Se os brasileiros mudassem alguns hábitos na vida, poderiam reduzir em um terço as mortes causadas por 20 tipos de câncer. Cigarro, álcool, excesso de peso, alimentação ruim e falta de atividade física são fatores de risco associados a 114 mil casos da doença e 63 mil mortes (34% do total) por ano no país. Os dados, publicados na revista científica Cancer Epidemiology, fazem parte de um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
O levantamento aponta, por exemplo, que a incidência de câncer de pulmão, de laringe, de orofaringe, de esôfago, de colón e de reto poderia ser reduzida pela metade caso esses cinco fatores de risco fossem eliminados. O pesquisador Leandro Rezende, um dos autores do estudo, destaca que não se conhece outra forma de prevenir tantos casos. "O que nos surpreende é a magnitude de casos e mortes que a gente conseguiria evitar a partir da redução desses fatores de risco. Esse número deve chamar atenção para políticas públicas de redução do risco de câncer no Brasil", comenta o cientista em entrevista para a Agência Brasil.
Estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) indica que, em 2025, os casos de câncer cresçam em até 50% no Brasil em decorrência do aumento e do envelhecimento da população. Atualmente, a doença é a segunda causa de morte no país.
O levantamento da USP, contudo, aponta que, além das mudanças na estrutura populacional, o aumento da prevalência desses cinco fatores de risco no estilo de vida do brasileiro pode representar novos desafios para o controle do câncer no país.
Os pesquisadores traçaram estimativas de redução da doença caso esses fatores sejam reduzidos. "Trabalhamos com algumas metas ou recomendações que são mais plausíveis de serem atingidas em nível populacional e que estão presentes em alguns documentos e recomendações por agências internacionais", diz Leandro Rezende.
Foi considerado o seguinte cenário: o consumo de álcool com uma redução relativa de 10%; uma diminuição de um kg po m² no índice de massa corporal (IMA) na média da população; uma dieta de cálcio de 200 mg a 399 mg por dia; e a redução de 30% na prevalência do consumo de tabaco.
Essas alterações, do ponto de vista populacional, poderiam evitar 19.731 casos de câncer (4,5% dos casos) e 11.480 mortes (6,1%).
Metodologia
A pesquisa da USP partiu do consenso na literatura científica de que cinco fatores de risco – tabagismo, consumo de álcool, excesso de peso, alimentação não saudável e falta de atividade física – estão associados a 20 tipos de câncer.
O que o novo estudo fez foi calcular a fração atribuível populacional da doença relacionado a dados populacionais sobre o IMC elevado, consumo de cigarro, álcool, prática de atividade física e informações sobre a alimentação.
Os dados sobre a distribuição dos fatores de risco do estilo de vida foram calculados a partir da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2013, para estimar consumo de álcool, índice de massa corporal, consumo de frutas e hortaliças, atividade física, tabagismo e fumo passivo entre não fumantes no Brasil.
Foi utilizada também a Pesquisa Nacional de Orçamentos Familiares (POF), realizada entre 2008 e 2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para obter o consumo alimentar de fibras, cálcio, carne vermelha e processada.
(com Agência Fapesp e Agência Brasil)
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