Revista Encontro

PERFIL

Conheça o empresário hoteleiro português Jorge Rebelo de Almeida

Dono de hotéis em quatro países, ele finca o pé em Minas Gerais com um resort de luxo, o Vila Galé Collection Ouro Preto - que funcionará em edifício histórico

André Lamounier e Marília Mendonça
Jorge Rebelo de Almeida, fundador e presidente do grupo Vila Galé: empresa de capital fechado faturou, em 2024, R$ 1,8 bilhão - Foto: Fernando Picarra/Divulgação
O empresário português Jorge Rebelo de Almeida chega ao antigo Colégio Dom Bosco, em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto (MG). Era fevereiro. Entre pilhas de materiais de construção, toras de madeira e dezenas de trabalhadores, adentra o jardim interno da construção histórica datada de 1779, observa e dispara: "Mas não foi assim que eu pedi! Vamos ter que refazer", informa ao funcionário responsável, apontando a forma exata como as mudas deveriam ser plantadas: ao centro, um jardim de sálvias e hibiscos vermelhos, que deveria ser cercado por uma sebe de buxinho. Tudo ornando com novos pés de flamboyants.
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É que Jorge, fundador e presidente do grupo Vila Galé, empresa de capital fechado que possui 48 resorts em quatro países e faturou, em 2024, R$ 1,8 bilhão, é pilhado e atento. Décimo terceiro homem mais rico de Portugal, de acordo com o ranking da revista Forbes, não deixa passar nada. Da construção ao paisagismo. E é assim, atento aos mínimos detalhes, que ele tem acompanhado a feitura da 12ª unidade da sua rede no Brasil, o Vila Galé Collection Ouro Preto.
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Previsto para inaugurar em 24 de maio próximo, o hotel de luxo tem um investimento de R$ 120 milhões e vem transformando o antigo edifício, que já foi o Quartel do Regimento de Cavalaria de Minas Gerais, em um empreendimento com 311 quartos, restaurantes, bares, piscinas aquecidas, vasta área de lazer e estrutura de eventos para até 900 pessoas. Tudo totalmente projetado por Jorge. "Sou o arquiteto, o paisagista e o decorador", brinca.
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Acompanhamos, em fevereiro, por dois dias, a visita do empresário às obras. Ele não para. "É preciso verificar a drenagem", "a vala deve ter 1 m de largura por 1 m de profundidade", "atenção aos repuxos", "a terraplanagem está lenta".  O tempo urge. Os trabalhos estavam atrasados. A previsão de abertura do hotel era abril. Não iria dar tempo. Nada, aparentemente, que tirasse o sossego e a clareza de ideias do empreendedor. No meio do intenso corre de um lado para outro do extenso canteiro de obras, pequenas brechas para dar atenção à jornalista e trocar brincadeiras e afagos com os funcionários. "Jurandir, há quanto tempo!", exclamou, dando um abraço no mestre de obras que estava reencontrando.
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Detalhe do brasão de armas português da fachada da edificação, atribuída a Aleijadinho: "Um homem extraordinário", afirma Jorge Rebelo - Foto: Ane Souz/Vila Galé/DivulgaçãoAos 73 anos, Jorge conduz na palma da mão as equipes que o acompanham em seus diversos projetos. Só em 2025, o grupo abre quatro novos empreendimentos, dois no Brasil - além de Ouro Preto, será inaugurado o Vila Galé Collection Amazônia, em Belém (PA) -  e outros dois em Portugal - o Vila Galé Casas d’Elvas Historic Hotel e o Vila Galé Ponte de Lima. "Hotelaria, arquitetura, é muito detalhe. A diferença de um hotel é você ter o pormenor, ter atenção às coisinhas todas pequenas. E é o que faço", afirma, com seu acentuado sotaque lusitano.
