Revista Encontro

SAÚDE

Marcio Atalla fala sobre como fugir do sedentarismo

Educador físico, que lança no final de abril documentário sobre o tema, diz que ser magro e sedentário é pior do que ter sobrepeso e ser ativo

Marina Dias

- Foto: Washington Possato

O educador físico Marcio Atalla visitou sete países e gravou 150 horas de vídeo para ir a fundo na questão do sedentarismo no mundo atual. Conversou com pesquisadores, conheceu boas práticas individuais e políticas públicas de efeito em prol da atividade física. A preocupação tem motivos sérios. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o sedentarismo é um grande mal do século: 47% dos brasileiros em idade adulta não se exercitam o suficiente, e, em termos mundiais, o número também é alto, 27%. O estilo de vida tecnológico tem levado as pessoas a menos atividades na rotina, e por isso é preciso se programar para praticar exercícios, seja indo à academia, praticando corrida ou até se organizando para subir escadas em vez de pegar o elevador. Enquanto o documentário Vida em Movimento não é lançado (ele vai ao ar pelo canal GNT no final de abril), veja dicas do especialista para fugir dessa estatística.

 

Por que nosso corpo precisa de movimento? 

 

O corpo humano foi ficando totalmente adaptado ao movimento, por causa da evolução da espécie. Só conseguiu procriar o ser que se movimentava muito - para se deslocar, para caçar - e o nosso corpo foi ficando moldado para o movimento. Quem não não faz exercício, não é ativo, tem controle pior da glicemia, o coração é mais fraco, tem mais dificuldade de controlar pressão, etc.

Quando se movimenta, a pessoa consegue que o corpo funcione de maneira melhor.

 

Se o corpo é feito para se movimentar, porque as pessoas não se sentem sempre a fim de se exercitar? 

 

Em nenhum momento, nesses milhões de anos, o ser humano fez isso por prazer, mas por necessidade. E outra característica evolutiva que temos é a de poupar energia. Só sobreviveram os seres poupadores, os que tiveram a capacidade de estocar excesso de energia no próprio corpo em forma gordura. Além disso, o homem automatizou as coisas. Quando fazemos algo pela primeira vez, demoramos para aprender, gastamos muita energia. Depois, fazemos sem pensar. E 90% das atividades do dia já estão automatizadas, sendo que, por muito tempo, o que fazíamos para nos movimentar entrava nesse número. Agora, está nos 10% de coisas que temos que decidir fazer, nos esforçar para fazer.  

 

É a famosa lei do menor esforço?

 

Sim. O automático é escolher o pouco movimento. Por isso é tão difícil, mesmo tendo a informação da importância de se exercitar, optar pela atividade física. Por exemplo: quando chega no shopping e estaciona, a primeira decisão da pessoa é ir até a entrada mais próxima. O cérebro é condicionado a poupar energia. E antigamente você já era ativo sem ter que pensar em ir fazer caminhada.

Inclusive em relação ao trabalho. Hoje menos dos 10% das profissões permitem à pessoa dar 10 mil passos por dia. Até o final da década de 1980, a grande maioria permitia.

 

Quais são as principais consequências do sedentarismo?

 

Diabetes, câncer, doenças cardiovasculares, pressão alta, depressão, e problemas de autonomia no final da vida. Na Coreia do Sul, perceberam há muito tempo que as pessoas que caminhavam mais no seu dia a dia viviam mais. Mas também viviam melhor os últimos anos. Lá, o tempo de pouca autonomia no final da vida é de 3 anos. No Brasil, são 11 anos. 

 

- Foto: Studio Gaea

Quais as melhores alternativas individuais para fugir do sedentarismo com que teve contato?

 

Tem um movimento de pessoas que se organizam hoje para ir caminhar dentro dos shoppings, onde tem ar condicionado, segurança, não tem buracos nas ruas, é plano. Foi um jeito de as pessoas se exercitarem. Nos Estados Unidos, é uma tendência trabalhar seis, dez minutos em pé, a cada hora. Isso porque as pessoas passam de oito a dez horas sentadas por dia, e pesquisas mostraram que quem diminuiu o tempo sentado ao longo do dia conseguiu resultados eficientes em perda de peso e controle de pressão.

Outra boa sugestão, sem dúvida, são as escadas. Fazer pequenas quantidades de andares várias vezes ao dia é uma excelente opção.


Entre se exercitar e comer melhor, a atividade física tem mais impacto positivo?  

 

É melhor ter sobrepeso e ser ativo do que ser um magro sedentário. E mais, o que é comer bem? O único consenso que se tem hoje na alimentação, pesquisando os locais onde as pessoas mais vivem no mundo, é que se deve comer menos. Nos lugares onde se vive mais, a quantidade de calorias consumidas é de 10 a 15% menor do que a média mundial. No mais, o importante é a educação. A questão é saber escolher: posso comer melhor em rede de fast food do que uma pessoa no restaurante por quilo, se eu tiver informação. O sistema de rotulagem, nesse sentido, é importante, porque obriga a indústria a melhorar a qualidade do produto, cria uma comparação. 


Quais as dicas para quem quer efetivamente criar o hábito de se exercitar?

 

Fiz essa pergunta para uma neurocientista no documentário, e ela disse que há dois segredos para o exercício se tornar um hábito: não se preocupar, inicialmente, com intensidade e complexidade da atividade, mas sim com regularidade. É preciso mantê-lo, pelo menos cinco vezes na semana, por três meses. Então escolha algo que você consiga fazer com essa frequência, sempre no mesmo horário. Pode ser dançar em casa por cerca de dez minutos depois do trabalho. É pouco tempo, mas se consegue fazer todo dia, pode ser isso mesmo. Com o tempo, evolui. E a segunda maneira é trabalhar no que ela chama de ciclo anseio-recompensa. É se premiar a cada vez que cumpre uma tarefa, com algo que você goste, que te faça feliz. Um passeio de fim de semana… se for comida ou bebida, que seja em porções pequenas!

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