A artrose é um problema de saúde que não mata no curto ou médio prazo, mas que faz o paciente sofrer com dores fortes e frequentes por muito tempo – principalmente quando afeta o quadril. De acordo o ortopedista Lafayette Lage, problemas posturais, sobrepeso, obesidade e sedentarismo têm levado muitos pacientes de meia-idade à sala de cirurgia. "Embora eu seja muito mais favorável a uma cirurgia de resurfacing, que permite um retorno às atividades normais depois de seis meses de pós-operatório, ao invés de deixar o paciente sofrendo dores por anos e vendo sua vida passar cheia de limitações, a melhor forma de enfrentar o problema é a prevenção. E isso, certamente, passa por uma reeducação postural. Porém, outras causas também podem contribuir para o desgaste precoce das articulações, como uma anatomia anormal [malformação congênita], traumas no esporte e acidentes prévios", comenta o médico.
Lage chama a atenção, por exemplo, para as brasileiras que exageram no uso do salto alto. "Nos Estados Unidos, a mulher vai de casa para o trabalho geralmente de tênis, mesmo com roupas formais, e somente quando chegam no destino é que elas calçam saltos. Em contraste, no Brasil a pessoa já sai de casa de salto alto, enfrentando às vezes longas distâncias a pé ou no transporte público até chegar ao local de trabalho. No longo prazo, isso castiga as articulações, até porque o corpo tende a projetar o quadril para a frente para melhor se equilibrar no salto. Essa situação gera uma reação em cadeia, afetando joelhos, quadril e coluna lombar", afirma o ortopedista.
O especialista alerta para o fato de que profissionais que passam o dia todo sentados, seja num automóvel, seja em frente a um computador, também estão entre as maiores vítimas de dores articulares. "A posição sentada é a que mais sobrecarrega os discos intervertebrais. Sejam motoristas, executivos ou estudantes, quem passa o dia todo sentado num carro ou inclinado sobre uma mesa de trabalho certamente vai sofrer as consequências da má postura. Isso faz com que os músculos glúteos percam tônus, se enfraqueçam, e acabem aumentando os riscos para dores lombares, dor nos joelhos, rigidez no pescoço e nas costas", comenta Lafayette Lage.
A prevenção para todas essas dores, segundo o especialista, é de certa forma simples: adotar uma dieta saudável e balanceada para evitar sobrepeso; fortalecer os músculos através de exercícios físicos regulares prescritos por um ortopedista; estar atento à postura até mesmo na hora de dormir. "Quem trabalha sentado por longos períodos deveria se levantar a cada duas horas, no máximo, para restabelecer uma boa circulação sanguínea e 'acordar os músculos'. Já quem trabalha em pé o dia todo deveria tirar alguns minutos por período para fazer alongamento e descansar, sempre prestando atenção na respiração e na coluna ereta. E tem mais: nada de dormir de bruços! Quem dorme de bruços submete a articulação do pescoço a uma torção por seis, oito, 10 horas por dia. Isso, no médio prazo, faz com que a pessoa comece a sentir dores de cabeça, formigamento nas mãos e dor nas costas, ombros etc. Quem não consegue dormir de barriga para cima, que seria o ideal, deveria se forçar a dormir sempre de lado, com um travesseiro que apoie bem cabeça e pescoço", orienta o médico.
Abaixo, Lafayette Lage aponta as sete profissões que mais castigam as articulações:
Atletas profissionais
"O amor de um atleta pelo esporte e a camisa que defende às vezes é impactado por fortes dores nas articulações. Artrite nos joelhos e nos quadris é o diagnóstico de muitos desses esportistas, que correm, pulam, caem, chutam, se torcem e retorcem para atingir alta performance".
Professores ou comerciantes
"Em quem passa o dia todo em pé, seja numa sala de aula, seja atrás do balcão de uma loja, a artrite começa a se fazer presente pelos membros inferiores. Pés e pernas são os que mais sofrem no começo, mas a dor e os danos podem se estender para quadril e coluna com o tempo. Nesses casos, os saltos altos são grandes vilões".
Operários
"Não importa se a pessoa é um operário da indústria da construção ou da têxtil. Quem faz movimentos repetitivos ao longo de toda a jornada de trabalho, ano após ano, tem risco aumentado para artrose. Isso porque determinadas juntas sofrem uma pressão estressante, há um desgaste acelerado da cartilagem, e pode resultar em dores intensas".
Músicos/dançarinos
"Assim como atletas de alta performance, músicos e dançarinos se submetem a rotinas intensas de treino até atingirem a perfeição. São os movimentos repetitivos, mais uma vez, que geram estresse nas articulações. Embora muitos artistas desse nível tenham articulações soltas, elas acabam sendo castigadas pelo excesso".
Motoristas
"Nos últimos anos, o serviço de transporte em veículo particular multiplicou a quantidade de motoristas de aplicativo nas grandes cidades. O fato de passarem longas jornadas trabalhando para atingir suas metas fez com que aumentasse também as queixas de dor. A profissão de motorista, seja de automóveis, ônibus ou caminhão, impõe que a pessoa passe cada vez mais horas sentada. Além de ser terrível para pescoço e costas, muitos profissionais acabam tendo problemas de quadril porque perdem o tônus muscular e repetem inúmeras vezes ao longo do dia os movimentos de levantar e sentar".
Executivos
"Não importa a área de trabalho. Quem passa muitas horas por dia sentado à frente de um computador é um sério candidato a desenvolver artrite. Apesar de esse tipo de profissional não ter de carregar grandes pesos ou operar maquinário pesado, passar tantas horas na mesma posição certamente vai comprometer a postura e, na sequência, desencadear quadros de artrite. Essas pessoas são suscetíveis a dores nas costas, nas pernas, nos braços e no pescoço".
Dentistas e outros profissionais da saúde
"Os cirurgiões-dentistas às vezes passam duas, três, quatro horas debruçados de forma inclinada e enviesada na direção de um paciente. Neste caso, dores no pescoço, parte superior das costas e nos membros inferiores são constantes, se intensificando com o passar dos anos. Também os enfermeiros sofrem bastante com dores nas costas, já que estão sempre inclinados para medicar seus pacientes, carregam pesos bastante exagerados com frequência e cumprem longas jornadas de trabalho".