completo e inclusivo, na jurisdição certa, que é o Brasil", disse Gustavo, durante a última edição do Vale Day, evento da companhia realizado na Bolsa de Valores de Nova York e voltado a investidores. O colapso na estrutura da mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton, causou a morte de 19 pessoas (outras três continuam desaparecidas) e despejou mais de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos no meio ambiente, contaminando a bacia do Rio Doce nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

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Antes de assumir uma das vice-presidências da Vale, em 2021, Gustavo trabalhou por 12 anos na AES, atuando como Chief Financial Officer (CFO) global, diretor de Planejamento e Estratégia e vice-presidente de Performance e Serviços da empresa. Também foi vice-presidente de Estratégia e M&A no Citigroup, em Nova York. No Vale Day, Gustavo, que acionou o sino que marca a abertura do pregão, falou também sobre os esforços da empresa para a descaracterização das barragens a montante, no qual a barreira de contenção recebe camadas do próprio material do rejeito da mineração. É o método mais barato e também o considerado mais sensível. "Até o momento, descaracterizamos ou eliminamos 53% das barragens a montante", disse. "Neste ano (em 2024), eliminamos uma das duas restantes que chamamos de barragens de alto risco, aquelas classificadas no nível 3." A ideia da companhia é remover a última classificada nesse nível ainda em 2025. Desde 2019, a Vale diz ter investido mais de 10 bilhões de reais em seu programa de descaracterização de barragens a montante.
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Sobre os rumos do mercado, Gustavo acredita que, tanto no médio quanto no longo prazo, a demanda global por aço seguirá em alta, seja por causa do aumento populacional, seja impulsionada pelo desenvolvimento econômico. Um crescimento que será, de acordo com ele, voltado a uma produção com menor pegada de carbono, o que vem de encontro com o trabalho da Vale de produzir "o minério de ferro de melhor qualidade do mundo".
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Ainda durante o evento em Nova York, Gustavo falou sobre as perspectivas da empresa para os próximos cinco anos. O executivo dividiu a visão de futuro da Vale em três pilares: entregar um portfólio de minério de ferro de alta qualidade e flexível, acelerando o crescimento do cobre; garantir uma evolução cultural voltada à excelência operacional, eliminando burocracias e simplificando processos, para fomentar inovação e soluções digitais; e fortalecer parcerias institucionais e sociais para que a companhia volte a ser reconhecida pelo legado positivo de suas operações. "O foco deste novo ciclo será adicionar a mentalidade de ser uma empresa muito voltada para o desempenho, muito direcionada para os resultados, focada no desenvolvimento de talentos e na inovação", afirma. Mas o grande desafio é mesmo fazer com que a empresa atraia um olhar diferente da sociedade. "A Vale tem sido, historicamente, considerada e admirada, especialmente no Brasil, e perdemos isso ao longo dos anos."
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