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Fevereiro Laranja: jovem celebra vida após transplante de medula óssea

Psicóloga teve falência parcial dos rins e do fígado, além de perder os movimentos do corpo e a fala. Hoje, toca piano, faz academia e celebra renascimento


postado em 25/02/2025 10:36 / atualizado em 25/02/2025 10:37

Mariana e sua mãe, Norma:
Mariana e sua mãe, Norma: "Ela está totalmente curada. Foram vários milagres em apenas 9 meses" (foto: Arquivo pessoal)
Dos tipos de câncer que afetam o sangue, a leucemia é a mais conhecida. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa para 2025 é de 11.500 novos casos no Brasil. A campanha Fevereiro Laranja traz conscientização sobre a doença e a importância do diagnóstico precoce para o sucesso do tratamento. Conheça a história da psicóloga Mariana Cunha Gonçalves, de 24 anos, diagnosticada em março de 2021 e transplantada em junho do mesmo ano.

"Tudo começou com uma dor de garganta, em plena pandemia da Covid-19 e a suspeita era uma infecção pelo coronavírus. A dor era intensa e foi ficando insuportável com o decorrer dos dias", contou Mariana. Foi um hemograma (exame de sangue) que ascendeu o alerta. No mesmo dia, para confirmar a suspeita, a equipe médica do Hospital Mater Dei Contorno sugeriu um exame chamado Mielograma, que coleta um pedacinho do osso e líquido da medula óssea. Em dois dias chegou o diagnóstico de Leucemia Mieloide Aguda. O diagnóstico foi rápido. Até o dia do transplante foram apenas 3 meses, mas pareceu uma eternidade. "Depois do transplante, eu passei por um tratamento desafiador. Agora estou bem, curada, trabalhando para publicar um E-book chamado Saúde Mental e a vida está voltando ao eixo", comemorou ela.

O tratamento começou no mesmo dia no Hospital Integrado do Câncer Mater Dei, com quimioterapia de indução, enquanto exames detalhados avaliavam a necessidade do Transplante de Medula Óssea (TMO). No câncer, cada minuto conta. Nesse caso, o tratamento envolveu várias etapas de quimioterapia.

"O diagnóstico da leucemia aguda é feito por meio de uma combinação de exames clínicos e laboratoriais, incluindo: hemograma, estudo da medula óssea, citogenética e biologia molecular, exames de imagem entre outros"

Priscila Arcebispo Léo, hematologista do Mater Dei

Mãe da paciente, Norma Gazire Cunha conta que, na primeira fase do tratamento, ficaram internadas por 64 dias, sem sair do hospital ou receber visitas, devido à imunidade baixa e à pandemia. Os exames confirmaram a necessidade do TMO. A Unidade de Transplante de Medula Óssea (TMO) do Hospital Mater Dei iniciou a busca por um doador compatível no banco de medula óssea, sem sucesso. A equipe testou a irmã, mas não houve compatibilidade. Tentaram então o pai, que foi compatível em 50%. "Se não aparecesse um doador com compatibilidade maior, ele faria a doação", explicou Norma. "

Depois de mais de dois meses de internação, a família foi para casa já com pedido para consultas médicas de todas as especialidades para os exames pré-transplante. "Nós estávamos animadas e esperançosas. Internamos novamente para nova fase de quimioterapia antes de receber o transplante. Eram muitos cuidados. Só alimentação do hospital, só roupas do hospital. Foram dias de muita restrição. Mas a queda de cabelo, por exemplo, se tornou o menor dos problemas, diante de tudo", contou.

Até que o esperado dia 23 de junho chegou para Mariana receber a nova medula do pai. "É como se o paciente estivesse recebendo uma bolsa de sangue. A infusão da Mari foi bem tranquila, não teve nenhuma intercorrência durante a infusão. A próxima etapa era aguardar a "pega" da Medula. Enquanto isso, mais quimioterapia e muitos cuidados, já que o paciente fica sem imunidade", explicou a mãe. "Tudo estava correndo muito bem, a Mari estava muito animada, forçava para se alimentar, para ajudar a medula a se nutrir, fazia as caminhadas no corredor do hospital, até que um dia ela acordou com uma dor insuportável", lembrou a mãe.