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Tudo passa pela orientação dele. E tanto zelo tem funcionado. Desde o primeiro empreendimento próximo à cidade de Albufeira, na região portuguesa do Algarve, há 37 anos, o Vila Galé cresceu exponencialmente sob a batuta do empresário. Nas três décadas de existência, são 34 unidades em Portugal - é o segundo maior grupo hoteleiro daquele país -, 12 no Brasil (com Ouro Preto), uma em Cuba e uma na Espanha. São mais de 9.800 quartos, mais de 24 mil camas. Seguindo a cadência acelerada do maestro, as aquisições e planejamentos de expansão seguem a passos largos, especialmente por aqui.
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"Desde o início viemos crescendo. Nos últimos cinco anos, aumentamos o ritmo e, de agora para frente, devemos acelerar mais ainda. Aqui, no Vila Galé, nós reinvestimos tudo o que ganhamos. Então, como viemos aumentando nosso crescimento exponencial, tendo mais receita, mais resultado, é tudo reinvestido. Nunca devolvi nada a Portugal", afirma, sobre os negócios no Brasil.
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A busca por novas oportunidades é constante - "nosso grupo não é capaz de estar parado, quer é fazer coisas". Em Minas Gerais, já estão sendo negociados terrenos com a prefeitura de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para a construção de um resort próximo ao Instituto Inhotim. Outro interesse da empresa é Santa Catarina. Foi justamente lá que Jorge, juntamente com seu diretor de operações José Antonio Bastos, havia estado antes de aterrissar em Ouro Preto.
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O empresário durante visita às obras do Vila Galé Collection Ouro Preto: "A diferença de um hotel é você ter o pormenor, ter atenção às coisinhas todas pequenas. E é o que faço" - Foto: Paulo Márcio/EncontroForam apenas três dias de visitas ao estado sulista, onde os executivos, de uma só vez,  analisaram três chances de negócios - um na praia, outro na serra e um empreendimento corporativo, em Florianópolis. Tudo muito ágil, célere, como o português gosta. "A decisão pode ser tomada logo. Temos uma empresa própria, nós mesmos fazemos o projeto. Vamos estudar e em três meses teremos uma solução. Temos essa política de resolver as coisas com agilidade", afirmou.
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Foi através de um projeto semelhante, a Invest Minas (Agência de Promoção de Investimentos do Governo de Minas Gerais), que o Vila Galé chegou em terras mineiras. As negociações para o novo empreendimento começaram em novembro de 2021, após a Secretaria de Cultura e Turismo (Secult) fazer um trabalho de promoção internacional  do estado. Logo, a agência iniciou as tratativas, apresentando a região como local estratégico para negócios. Numa união de forças com a Prefeitura de Ouro Preto, foram mostradas opções, dentre elas, a edificação de Cachoeira do Campo, patrimônio histórico que precisava de manutenção.
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O tiro foi certeiro. O grupo português tem um forte compromisso com a valorização de patrimônios culturais e já recuperou mais de 18 edifícios históricos, transformando-os em atrativos turísticos e fomentando as economias ao redor - "apesar das demasiadas barreiras burocráticas, nós gostamos de edificações históricas", diz Jorge.
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Monumento reconhecido por seu papel em diversos episódios históricos, como a Inconfidência Mineira, o Colégio Dom Bosco vem sendo recuperado com o acompanhamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) - Foto: Paulo Márcio/EncontroNo Brasil, a empresa já restaurou um antigo palacete do século XIX, na região da Lapa, que se transformou no Vila Galé Rio de Janeiro. Agora, além de Ouro Preto, três antigos armazéns datados de 1909 estão sendo revitalizados e adaptados para se tornarem a nova unidade de Belém. Em São Luís, edifícios do centro histórico da capital do Maranhão serão recuperados para dar lugar a dois novos hotéis a serem abertos em 2026.
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Um dos segredos do sucesso do empreendedor, talvez, seja justamente o enaltecimento dos valores das regiões que abrigam seus negócios. "Nós sempre procuramos prestar vassalagem às culturas locais", diz. Em Ouro Preto, não será diferente. O empresário se empolga ao falar sobre a antiga construção que vem resgatando, de paredes muito largas e com uma grande área de Mata Atlântica preservada ao fundo dos 2.450.000 metros quadrados com muitas trilhas e cachoeiras. "Um lugar incrível que, infelizmente, estava muito mal preservado", observa.
