Assim que a criança nasce, a fase da amamentação é uma das que mais preocupam os pais. Isso porque muitas mães não produzem (ou acreditam que não estejam produzindo) leite suficiente para manter o bebê nutrido de forma adequada. A preocupação, muitas vezes, leva os pais a buscarem alternativas conhecidas como galactagogos (que induzem a produção de leite) que podem ser medicamentos ou, até mesmo, alimentos – como canjica, milho e arroz, que, segundo a crença popular, também possuem essa propriedade.
Entretanto, de acordo com o pediatra Paulo Poggiali, coordenador de Neonatalogia da rede hospitalar Mater Dei, a prescrição de remédios galactagogos, na maioria dos casos, é desnecessária. Além disso, segundo ele, não existem estudos científicos que atestem que os alimentos também possam resolver o problema da lactação. "As medidas mais valiosas para garantir o sucesso na amamentação exclusiva com leite materno estão no uso de técnicas adequadas, como a 'ordenha' em intervalos regulares, de duas a três horas, e a translactação ", comenta o médico.
O especialista faz questão de ressaltar que essas técnicas só não surtem efeito em casos raros, quando passam a ser recomendados os medicamentos galactagogos e, mesmo assim, sempre sob prescrição médica e acompanhamento clínico rigoroso.
Sobre a suposta capacidade de alguns alimentos de estimular a produção do leite materno, o pediatra explica que essa crendice existe em várias partes do mundo e que se deve a questões culturais. "Não existem evidências científicas que relacionem alimentos a uma melhor produção de leite materno. Entretanto, as mulheres que estão amamentando não devem pensar nisso e deixar de lado a alimentação adequada em termos de qualidade e quantidade, que é muito importante", esclarece Paulo Poggiali.
Falsa impressão
De acordo com o pediatra, na maioria das vezes, a impressão das mães de que estão produzindo pouco leite é falsa, especialmente para as lactantes "de primeira viagem". "Isso, normalmente, ocorre por insegurança já que quando se trata do primeiro filho, a mulher, naturalmente, desconhece o comportamento normal de um bebê e acha que ele não está sendo alimentado corretamente", diz o médico, acrescentando, ainda, outros fatores que podem causar essa falsa impressão, como cansaço, estresse, ansiedade e dor ao amamentar.
Ele explica ainda que essas variáveis podem inibir o "reflexo de ejeção de leite", ou seja, podem passar para a mulher a falsa impressão de que não há produção suficiente, prejudicando a amamentação.
Problemas reais
Segundo Paulo Poggiali, alguns fatores podem, realmente, prejudicar na produção de leite nas mulheres:
- Desenvolvimento insuficiente das mamas durante a gestação, que costuma ocorrer por problemas congênitos da mulher
- Cirurgias mamárias anteriores ao período da gestação, principalmente a mamoplastia redutora, costuma afetar a amamentação (o aumento da mama geralmente não prejudica)
- Alterações hormonais e outras questões endocrinológicas também podem contribuir para a pouca produção de leite
O especialista ressalta que, mesmo nesses casos, as mulheres devem ser estimuladas a amamentar os bebês, podendo ser necessária a complementação com fórmulas, desde que com o devido acompanhamento médico, apoio obstétrico e, sempre que necessário, psicológico.
O coordenador de Neonatalogia do Mater Dei lembra ainda que mesmo quando a mulher produz leite normalmente, podem ocorrer problemas na extração do alimento por parte do bebê.
Para evitar problemas com a lactação, o pediatra faz as seguintes recomendações aos profissionais que trabalham nas maternidades:
- Coloque o bebê próximo ao seio materno logo após o nascimento
- Oriente a mãe sobre a maneira com a qual o bebê suga o leite
- Explicar à mãe sobre os cuidados com as mamas após a "descida" do leite, para evitar inflamações nos seios (mastite)
- Avise sobre a necessidade de restringir o uso das famosas fórmulas para suplementação do recém nascido ou substituição do leite materno (exceto em casos de absoluta necessidade)