Mariana durante período de tratamento da leucemia(foto: Arquivo pessoal)
Mariana durante período de tratamento da leucemia (foto: Arquivo pessoal)
Os rins e o fígado tinham parado de funcionar, devido à toxicidade das quimioterapias.  Além disso, houve uma sepse, quando substâncias químicas liberadas na corrente sanguínea para combater uma infecção desencadeiam uma inflamação em todo o corpo. Vinte dias após o transplante, houve a confirmação que a medula havia pegado. A paciente seguia sedada e entubada tratando dos órgãos vitais que haviam parado.

"Esse foi o nosso primeiro milagre de muitos que ocorreram no caso dela. Aos poucos os medicamentos foram fazendo efeito e a Mari foi extubada. O desafio era voltar a andar novamente, parar com a hemodiálise. Outro milagre foi quando as funções renal e hepática se normalizaram sem sequelas. Mas surgiram outros desafios: hemorragia nos olhos e água no pulmão", relatou a mãe. Após os tratamentos, mais uma alta hospitalar, que durou apenas uma semana e uma nova internação por conta de crises convulsivas repetitivas que deixou sequelas: Mari não andava, perdeu os movimentos das mãos e não falava. Mas tudo isso também foi superado.

O verdadeiro milagre foi quando as plaquetas do sangue da Mariana se normalizaram além da expectativa dos médicos. "Esse milagre eu atribuo a Nossa Senhora, Santa Dulce e Carlo Acutis, protetor dos jovens com leucemia", reforçou a mãe.

"Esperança, persistência, luta pela vida, estudos e esforços não faltaram da parte de ninguém, nem da nossa família e nem da equipe do hospital"

Norma Gazire Cunha, mãe da Mariana

"Ela está totalmente curada. Foram vários milagres em apenas 9 meses. Aliás, eles acontecem em todos os dias, porque cada dia ela está se restabelecendo melhor. Ela foi tratada pelas equipes da Hematologia, Nefrologia, Hepatologia, Pneumologia, Neurologia, Cirurgia Vascular, Fisioterapia e Fonoaudiologia. Ela já teve alta de todas as especialidades médicas e faz consultas de retornos e exames de acompanhamento", comemorou a mãe Norma.

Hoje, Mariana leva uma vida normal. Após os 9 meses de idas e vindas ao hospital, ela concluiu o curso de Psicologia na UFMG em 2022 e se dedica à escrita de e-books na sua área de formação. O piano tem auxiliado juntamente com as sessões de Terapia Ocupacional para reabilitação total das mãos.

A médica hematologista e coordenadora da Unidade de Transplante de Medula Óssea do Mater Dei Contorno, Priscila Arcebispo Léo, explica que a Leucemia Aguda é um tipo de câncer que afeta as células do sangue, caracterizando-se pela proliferação descontrolada de células imaturas na medula óssea.

Segundo a médica, os sintomas surgem devido à substituição das células saudáveis da medula óssea por células cancerosas. "Os principais sinais e sintomas incluem fadiga e fraqueza (devido à anemia por falta de glóbulos vermelhos), infecções frequentes (devido à redução de glóbulos brancos funcionais, sangramentos e hematomas (devido à baixa contagem de plaquetas), febre sem causa aparente, dor óssea ou articular, aumento de gânglios linfáticos, baço ou fígado, palidez cutânea, perda de peso e sudorese noturna", pontuou a especialista. De acordo com ela, devido os sintomas serem inespecíficos, às vezes o paciente pode demorar a procurar atendimento médico. Daí a importância da campanha de conscientização para um diagnóstico precoce.

Para completar, Priscila Arcebispo explica que o tratamento da leucemia aguda é geralmente intensivo e depende do tipo, idade do paciente e condições clínicas. "As principais abordagens incluem quimioterapia, transplante de medula óssea, terapias-alvo, imunoterapia  e cuidados de suporte que incluem transfusões de sangue, antibióticos para infecções e medicamentos para controlar sintomas", disse a médica. O principal conselho da hematologista é que seja dada atenção aos sinais que podem ser indícios da doença.

Em resumo, a leucemia aguda é uma doença grave, mas com avanços no diagnóstico e tratamento, muitas pessoas alcançam a remissão ou cura, especialmente quando o diagnóstico é precoce e o tratamento é iniciado rapidamente. 

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