Infecções hospitalares causadas por fungos resistentes a medicamentos também estão ficando cada vez mais comuns, de acordo com o pesquisador João Nóbrega de Almeida Jr, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP). "Se existe a superbactéria, existe o superfungo também", comenta o especialista à Agência Brasil. Ele compara os fungos resistentes à superbactéria KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase).
Recentemente, Almeida publicou um artigo no jornal científico Transplant Infectious Disease sobre o primeiro caso de um paciente contaminado pelo fungo Lomentospora prolificans na América do Sul. O rapaz havia feito transplante de medula há cerca de um mês quando foi infectado pelo fungo e acabou morrendo em decorrência da contaminação.
Segundo o pesquisador, o fungo só é capaz de afetar pessoas com o sistema imunológico comprometido. No entanto, caso a contaminação aconteça, a letalidade é de mais de 80%. Como ainda existem poucos laboratórios preparados para identificar esse tipo de infecção, João Almeida acredita que possa haver casos não registrados. "Esse fungo não deve ter em grande quantidade no ambiente, como em outros países, mas também porque os nossos laboratórios não são habilitados para fazer o diagnóstico", afirma o pesquisador da USP.
Existem, entretanto, outros fungos que apresentam uma ameaça maior por poderem infectar não só pacientes com o sistema imunológico fragilizado, mas em situação delicada de internação, como em unidades de tratamento intensivo. É o caso do Cândida auris.
Tanto é que, em março de 2017, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou um comunicado de risco para esse fungo, responsável por surtos em diversas partes do mundo.
As ocorrências em países da América do Sul indicam, de acordo com João Almeida, que em algum momento o Brasil terá de lidar com o Cândida auris. "A gente está se preparando com uma força-tarefa nacional com vários pesquisadores para quando chegar esse fungo no país a gente fazer o diagnóstico correto", ressalta o cientista.
Causas
As infecções hospitalares por fungos têm se tornado mais comuns devido ao aumento da resistências de algumas variedades desses organismos. Segundo o pesquisador, há indícios que o surgimento dos fungos multirresistentes está ligado ao uso de defensivos agrícolas. "A gente acredita principalmente pelo uso de antifúngicos fora do ambiente hospitalar. Na agricultura, por exemplo, nas plantações, os fungos são os principais biodecompositores, vão destruir verduras, plantas", destaca.
As mudanças climáticas também parecem ter, de acordo com João Almeida, uma contribuição para o aparecimento de espécies que não são afetadas pela medicação existente. "O aquecimento global. As alterações climáticas vão favorecer o aparecimento de fungos que crescem em temperaturas maiores. E os fungo que crescem em temperaturas maiores são os potencialmente patogênicos, porque o nosso corpo tem temperatura de 36º C", comenta.
Apesar da expansão do problema, o cientista da USP enfatiza que não há risco para a população em geral. São os sistemas de saúde que precisam se preparar para lidar com as novas possibilidades de infecção dentro dos hospitais.
(com Agência Brasil).