
O super haras de Itabirito é apenas um dos seus muitos empreendimentos. O principal é, claro, a banca de advocacia que leva seu nome, um colosso com 250 mil ações em curso, 600 profissionais contratados e escritórios em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Vitória, Porto Alegre e Brasília. Fora do Brasil, está em Lisboa, de onde ajuda empresas brasileiras interessadas em ingressar na Europa e companhias europeias que desejam investir no Brasil. Um dos maiores e mais respeitados escritórios de advocacia empresarial do país, tem como palavras-chave "Qualidade, Simplicidade e Tecnologia", que refletem seu modo de ser e de pensar. Desde o início da década passada, Marcelo, que tem 53 anos, só usa gravata em solenidades que exigem o traje ou quando está em algum tribunal. "Eu sempre falei que a gravata é um símbolo de distanciamento do advogado para com o cidadão comum. Ela não traz nenhum resultado prático. Não significa competência", diz. "Sou o único do Conselho Federal da OAB que não usa gravata. O único." As mangas da camisa dobradas deixam à mostra do interlocutor algumas tatuagens, inclusive uma no antebraço direito onde se lê "Faith" (fé, em inglês).

Mais velho de três irmãos, o advogado perdeu o pai, o engenheiro Júlio César, aos 21 anos de idade. Sua mãe, Elvina, está com 76. Juntos, os dois assinaram um livro sobre o avô materno de Marcelo, o advogado Hélio Tostes, que foi candidato a prefeito de Muriaé, e é sua grande inspiração. Marcelo estudou no Colégio Loyola e lembra que, todos os anos, sua mãe precisava ir à escola negociar bolsas de estudo, "por não ter como pagar mensalidades para três meninos". Entre os irmãos (Júlio César e João Paulo), ele era o que tirava as piores notas. "Eu sempre passava com 60, então, quando ia buscar as notas no fim do ano era um aperto no coração, porque a recuperação podia estar próxima." Quando decidiu prestar vestibular para direito, sabia que estava seguindo uma tradição de família. Seu tataravô, bisavô, avô e um tio foram advogados, mas nenhum em Belo Horizonte. Aqui, ele "começou do zero", como gosta de dizer. Com escritório próprio, não demorou para se destacar. Em 2011, aos 39 anos, saiu em uma capa da revista Encontro BH, ao lado de dois colegas, com o título "As feras do direito". "Ainda tinha cara de bebê", brinca, ao folhear um exemplar que guarda com carinho em seu escritório belo-horizontino, na Savassi. Na reportagem, ele era apresentado aos leitores como um expoente do direito comercial, com grande gosto pela prática e por negociações. "Marcelo Tostes demonstra, dia após dia, que qualificação, vontade e dedicação são elementos fundamentais para o sucesso profissional. Advogado incansável e combativo, empresário obstinado e inovador são características indissociáveis, presentes na forma de atuar, viver e se relacionar", afirma Gustavo Chalfun, atual presidente da OAB-MG. "Quem o conhece sabe que ele é um obstinado, um advogado altamente qualificado que trabalha para oferecer as melhores soluções jurídicas para seus clientes e que também se dedica à missão de servir à classe como conselheiro federal da OAB."

A trajetória bem-sucedida como advogado possibilitou que, além do haras – onde mantém uma coleção de estribos antigos com cerca de 70 peças, sendo uma das mais raras um exemplar português de 1700 –, Marcelo se consolidasse como um empreendedor serial. Hoje, ele tem diversas empresas: um escritório de compra e venda de companhias; duas empresas que fornecem soluções de tecnologia para as áreas jurídica e de publicidade; um coworking; uma empresa de consultoria para pequenos e médios empresários; e uma franquia da importadora de vinhos Grand Cru. Até o final de abril, ele deve lançar em Itabirito o Condomínio Haras do Passo,, um loteamento com 200 lotes de, em média, 2 mil metros quadrados cada um, com toda a estrutura de uma fazenda, além de áreas náutica, de lazer e de esportes. "Ao abrir a porta de sua casa, o morador tem tudo que uma fazenda oferece, cavalos, galinhas, porcos, vacas…", diz. "Mas ao fechar a porta, todo o trabalho fica para trás." O investimento para colocar um negócio dessa envergadura de pé gira em torno de 70 milhões de reais e o Valor Geral de Venda (VGV) – indicador que estima o valor total da receita de um empreendimento imobiliário – é de 300 milhões de reais.