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Ele nos mostra um belíssimo brasão de armas em uma das fachadas do prédio. "É da autoria de um homem extraordinário, o Aleijadinho, António Maria Lisboa", diz, confundindo o nome do maior artista do barroco brasileiro, Antônio Francisco Lisboa, com o de outra importante personalidade, o poeta surrealista português. E rende, em seguida, louros ao mineiro. "Ele, que é o autor de uma das igrejas consideradas uma das maiores maravilhas do mundo, a Igreja de São Francisco, em Ouro Preto..."
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No caso da segunda capital de Minas, considerada por Jorge "uma cidade fabulosa, patrimônio mundial da humanidade", ele segue atento às minúcias que podem fazer a tal diferença no seu negócio. Nos apartamentos, a história será recriada em painéis nas paredes que irão retratar monumentos e figuras históricas, como Tiradentes. "E na porta de cada quarto, em cada plaquinha com o número, haverá uma pedra semipreciosa original mineira", emenda. O hotel também promoverá experiências culturais e artísticas alinhadas à identidade local.
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Jorge Rebelo em um dos quartos já decorados do Vila Galé Collection Ouro Preto, que prestarão homenagens a monumentos e personagens históricos mineiros: "Nós sempre procuramos prestar vassalagem às culturas locais" - Foto: Paulo Márcio/EncontroO português tem se revelado bastante cativado pela mineiridade. Seguindo no tour pelas obras, faz questão de nos levar ao local que abrigará um dos três restaurantes que integrarão o novo resort para mostrar: "Olhem este forno, é muito bonito", diz, fitando com um misto de orgulho e admiração um fogão a lenha, tão comum nas cozinhas de cá. Tem gostado tanto do apetrecho que faz questão de pedir ao fotógrafo um retrato ao lado dele.
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Mas é um conceito maior, cravado na cultura mineira e estampado na nossa bandeira, que conecta, especialmente, Jorge ao estado. "Está vendo aquela entrada?", pergunta, referindo-se à via que dá acesso ao antigo colégio, adornada ao longo de sua extensão por altas palmeiras imperiais. "Ela agora terá o nome de Avenida Liberdade", decreta. "Tenho um grande apreço pela liberdade. Eu nasci no dia da liberdade em Portugal. Faço anos em 25 de abril", diz ele, referindo-se à data da Revolução dos Cravos, movimento popular que derrubou a ditadura salazarista no país europeu, em 1974. "A revolução aconteceu exatamente no dia em que completei 25 anos", relembra, com satisfação.
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O prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo, percebe o envolvimento do empresário com o projeto. "Ele está cheio de ideias para Cachoeira do Campo e eu fico muito feliz quando o vejo com os olhos brilhando, percebendo tudo aquilo que vai acontecer e anunciando sempre novidades. Ele está sempre buscando algo mais, um plus para as suas iniciativas. O Vila Galé vai ser um marco no nosso estado", afirma.
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O empresário fez questão de planejar um fogão a lenha em um dos três restaurantes do novo hotel - Foto: Paulo Márcio/EncontroJorge defende que Minas Gerais tem muito em comum com Portugal também no âmbito da gastronomia. Mas não se arrisca muito. "A comida mineira é muito boa, mas também muito pesada. Estou em uma fase em que preciso comer menos", diz, atento ao sobrepeso.
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No almoço junto à equipe em um restaurante de Cachoeira do Campo, optou pelo prato mais leve do cardápio: uma sobrecoxa desossada com legumes e purê de abóbora. Mas não abriu mão de uma tacinha de cerveja gelada Ouropretana para ‘iniciar os trabalhos’ e não negou a sobremesa, um pudim de leite com calda de cerveja amburana, que já estava incluída no menu adquirido. "Como vocês gostam de dizer, ‘de graça até injeção na testa!’". No entanto, determina: "hoje não como mais." Eram três e meia da tarde.
