Apesar de parecer um ato inofensivo, o consumo diário de Cannabis sativa, popularmente chamada de maconha, pode aumentar o risco de a pessoa desenvolver psicose, transtorno mental caracterizado por uma desconexão da realidade. A associação entre a droga e o problema neurológico foi descoberto por um grupo internacional de cientistas, incluindo do Brasil, e os resultados foram publicados no periódico científico The Lancet na última terça, dia 19 de março.
De acordo com a pesquisadora Marta Di Forti, da King's College de Londres, na Inglaterra, uma das autoras do novo estudo, o uso da Cannabis com elevada concentração de THC (tetraidrocanabinol, que é a substância psicoativa da maconha) causa mais danos à saúde mental do que as formas mais fracas da droga.
"Como a legalização da Cannabis vem mudando em muitos países, e como são consideradas as propriedades terapêuticas de alguns tipos da planta, é de grande importância para a saúde pública que também consideremos os potenciais efeitos adversos associados ao uso diário de maconha, especialmente de variedades de alta potência", diz a cientista, citada pelo jornal português Diário de Notícias.
O novo estudo avaliou moradores de 11 regiões da Europa e do Brasil. Primeiro, foi estimada a prevalência de psicose, identificando todos pacientes que tiveram o primeiro episódio da doença mental entre 2010 e 2015. Em seguida, os cientistas compararam 900 doentes com psicose com 1.237 pessoas saudáveis, para entender os fatores de riso associados ao problema neurológico.
Os pesquisadores também investigaram o histórico de uso de maconha e de outras drogas recreativas em todos os participantes. Além disso, foram definidos os limites de "potência" para a Cannabis: acima de 10% de THC foi considerada alta potência e abaixo de 10%, baixa potência.
O consumo diário da droga prevaleceu entre os pacientes que tiveram um primeiro episódio de psicose em comparação com as pessoas do grupo de controle. Quase 30% dos doentes relataram uso de Cannabis todos os dias, em comparação com 6,8% das pessoas mentalmente sadias.
Segundo os cientistas, o uso da maconha de alta potência (mesmo que não seja diariamente) também foi mais comum entre as vítimas de psicose do que no grupo de controle, chegando a 37,1% nos pacientes, em comparação com 19,4% no grupo sadio.
Após ajustar outros fatores de risco, o grupo internacional de pesquisadores concluiu que as pessoas que usavam Cannabis diariamente tinham três vezes mais probabilidade de sofrer um primeiro episódio de psicose do que as que nunca haviam consumido maconha. O risco é ainda maior (cinco vezes mais) quando se trata da droga de alta potência – com concentração acima de 10% de tetraidrocanabinol.
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