Apesar da demora em obter as licenças necessárias para lançar o Condomínio Haras do Passo, o empreendimento chega em um momento em que esse mercado está em alta. Segundo um estudo da consultoria Brain em 300 cidades mineiras, a pedido da Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano de Minas Gerais (Aelo-MG), do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG) e da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato da Habitação de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), o setor fechou 2024 com um VGV próximo de 3 bilhões de reais, o que representa um crescimento de 25% em relação ao ano anterior. Os lançamentos de loteamentos fechados no terceiro trimestre de 2024 triplicaram em relação ao mesmo período de 2023. "Os resultados mostram que o mercado de loteamentos em Minas tem uma forte demanda reprimida, com a intenção de compra alcançando 48%, o melhor patamar histórico já registrado", afirma Flávio Guerra, cofundador e presidente da Aelo-MG, vice-presidente do Sinduscon-MG e diretor do CMI/Secovi-MG.

A falta de tempo, aliás, lhe rende encontros inusitados, que depois entram para a sua lista de histórias boas para contar. Foi assim com Jorge Rebelo de Almeida, fundador e presidente do grupo hoteleiro Vila Galé. Há muito, o empresário português, que vai inaugurar, no primeiro semestre, uma unidade da sua rede em Ouro Preto, tentava um contato com o advogado belo-horizontino. O motivo: a criação de um centro equestre que integraria o complexo na cidade histórica. Após diversas tentativas da administração do grupo via WhatsApp – ignoradas por Marcelo por achar que se tratavam apenas da divulgação do marketing do resort –, finalmente um encontro foi marcado. Mas, claro, em se tratando de agendas concorridas de ambos os lados, não seria tão simples assim. O primeiro contato pessoal entre os dois, cuja conexão foi tão grande que hoje se denominam "amigos de outras vidas", aconteceu num McDonald’s do aeroporto de Guarulhos. Sim. Entre intervalos de voos, os dois amantes da boa comida e do bom vinho se reuniram por horas numa mesinha da lanchonete para se conhecerem pessoalmente e traçar os primeiros planos do empreendimento conjunto. Deu match. O Vila Galé Collection Ouro Preto – um resort no antigo Colégio Dom Bosco, no distrito de Cachoeira do Campo – contará com o Centro Equestre M Tostes, que vai tanto gerir cavalos da raça mangalarga marchador no local para diversão e aulas de hipismo para os hóspedes quanto promover competições, palestras e eventos abertos a qualquer raça.

O encontro com Pablo Marçal

Ao explicar por que seu cliente havia divulgado um laudo falso contra o deputado federal Guilherme Boulos (Psol), na antevéspera do primeiro turno, em suas redes sociais, uma entrevista de Marcelo repercutiu em rede nacional. O laudo, que trazia uma assinatura forjada, relatava o encaminhamento do adversário para uma emergência psiquiátrica em 2021 e indicava ainda que ele teria testado positivo para o uso de cocaína. "Ele publicou simplesmente o documento que recebeu", disse o advogado, à época. Apesar da polêmica, o advogado mineiro – que apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro e considera o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) "um grande expoente da política brasileira" – pretende continuar se manifestando politicamente e não descarta disputar eleições futuramente. "As pessoas precisam deixar de ter medo. Enquanto existirem pessoas que ficam em cima do muro, teremos de conviver com políticos de menor qualidade", afirma.
Foco é engrandecer o mangalarga marchador

Para o advogado, mais que uma paixão, criar cavalos é negócio. E sério. No Haras M Tostes, 100% das atividades são informatizadas e, portanto, controladas. "Nossos equipamentos de transferência de embriões, por exemplo, são os mais modernos do Brasil." Sobre o uso de substâncias consideradas como doping em animais, ele é radical. "Isso é um absurdo. Criadores que adotam essa prática têm que ser banidos." Segundo Tostes, essa tem sido uma das principais bandeiras da atual presidente. "Nenhum outro dirigente da ABCCMM conseguiu enfrentar o problema. Foi preciso que uma mulher o fizesse. O legado de Cristiana Gutierrez para a raça é indiscutível." Quando se lançou candidata à presidência, em 2021, Cristiana não teve o apoio de Marcelo Tostes. Hoje, no entanto, ele reconhece sua liderança. "Ela é dedicada, correta e corajosa."