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A vida ativa e dinâmica talvez seja a fórmula para demonstrar tanta vitalidade. Há também o contentamento com a profissão. "O trabalho ajuda muito, sobretudo, quando aprendemos uma coisa: ter prazer no que se faz. Muitas vezes é sofrido. Mas depois nós temos o prazer. É como o parto. Difícil, mas ter um filho é uma coisa maravilhosa. A gente esquece as dores todas", afirma.
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O português discute projeto ao lado do prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo (segunda da esq. para dir.), e equipe: O novo hotel vai fortalecer a Rota das Artes, itinerário que conecta Inhotim, Belo Horizonte com o Circuito Liberdade e a Pampulha, Sabará e Ouro Preto - Foto: Neno Vianna/Barroco Press/DivulgaçãoFoi este prazer que fez com que largasse uma vida estável como advogado em Portugal para se arriscar no mundo dos projetos, das obras e da hotelaria. Iniciou a trajetória em 1986, na época com dois sócios – José Silvestre Lavrador e José Ruivo – que saíram, entretanto, do projeto, ficando Jorge com a totalidade do capital.
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Descobriu a vocação ainda no período do exercício do Direito. "Eu era advogado de empresas de construção, de turismo e de projetos. Fiz um curso para trabalhar na área no Ministério de Obras Públicas de Portugal. Fui ganhando experiência e gosto pela construção. Depois, virou vício", confessa, com graça.
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Um vício que ele não imaginou que o levaria tão longe. "Nunca pensei que faria um grupo deste tamanho, nunca tive essa expectativa. Na verdade, não tinha nenhuma estratégia de crescimento. Tinha estratégia de fazer uma obra bem feita, fazer ‘boa figura’. Quando comecei, já tinha uma vida boa. Mas tenho muito prazer em construir coisas. Havia esse desejo que, depois, virou paixão. E a paixão virou vício, uma doença quase", reflete, sobre um entusiasmo que parece não ter fim.
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Reafirmando o compromisso da empresa com a preservação do patrimônio, recentemente, a Vila Galé apresentou seu novo hotel em Elvas, cidade do Alto Alentejo que fica a 200 km de Lisboa e é Patrimônio Mundial pela Unesco; o grupo investiu 6 milhões de euros na revitalização de edifícios históricos - Foto: Vila Galé/DivulgaçãoFoi também por gosto que o empreendedor escolheu o Brasil para começar a expandir internacionalmente seu empreendimento. O desembarque no país aconteceu há 24 anos, quando o Vila Galé Fortaleza foi inaugurado. Jorge conta que a empresa dava incentivos anuais por bons resultados. O prêmio? Viagens ao Brasil. "Eu e os meus diretores gostávamos muito daqui. Era um misto de trabalho e férias. Dois em um", recorda. De lá até o final de 2026, se tudo correr como previsto, serão 17 unidades pela terra brasilis. As férias renderam.
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Recentemente, o presidente Luís Inácio Lula da Silva concedeu ao empresário o grau de Comendador da Ordem de Rio Branco, uma das condecorações mais importantes dadas pelo Governo Federal. Homenagens e prêmios, verdade seja dita, têm sido uma rotina. Entre tantos, destaca o Aproxima Portugal-Brasil, concedido pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira. "Ganharam outras pessoas de Minas, como o Rubens Menin. Ele é dono da maior construtora de toda a América Latina e também tem uma grande vinícola em Portugal hoje em dia", diz, sobre a Menin Wine Company. "E é um cara simples, encantador", elogia, voltando-se a um dos seus diretores: "Aliás, temos que enviar um save the date a ele da inauguração."
