No entanto, as orientações sobre o uso de máscaras por pessoas saudáveis não são claras, variam de organização para organização, de especialista para especialista. Nem a própria Organização Mundial da Saúde é direta em relação ao tema. São várias as questões envolvidas, desde os custos, passando pela necessidade de uso correto dos equipamentos de proteção individual (EPIs) para que sejam efetivos, até a quantidade de máscaras de proteção respiratória descartáveis - como a cirúrgica ou a N95 - disponíveis no mercado.
Orientar que todos usem máscaras em um momento em que há falta no mercado inclusive para profissionais da saúde pode comprometer o combate ao novo coronavírus, visto que enfermeiros, médicos, técnicos de enfermagem, entre outros, ficam na linha de frente, cara a cara com os vírus, o dia todo. "Alguns organismos da saúde, como a Organização Mundial da Saúde ou o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos, têm recomendado que o uso de máscaras deve ser feito por pessoas com sintomas respiratórios ou por profissionais de saúde", explica o médico Daniel Knupp, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. "Mas nota-se que essas recomendações têm se baseado mais em uma análise de disponibilidade das máscaras, considerando que existem em número insuficiente para o uso em geral, do que em uma análise baseada na proteção que elas podem oferecer", completa.
A infectologista Silvana de Barros Ricardo, coordenadora do serviço de controle de infecção hospitalar da Rede Mater Dei de Saúde, explica que em casos de disseminação comunitária, como já é a realidade de Belo Horizonte, tem-se recomendado o uso de máscaras. "É uma questão complexa, mas, quando se tem disseminação comunitária, tem-se pessoas assintomáticas portando o vírus. Nesses casos, a tendência atual tem sido que sim, o público geral poderia ganhar proteção adicional com esse uso", afirma.
Contudo, ela também ressalta que as máscaras que fazem parte do EPI dos profissionais de saúde devem ser prioritárias a essas pessoas. "Como a exposição na comunidade é baixa, já que estamos com política de distanciamento social em BH já consolidada, a recomendação é a máscara de confecção doméstica", diz Silvana.
A máscara de pano, feita em casa, protege muito menos do que a cirúrgica ou a N95. E quem não apoia seu uso argumenta que pode dar a sensação, a quem a estiver portando, de que é um item que garante sua proteção (e então essa pessoa poderia relaxar com as demais -e mais importantes - medidas, como lavar as mãos, evitar sair de casa). "A máscara de pano protege e filtra bem pouco, é verdade. Ainda assim, alguns estudos conseguem demonstrar que o uso delas pode fazer alguma diferença na redução da incidência das doenças respiratórias durante epidemias", afirma Daniel.
O que é consenso para especialistas são as orientações para quem decidir usar a máscara de pano: a necessidade de se confeccionar as máscaras de acordo com as técnicas corretas, o uso e manuseio do equipamento da forma certa, a higienização imediata e profunda da máscara e a importância de não se descuidar das demais medidas de proteção e prevenção.
Dicas sobre as máscaras de proteção contra infecção e transmissão do novo coronavírus:
- A máscara deve ter duas camadas de pano, além de elásticos ou tiras para amarrar acima das orelhas e abaixo da nuca (para proteger a boca e o nariz)
- Ela é de uso individual, não pode ser dividida com ninguém, mesmo que da família
- Cada máscara de pano pode ser usada apenas por 2 horas
- Ao sair de casa, leve máscara reserva e uma sacola para guardar a usada
- Independentemente do tipo de máscara, é preciso saber colocar e tirar: o lado de fora deve ser considerado contaminado, não deve ser tocado. Use a tira ou elástico para colocar e retirar
- Coloque a máscara, com as mãos limpas, ainda em casa, antes de sair. Não toque mais nela. Quando chegar, lave as mãos, retire-a, higienize imediatamente, e lave as mãos
- Lave com água sanitária e deixe de molho por 10 minutos, lave com água e sabão, passe com ferro. Ela deve estar seca para ser usada novamente
- A máscara deve ser descartada assim que apresentar sinais de desgaste
Fonte das dicas: Ministério da Saúde e especialistas consultados
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