A Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizou suas diretrizes sobre o consumo de gorduras, açúcares e carboidratos com a finalidade de colaborar para a redução do risco de sobrepeso e obesidade e doenças não transmissíveis relacionadas. Cientificamente comprovado, a ingestão excessiva desses itens favorece o desenvolvimento de alguns tipos de câncer, entre eles, o gástrico.
"Uma dieta rica em carne vermelha, alimentos ultraprocessados, como embutidos e defumados, álcool e sal, e pobre em frutas e vegetais, associada ao tabagismo e sedentarismo são os principais fatores de risco do tumor gástrico, bem como infecção pela bactéria Helicobacter pylori e pelo vírus Epstein-Barr, doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e esôfago de Barrett. Há também um risco aumentado para pessoas com algumas síndromes genéticas, com polipose adenomatosa familiar e as síndromes de Li Fraumeni e Lynch de Peutz Jeghers", esclarece Juliano Dazzi Rigoni, oncologista do Grupo de Tumores do Trato Gastrointestinal do Hospital Vila da Serra.
No Brasil são estimados 21.480 casos de câncer de estômago para cada ano do triênio 2023-2025, segundo o INCA, mas apesar da sua prevalência na população idosa, o oncologista alerta para o aumento da incidência da doença em pacientes abaixo de 50 anos. "Essa mudança de perfil etário deve-se à disbiose do microbioma gástrico (alteração da microbiota intestinal) secundária ao uso excessivo e indiscriminado de antibióticos ao longo da vida, causando gastrites atróficas e aumentando o risco de desenvolvimento dos tumores", comenta.
De acordo com Juliano Dazzi Rigoni, o tumor gástrico pode levar décadas para se desenvolver e é assintomático em estágios iniciais. "É uma neoplasia insidiosa e progressiva, que começa com lesões nas células gástricas, gerando displasias e metaplasias, até evoluir para lesões pré-malignas e os tumores propriamente ditos. Normalmente, em pacientes jovens e portadores de síndromes genéticas o câncer de estômago cresce mais rápido, em poucos anos. Os sintomas variam de acordo com a região gástrica acometida: epigastralgia (dor de estômago), pirose (queimação), náusea ou vômitos, sensação de "empachamento/indigestão" (retenção do alimento por um tempo prolongado no estômago). Em fases mais avançadas, os sinais são perda de peso, astenia (fadiga), sensação de saciedade precoce e anemia", afirma.
Seja qual for o indício, o médico ressalta que é fundamental passar por uma avaliação médica. "Posteriormente à identificação de fatores de risco e ao exame físico é feita uma endoscopia digestiva alta seguida de biópsia. Confirmado o câncer de estômago, são realizados exames complementares para estadiamento tumoral, como ecoendoscopia, tomografia, ressonância, PET-Scan e laparoscopia", descreve.
A boa notícia é que a medicina de precisão permite tratamentos individualizados para os diferentes estágios da doença. "Até poucos anos atrás, as terapêuticas eram limitadas à cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Recentemente, estudos mostraram benefícios na incorporação de novas terapias, como a imunoterapia (Pembrolizumabe, Nivolumabe) para pacientes expressores de PDL-1, terapia direcionada anti-HER2 (trastuzumabe, trastuzumabe + deruxtecan), e as terapias alvo-direcionadas para fusões em N-TRAK (larotrectinibe, entrectinibe), pacientes alto expressores da proteína Claudina 18.2 (Zolbetuximabe), além da indicação já consolidada da imunoterapia Pembrolizumabe para portadores de instabilidades de microssatélites ou TBM-high (alta taxa de mutações no DNA de células tumorais)", conclui Juliano Dazzi Rigoni.