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Fundador da construtora MRV,, Menin retribui o enaltecimento. "O senhor Jorge Rebelo é uma pessoa magnífica, extremamente bem-educada, empreendedora, chegou num lugar de ponta em função desse estilo, não é? A chegada do Vila Galé vem ajudar a incrementar a atividade econômica e de turismo, uma pegada muito boa para o Estado. E, sim, pra mim será uma honra estar presente neste evento tão relevante para Minas", afirmou à Encontro.
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Jorge Rebelo, com as chefs Carol Fadel e Maria Clara Magalhães, o secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas de Oliveira, e o presidente da Embratur, Marcelo Freixo durante a BTL Lisboa, uma das feiras de turismo mais importantes do mundo - Foto: Marden Couto/DivulgaçãoO lusitano já recebeu também o título de Cidadão Honorário de pelo menos cinco estados nacionais. O próximo será de Minas Gerais, provavelmente em maio deste ano. Perguntado se depois de tanto tempo se sente um pouco brasileiro, responde: "Um bom bocado." E justifica. "Eu, sem falsa modéstia, acho que a Vila Galé tem feito um bom trabalho no Brasil. Temos contribuído para desenvolver o turismo, sobretudo em regiões que não tinham um grande desenvolvimento", afirma.
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Ele cita como exemplo a praia do Carro Quebrado, em Barra de Santo Antônio, Alagoas, onde o Vila Galé abriu um grande resort all inclusive com 492 quartos e um centro de convenções para 1.200 pessoas, num investimento de R$ 150 milhões. "Era uma cidadezinha que mal se via no mapa. Criamos 500 empregos, mas demos formação a 800 pessoas. As outras 300 foram trabalhar em outros lugares. Melhoramos muito a região. Temos dado um contributo e isso nos dá prazer. Chegamos a uma cidadezinha em que os jovens não tinham grande perspectiva de futuro. Ou saiam dali ou não iam encontrar emprego. E nós procuramos oferecer-lhes uma carreira." O grupo emprega hoje pelo menos 3.500 pessoas no país. "Há funcionários que começaram conosco como estagiários da recepção e chegaram a cargos de chefia. Temos hotéis hoje em dia em que não temos sequer um português. São todos brasileiros."
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Fundada em 2002, a vinícola Santa Vitória é a outra empresa grupo Vila Galé; local produz vinhos e azeites na região do Alentejo, em Portugal - Foto: Instagram/ReproduçãoO mesmo trabalho de formação profissional será desenvolvido em Ouro Preto. Foram abertas 150 vagas para pessoas com ou sem experiência. Serão formados 250 colaboradores, de acordo com o empresário. "Aqui vai ser bem necessário. Há bastante falta de mão de obra, porque há muita gente voltada à mineração", ressalta. E defende uma maior atuação dos governos para o desenvolvimento do turismo, com a criação de uma escola de gestão hoteleira, de formação em nível técnico e superior, além de um hotel-escola.
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Além da formação de mão de obra, Jorge também reclama melhorias em aeroportos, segurança, redução da carga tributária e dos juros no país. "Mas quando falamos em infraestrutura, não é só na questão física, mas também educação, desenvolvimento profissional. Há muita coisa que temos que fazer", afirma, incluindo-se no dever de casa. 
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Para o empresário, a hotelaria se faz ‘com pessoas para pessoas’. Neste sentido, formar uma boa equipe e ser uma liderança que dê o exemplo é um dos seus nortes. "O maior segredo do Vila Galé é a sua gente. Às vezes, no Brasil, eu percebo que não dão importância. Eu ligo. Porque acho que o maior valor que a gente pode ter aqui é o pessoal. É preciso valorizar, tratar com dignidade. Às vezes, precisamos dar um puxão de orelhas, como com as crianças. No outro dia, a gente dá um beijo neles. E tudo bem."
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Gerente geral do Vila Galé Ouro Preto, o português Eduardo Silva confirma. "Jorge está permanentemente conosco, é extremamente participativo no nosso dia a dia, nos ajuda muito na operação, com novas ideias. Tem mais energia que nós todos."
