O câncer de mama é o tipo de tumor mais prevalecente entre as mulheres – dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam 1,5 milhão de vítimas desse tumor anualmente em todo o mundo. Um estudo apresentado durante o encontro anual da Sociedade Endócrina dos Estados Unidos, em março deste ano, mostra que restringir os horários das refeições, permitindo a ingestão de alimentos dentro de um período de oito horas diárias, ajudaria a acelerar o metabolismo corporal e, com isso, reduzir drasticamente o sobrepeso e a possibilidade do aparecimento do câncer de mama em mulheres que estão no período pós-menopausa.
A pesquisa inicialmente avaliou o comportamento de ratos obesos submetidos à limitação no horário de acesso à comida. O efeito "anti-tumor" seria justificado pela redução nos níveis de insulina no sangue, promovendo uma resposta efetiva tanto na prevenção quanto na melhoria das respostas ao tratamento do câncer de mama, segundo o pesquisador Manasi Das, da Universidade da Califórnia (EUA), um dos autores do estudo, em palestra realizada no evento.
Para o oncologista Daniel Gimenes, do Grupo Oncoclínicas de São Paulo (SP), ainda é cedo, contudo, para assegurar a eficácia desse tipo de medida, já que não foram realizados testes em humanos. "Apesar de ainda tratarmos como uma hipótese, é fato que existem diferentes maneiras pelas quais a obesidade pode aumentar os riscos de câncer nas mulheres. Essa nova pesquisa mostra que, assim como outros cientistas já vinham apontando, estabelecer uma janela de tempo reduzida para o consumo de alimentos é efetivo para manter baixos os níveis de insulina no corpo. Quando isso ocorre, as nossas células de gordura começam a queimar o estoque de açúcar como fonte de energia. Assim começa a acontecer a perda de peso", comenta o especisalista.
O médico lembra que mais do que pensar nos períodos adequados para o consumo de refeições, é importante pensar em políticas públicas focadas na orientação sobre hábitos alimentares pouco saudáveis, como ingestão de gorduras, açúcares e produtos industrializados em excesso. "Fast-food, salgadinhos, embutidos, refrigerantes e alimentos ultraprocessados em geral são responsáveis pelo aumento da incidência de sobrepeso e obesidade entre a população do mundo todo, inclusive no Brasil. Estes fatores elevam os riscos de incidência de câncer e devem ser diretamente evitados em todas as fases da vida e independentemente do gênero", afirma o médico.
Uma outra pesquisa, realizada no final de 2016 pelo Cancer Research, do Reino Unido, constatou que três em cada quatro pessoas desconhecem a relação entre o excesso de peso e o diagnóstico de ao menos 10 tipos de câncer, incluindo de esôfago, vesícula, fígado, pâncreas, rins, intestino, útero, ovário, mama e próstata.
O estudo destaca ainda que indivíduos de com menor poder econômico, especialmente os homens, representam a maior parte do público que desconhece os riscos aumentados de desenvolver tumores em decorrência da obesidade e que justamente mais sofre com excesso de peso.
No Brasil, segundo os dados mais recentes do IBGE, quase 60% da população está acima do peso. Um levantamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) aponta que pelo menos 15 mil casos de câncer registrados por ano no país – 3,8% do total – poderiam ser evitados se houvessem medidas de controle do sobrepeso e da obesidade.
"A obesidade é a segunda maior causa evitável da doença, perdendo apenas para o tabagismo. E além do câncer, vale lembrar que problemas como diabetes, acidente vascular cerebral [AVC] e doenças cardiovasculares podem ser evitadas a partir de medidas simples para controle desse excesso de quilos", diz Daniel Gimenes.
O oncologista reforça que manter uma alimentação equilibrada é a chave para a diminuição da progressão dos casos de câncer. "A dieta saudável é aquela que o indivíduo tem a orientação de um nutricionista ou nutrólogo e que tenha um cardápio composto de alimentos integrais, frutas, verduras, proteínas de carne branca, além de limitar o consumo de carne vermelha, processadas, defumadas e a ingestão de bebidas alcoólicas", completa o especialista.