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Mas o líder a ser seguido se mostra uma pessoa em evolução e atento a aprendizados constantes. Na passagem por Santa Catarina, em fevereiro, conheceu o fundador do resort Costão do Santinho, Fernando Marcondes de Mattos, de 86 anos, e se encantou. E também aprendeu. "Ele tem uma energia tão boa, adorei conversar com ele. Lá, têm uma bela ação na parte de gerência dos funcionários. Fornecem barbeiro, cabeleireiro, creche, têm um refeitório maravilhoso. Aqui, no Vila Galé, temos vaidade no que fazemos para o nosso pessoal. E o cara fazia ainda melhor. Tudo tão arranjadinho que dava gosto."
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Outro ponto que o inspirou foi uma sala para autistas. "Eu achei maravilhosa, tão importante... Nós temos muita coisa pra criança, mas ainda não temos nada assim. Mas eu ando sempre atento", define. "E quando alguém quer copiar uma coisa nossa, eu digo, não precisa ter trabalho, se quiser eu dou o projeto e pode imitar tudo!", brinca novamente.
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O bom humor parece ser uma marca do empresário. Sempre a galhofar com funcionários e pessoas ao redor, segue apresentando o empreendimento: "Vocês já se casaram ou não? Aqui, temos uma capela!", pergunta a um casal próximo. Ao responderem que sim, já haviam contraído o matrimônio, ele retruca: "Pois podem renovar os votos!", arrancando gargalhadas de todos. "O senhor pode se casar também", instiga a jornalista. "Sou separado. Mas posso casar ainda! Estou namorando", confessa, falando rapidamente, e sem entrar muito em detalhes, do relacionamento com uma brasileira de Santa Catarina, cujo nome não citou.
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Filho de pais contadores e nascido em 1949, na Freguesia da Ajuda, um bairro de Lisboa, onde era a casa dos seus avós, já foi casado duas vezes e tem quatro filhos. Gonçalo, que faz parte da administração da empresa, e a médica Maria Joana são frutos da primeira união; as adolescentes Lara e Inês, da segunda. Hoje, vive em Paço de Arcos, uma vila situada no município de Oeiras, a 19 quilômetros de Lisboa - que, segundo o ele, anda muito "concentrada". Apesar de vir constantemente ao Brasil, não tem uma casa fixa por aqui. "Tenho muitas camas", diz, referindo-se aos seus hotéis, "não preciso de casa", fala, dando risadas.
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Há pouco mais de um ano, ganhou a imprensa a informação de desavenças entre Jorge e o filho mais velho, que chegou a se desligar da Vila Galé em 2023, após dez anos no conselho de administração da empresa. O motivo seriam as diferentes visões sobre o futuro dos negócios. Gonçalo retornou um ano depois. À época, Jorge deixou clara a sua posição. "A visão do grupo sempre foi definida por mim e continuará a ser definida por mim", afirmou ao prestigiado jornal econômico português Eco.
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A mesma publicação informou, em janeiro deste ano, que o empresário está preparando a sucessão ao avançar no processo de fusão de suas duas holdings - ele também é dono da companhia Santa Vitória, fundada em 2002, no Alentejo, que produz vinhos e azeites de qualidade superior. A ação agilizaria uma provável distribuição de capital. No entanto, parar não parece estar nas suas intenções. Perguntado se pretende dar uma desacelerada em algum momento, diverte-se: "Eu passo a vida a ameaçar que vou passar a bola para eles, mas todos os dias tenho tanto trabalho..."
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E é verdade. Ao final do segundo dia de apuração e entrevistas na nova unidade hoteleira, a jornalista vai embora juntando seus caquinhos. Jorge se despede como um menino. Iria enfrentar ainda 80 km de estrada de Cachoeira do Campo ao Aeroporto Internacional de Confins para pegar um voo às 21h para Belém (PA). O tempo urge. Afinal, há um hotel de 206 quartos para ser finalizado antes de novembro para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 30.
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Produção de vinhos e centro equestre são diferenciais em Minas


A gerente do Centro Equestre M Tostes com a pônei Antonella, de 5 anos, que integrará o grupo de animais que será atração - Foto: DivulgaçãoJorge Rebelo instiga: "Olha, tu sabes que dá uma foto sensacional ali na escadaria, a pegar isso tudo, não é?". Ele se refere ao cenário à frente do novo resort, que engloba, até onde a vista alcança, um caminho de palmeiras cercado de um imenso pomar de videiras, plantadas recentemente, e as tradicionais montanhas mineiras ao fundo.
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Além de toda a estrutura de um resort, a Vila Galé chega a Ouro Preto com dois diferenciais em relação ao restante do grupo no país. A primeira unidade mineira terá 15 hectares de plantações de videiras e de olivais. O clima de Cachoeira do Campo teria dado confiança aos executivos para tentar investir na produção de vinhos e azeites. "Se não atingirmos esse objetivo, ao menos teremos um belíssimo jardim", afirma o empresário português.
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Outra distinção diz respeito a um centro equestre, cujo objetivo é proporcionar ao hóspede uma experiência exclusiva. Estruturado em parceria com o Haras M Tostes, o local disponibilizará 20 cavalos da raça Mangalarga Marchador para atender aos visitantes, além de outros animais para apresentação. "São cavalos mansos, de sela, para passeios nas trilhas do hotel e aulas de equitação. Vamos ter também uma carruagem de seis lugares, que será puxada por dois cavalos da raça Lusitano", afirma Juliana Ude, gerente comercial Centro Equestre M Tostes. Haverá ainda uma pista profissional, onde acontecerão competições de várias raças e modalidades, além de cursos e palestras.
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Proprietário do Haras M Tostes, o advogado belo-horizontino Marcelo Tostes celebra a sociedade. "Costumo dizer que encontro de almas são poucas vezes que a gente tem, né? E eu e o Jorge temos a mesma visão de negócio, de família, de parceria no negócio. Então, isso faz com que tudo fique mais fácil. Quando você tem os mesmos princípios, a admiração é mútua, você quer estar do lado da pessoa", afirma.
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A unidade de Ouro Preto é a segunda da linha Collection da Vila Galé no Brasil. Com forte apelo histórico, cultural e de charme, os hotéis com esse viés têm dimensões menores em relação aos demais, um serviço mais sofisticado e não são all inclusive. A gastronomia também é um ponto de diferenciação, com três restaurantes mais requintados - Massa Fina, Versátil e Inevitável -, além de dois bares - o Soul & Blues e o Splash Bar. As diárias serão a partir de R$ 1.125 reais, e uma criança até 12 anos não paga.
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No entanto, a área de lazer segue o padrão dos resorts maiores. Em Cachoeira do Campo, serão cinco piscinas aquecidas, academia, spa. Para as crianças, haverá, além do parque aquático, lago com tirolesa, horta pedagógica, sala de cinema, discoteca, Clube Infantil NEP, trampolim, quadra poliesportiva, quadras de tênis e beach tênis e pista de kart. "Somos a principal empresa de resort de praia do Brasil, mas garanto que nenhum de nossos clientes vai sentir falta de praia aqui", brincou o CEO da rede portuguesa.
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Com um centro de convenções com capacidade para 900 pessoas e oito salas de reunião, o local também será um destino para eventos e congressos. Além disso,  terá um anfiteatro com camarim, uma capela e uma antiga serraria revitalizada.

Expansão no Brasil


Além do Vila Galé Collection Ouro Preto e do Vila Galé Collection Amazônia, inaugurados em 2025, estão previstas mais quatro unidades do grupo no país em 2026: Vila Galé Collection Coruripe e Vila Galé Nep Kids, ambas em Alagoas, além do Vila Galé Collection São Luís e do Vila Galé Collection Maranhão, no Maranhão. Com essas novas inaugurações, a Vila Galé atingirá a marca de 17 empreendimentos no Brasil.
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